Ator, dramaturgo e diretor, Adanilo é um manauara tem mais de dez anos de trabalho nas artes que levam a Amazônia para o mundo. Também é escritor, vertente natural de quem trabalha com o teatro, sendo co-autor do livro ‘Outras Dramaturgias’ e autor de ‘Dramaturgia Galerosa’. É na arte que ele expõe com sua voz algo que sabe bem: o ser amazônida.
Após viver Deocleciano na novela ‘Renascer’, da TV Globo, Adanilo realizou um feito que gerou o sentimento de pertencimento aos amazonenses na novela que participou logo em seguida, ‘Volta por cima’. Ele foi um motorista de ônibus no subúrbio do Rio de Janeiro. Mas um motorista motorista manauara raiz, com direito à camisa de time local, gírias que muita gente não conseguia entender e um carisma que rendeu inclusive memes na internet.
A força da arte como instrumento de transformação social é percebida neste artista indígena em tudo que se propõe. Por isso ele também é uma voz que busca mostrar a força da Amazônia.
Por sua trajetória, Adanilo foi um das convidados da Glocal Amazônia 2025 em Manaus (AM). O evento voltado à sustentabilidade e ao futuro das novas gerações amazônidas contou com a participação do ator no dia 29, dia dedicado ao tema “Escolas e Universidades”.
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Hoje é reconhecido por seu trabalho no teatro, no cinema e nas novelas, e destacou que suas trajetórias pessoal e profissional estão diretamente ligadas ao fortalecimento da identidade amazônica e indígena, refletindo também os debates urgentes sobre meio ambiente e o futuro da Amazônia.
Nesse contexto, Adanilo foi um dos destaques do painel ‘Da Amazônia para o Mundo – Arte e Cultura como Potência Global’. Sob o ponto de vista de sua arte, o ator destacou como ela tem potencial para transformar realidades, conscientizar e gerar impacto social e ambiental.
Além disso, o artista ressaltou o papel da cultura na valorização da identidade, da natureza e na educação, reforçando a importância do protagonismo amazônico nas narrativas nacionais e internacionais.
“Eu sou uma pessoa que foi transformada pela arte. Sou nascido e criado no bairro da Compensa [em manaus], e até os 20 anos eu nunca tinha ido ao teatro. E por aí dá para gente entender que existe uma realidade paralela e esse acaba sendo um desafio também como artista, né? Como eu, agora trabalhando com teatro e cinema há um tempo, consigo levar minha arte para as pessoas e transformá-las?”, refletiu Adanilo.

O artista ressaltou que, desde 2015, quando se reconheceu como indígena, passou a direcionar suas produções a narrativas que valorizam o Amazonas. Suas criações passaram a dialogar com histórias amazônicas, com os povos originários e com a necessidade de preservar a floresta.
“Eu acho que é quase impossível produzir arte na Amazônia que não esteja ligada à natureza. De algum jeito, tem até um desafio de como fazer isso sem estigmatizar, sem estereotipar. E isso só acontece de forma verdadeira quando nós mesmos protagonizamos nossas narrativas”, completou.
Sustentabilidade em cena
O artista reforça a proposta da Glocal Amazônia, que nesta edição também voltou seu olhar para a educação ambiental e cultural das novas gerações. Com a COP 30 se aproximando, debates como esse ganham ainda mais relevância, colocando a Amazônia no centro das discussões sobre clima, biodiversidade e futuro sustentável.
Adanilo citou exemplos práticos de como pequenos gestos artísticos podem provocar grandes reflexões, como o dia que um amigo o questionou sobre o uso de um “suco de morango” em uma peça teatral, em vez de frutas regionais como o taperebá ou o cupuaçu.

O ator ressaltou como a arte, ao dar visibilidade para esses detalhes, torna-se ferramenta poderosa de transformação:
“Eu acho que a arte é uma lupa, já que quando você faz um filme, uma peça de teatro, um quadro ou um espetáculo de dança, você está fazendo um recorte de uma realidade. É uma lupa, você está ampliando aquela visão de mundo, direcionando pautas importantes”, declarou.
Representatividade como espelho
Além de sua atuação nos palcos, Adanilo ressaltou a importância da televisão como meio de popularização cultural, já que ao levar expressões e símbolos amazonenses para seus personagens em novelas, gerou identificação imediata com o público.
“A gente foi fazer o lançamento de ‘O Último Azul’, meu último filme, em Manacapuru, e dezenas de pessoas vieram me agradecer pelo simples fato de eu ter usado a camisa do Princesa do Solimões, que é um time de lá. Então, você vê que a gente está a fim de ser representado e de se enxergar assim”, afirmou.
O artista levantou ainda a questão de como a Amazônia sempre foi retratada pela arte nacional e internacional quase sempre de maneira estereotipada e sem participação direta dos amazônidas: “Não tem mais essa de fazer uma obra que fale sobre a Amazônia, sobre o nosso território, sem a gente”.

Arte como educação
Adanilo reforçou a necessidade de pensar a arte também como ferramenta educacional. Defensor de uma “educação horizontal”, ele acredita que encontros como o da Glocal Amazônia fortalecem a formação de cidadãos conscientes e engajados.
“Eu acredito numa educação horizontal. A arte, com o propósito de educação também, acho muito forte. A gente ajuda a formar cidadãos, a formar pensamentos, ideias. Então, eu acho muito potente. E encontros como esse fortalecem ainda mais isso”, afirmou.
Glocal Experience Amazônia 2025
A Glocal Experience Amazônia 2025 é idealizada e operada por DreamFactory, com realização da Fundação Rede Amazônica e tem o apoio de Bono Conta, Clube POP, Amazônica Net, Águas de Manaus, Agência Amazonense de Desenvolvimento Cultural (AADC), Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) e Governo do Amazonas.
