A Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) delimitou mais um marco histórico em sua atuação com os povos originários ao empossar a professora Eliane Boroponepá Monzilar como coordenadora da Licenciatura Intercultural Indígena. O evento de posse aconteceu na Faculdade Intercultural Indígena (Faindi), no Câmpus de Barra do Bugres, nesta quarta-feira (17).
Formada pela primeira turma da Faindi em 2006, Eliane é mestre em Desenvolvimento Sustentável junto a Povos de Terras Indígenas e doutora em Antropologia pela Universidade de Brasília (UnB).
Atuando de fato na coordenação desde novembro de 2023, a posse foi possível com a cedência da Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso (Seduc-MT), órgão de lotação da professora da educação básica. Ela também é professora colaboradora do mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ensino em Contexto Indígena Intercultural (PPGecii) da Unemat.
“Sou a primeira indígena a ocupar este espaço na Faindi. Esperamos que este leque se expanda para que não apenas eu, mas outros parentes possam estar neste mesmo espaço para contribuir com a luta dos povos originários. A persistência e a luta podem nos levar a qualquer espaço e a diversos horizontes”.
Este discurso de Eliane foi incentivador para os 41 povos indígenas entre os 46 do Estado atendidos pela Unemat em seus cursos de licenciatura, bacharelado e mestrado.
Monzilar se dirigiu às representantes do Executivo estadual, professora Rute Ferreira Bento, da Seduc-MT, e professora Bernadete Fernandes Gregolin, secretária municipal de Educação, Cultura e Esporte de Barra do Bugres, para dizer que a educação é transformadora e o investimento na educação indígena não é gasto. Isto porque se reverte em benefício para o município e o estado, pois os estudantes indígenas são cidadãos que consomem bens e serviços.
Em seu discurso, a pró-reitora de Ensino de Graduação, Nilce Maria da Silva lembrou o silenciamento que os povos indígenas sofreram nestes mais de 500 anos de colonização e a nossa fragilidade não-indígena de não saber falar nenhuma língua destas 41 etnias que a Unemat atende. “Precisamos que vocês nos ajudem a aprender os seus saberes e a construir nossos projetos de cursos com estes saberes.
Precisamos muito de vocês, que nos ajudem a quebrar nossas resistências. Eliane, não fique calada diante do que você não se sentir confortável, para que você consiga falar e propor o que deve ser a formação de vocês”, incentivou a pró-reitora.
Nilce fez, ainda, um paralelo com a discriminação sofrida pelas mulheres não-indígenas na gestão quando não ter sua voz ouvida por estarem na condição de mulher. Como primeira professora indígena na Unemat, “Eliane abre portas para outros, sendo representatividade para vocês sonharem para mudar a vida da sua comunidade e do seu povo”, animou.
Com representação da Unemat, do Executivo estadual e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai(, a mesa de autoridades abordou a diversidade da educação escolar indígena. Participaram, além da pró-reitora, o diretor de Gestão de Educação Indígena, Adailton Alves da Silva; os diretores do Câmpus de Barra do Bugres, Eduardo Oenning e Rivelino Fulvio Linhares, e da Faindi, José WIlson Pires Carvalho; Rute Ferreira Bento, da Coordenadoria de Educação Escolar Indígena da Seduc; o coordenador regional da Funai, Benedito Cesar Garcia Araujo; e a secretária municipal de Educação, Cultura e Esporte de Barra do Bugres, Bernadete Fernandes Gregolin. Também esteve na composição da mesa o cacique Luciel Boroponepá.
A família de Eliane e sua comunidade da etnia Balatiponé Umutina marcaram presença. As apresentações culturais foram realizadas por seu povo e pelas etnias do Xingu (Ikpeng, Kaiapó, Mebengrokê e Panará) em nome das demais. Ao final, todos foram convidados das oferendas trazidas, beiju, peixe e chicha (bebida indígena).
Sobre a Faindi
A presença da mulher vem aumentando desde que a Unemat iniciou o primeiro curso de licenciatura, em 2001, graduando a primeira turma em 2006, pela Faculdade Intercultural Indígena. Das primeiras 200 vagas oferecidas, 20 foram destinadas a dez estados, tornando a Unemat precursora na formação de professores de diferentes etnias em Mato Grosso, Acre, Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Paraíba, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins.
Oferecidos em parceria com as secretarias de Estado de Educação (Seduc) e de Saúde (SES), os cursos contam com a parceria estratégica da Funai em alguns momentos, e do Governo Federal, como o Programa Institucional de Fomento e Indução da Inovação da Formação Inicial Continuada de Professores e Diretores Escolares (Pril), que possibilitou oferecer o curso de Matemática Intercultural, em Luciara-MT.
Com a última turma que colou grau, em 2022, foram formados 570 professores indígenas. Os cursos pioneiros são as Licenciaturas Intercultural com habilitação em Ciências Sociais, Ciências Matemáticas e da Natureza, e Línguas, Artes e Literaturas, iniciados em 2001; e a Pedagogia Intercultural, iniciada em 2016. Em 2023, a Unemat inaugura seu primeiro bacharelado em Enfermagem Intercultural.
Coordenados por professores da Unemat, atualmente, são 30 alunos na Pedagogia Intercultural, coordenada por Waghma Fabiana Borges Rodrigues; 90 nas Licenciaturas Intercultural Indígena, coordenadas por Antonio Francisco Malheiros e Eliane Boroponepá Umutina (Seduc/Unemat); 50 na Enfermagem Intercultural, por Ana Cláudia Trettel; e 20 no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu Mestrado Profissional em Ensino em Contexto Indígena Intercultural, coordenado por Raimundo Nonato Cunha de França.
*Com informações da UNEMAT