Criação e troca de figurinos do FAO. Foto: Diego Andreoletti/Amazon Sat
Apesar de essencial, a música não é o único elemento que integra uma ópera. Na 26ª edição do Festival Amazonas de Ópera (FAO), componentes como a cenografia, visagismo e os figurinos fazem parte da ambientação.
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Os figurinos são elementos que auxiliam na construção dos personagens e do contexto histórico da ópera, como por exemplo a época em que se passa a obra ou o status social dos personagens, promovendo uma imersão na narrativa da ópera.

Neste ano, o FAO apresenta ‘As bodas de Fígaro’, ópera em quatro atos composta por Mozart, com estreia em 1º de maio de 1786 e que satiriza hábitos da nobreza. A ópera-bufa (comédia) se inspira em eventos e locais de Sevilha, na Espanha.
A responsável por assinar os figurinos do festival, conhecido internacionalmente e apreciado por fãs e críticos de ópera, é a amazonense Melissa Maia, que atua há 15 anos como figurinista.

A história de Melissa é conectada com o festival, pois, segundo ela, foi assistir uma ópera no FAO que a motivou a se tornar figurinista.“Eu assisto o festival desde 2001, então eu tinha 11 anos e hoje em dia eu trabalho já há 15 anos como figurinista. A primeira ópera que eu assisti no Festival Amazonas de Ópera fez-me descobrir que eu realmente queria ser figurinista. Então a minha carreira e o festival cresceram ao mesmo tempo. Para mim, é um privilégio poder estar trabalhando nesse evento tão importante”, pontua.
Desenvolver os figurinos de uma ópera exige tempo, estudo e muita parceria. Melissa explica que o processo de criação começa com uma profunda pesquisa histórica e dramatúrgica: “A gente faz a decupagem da ópera, lê o libreto, estuda os personagens. Tudo isso em sintonia com o cenário e a direção”.

A ópera no geral exige um cuidado mais especial com tecidos, acabamento e até o contexto. Contudo, nessa montagem, Melissa utilizou uma abordagem mais contemporânea, ainda que preservasse o espírito do século XVIII, época da composição original.
“É como se fosse uma versão moderna com um perfume de época”, descreve. Isso trouxe desafios específicos, especialmente na escolha dos tecidos. “Figurino de época costuma ser quente e aqui temos que considerar o clima. Pensamos em tecidos mais leves, mas que ainda entreguem a estética necessária”.
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Nos bastidores
O glamour do palco esconde uma coreografia de bastidores igualmente impressionante. Melissa ressalta que o figurino não é obra de uma só pessoa: “Tem produtor, costureiras, camareiras, aderecistas, contrarregras… É uma grande engrenagem”.

Com oito camareiras atuando nesta produção, as trocas rápidas de roupa são cronometradas. “A gente tem uma equipe que faz toda essa logística de troca. Obviamente temos ensaios para fazer esses testes e ver o que funciona mais. Mas, no geral, tudo depende da equipe e do momento do espetáculo. Tem o stage manager [gerente de palco] que dá o sinal e sabemos quanto tempo a troca terá: dois, cinco minutos. A gente sabe mais ou menos o tempo e faz uma coreografia nos bastidores para organizar essa montagem”, revela.
Texturas, luzes e adaptações
Um dos diferenciais é a atenção aos detalhes técnicos. No Teatro Amazonas, um dos maiores desafios é adaptar o figurino à iluminação intensa e ao calor, segundo a estilista. Ela conta que o figurino de cena precisa ter textura, volume e camadas. “A luz exige acabamento, senão a gente perde toda a riqueza visual”, conta.

Mesmo com a experiência acumulada, os imprevistos fazem parte da rotina. “Perrengue sempre tem. A ópera é uma obra viva, em constante transformação. Até a pré-estreia, ajustes acontecem. Durante os ensaios, fico na plateia anotando tudo que ainda podemos melhorar”, expõe.
Para Melissa, o figurino mais marcante é sempre o mais recente. “Os figurinos do Conde e da Condessa têm um lugar especial. Me dediquei muito a eles”, revela.
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Ópera em Rede
O Ópera em Rede é um projeto que tem como objetivos democratizar o acesso à música lírica e a valorização da cultura amazônica, realizado pela Fundação Rede Amazônica (FRAM), com o apoio de: Agência Amazonense de Desenvolvimento Cultural (AADC), Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Amazonas (SEC-AM), Governo do Amazonas e Amazônica Net.
