“É um alimento rico em ferro e vitamina C”, diz pesquisadora da Ufra.
Nas últimas semanas, um boato envolvendo uma mistura contendo Jambú (hortaliça originária da Amazônia) foi amplamente divulgado nas redes sociais. Um chá milagroso da planta combinado a outras subtâncias prometia a “cura” do novo coronavírus. A notícia se espalhou e chamou a atenção de jornalistas e portais de notícias, que foram checar a informação com pesquisadores. Os cientistas garantiram: ainda não há cura para o Covid-19. E não há eficácia científica comprovada do chá no combate ao vírus.
Mas ficou a dúvida: afinal, o que o Jambú tem além de causar o característico tremor, que já foi até tema de música? Quem responde é a pesquisadora Mônica Trindade Abreu de Gusmão, doutora em Agronomia e docente da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA). A professora conhece bem as propriedades da planta e há anos estuda as características, cultivo e produção do Jambú.
“É um alimento rico em ferro e vitamina C. As característica físico-químicas demonstram que em cada 100g de ramos, folhas e inflorescências do Jambú são encontrados mais de 80% de água, além de carboidratos, lipídios, proteínas, ferro, vitaminas, sais minerais e fibras”, explica.
As propriedades podem ajudar a aliviar sintomas, assim como o uso de outras hortaliças. “O bem estar tem várias causas, inclusive a psicológica. Só resultados de pesquisa podem comprovar efeito benéfico ou não de uma substância. O conhecimento tradicional indica o jambu utilizado como produto fitoterápico em fortificantes, estimulador de apetite, antiinflamatório, antihelmintico, analgésico, diurético, anestésico bucal, estimulante sexual , dentre outros. Mas ainda existem poucas pesquisas sobre aplicação farmacológica”, explica a pesquisadora.
Mas além de virar notícia como chá contra Covid-19 ou de ser presença conhecida na mesa dos paraenses, o Jambú também é alvo de interesse da indústria. A dormência, sentida por quem experimenta a planta, é causada por uma substância conhecida como Espilantol, que confere ao Jambú sua característica anestésica, ou seja, aquela que dá a sensação de pungência, seguida de formigamento e entorpecimento.
“Além de aminas e antioxidantes, o Jambú tem mais mais de 18 componentes no óleo essencial, entre eles o Espilantol, que é o maior interesse da indústria alimentícia, de bebidas e cosméticos. No momento existem várias empresas desenvolvendo protocolos para extração do Espilantol e sua exportação. Na indústria é utilizado em cosméticos e bebidas alcoolicas. Existem patentes internacionais que dão outros usos, como goma de mascar, creme e enxaguantes bucais e estimulantes sexuais. A cachaça e o licor já ultrapassaram as fronteiras nacionais”, diz.
Essas e outras informações estão disponíveis no livro “Jambu da Amazônia (Acmella oleracea [(L.)R.K. Jansen]: caracteristicas gerais, cultivo convencional, orgânico e hidropônico”, feito em parceria com o professor Sérgio Gusmão e lançado pela Editora da Ufra.
Não há estudo específico da área comprovando a eficácia do Jambú no combate ao Covid-19. O Ministério da Saúde criou uma página específica para combater as fake News e divulgou que “até o momento, não há nenhum medicamento, substância, vitamina, alimento específico ou vacina que possa prevenir a infecção pelo coronavírus”. E disponibilizou um número de whatsapp para que as pessoas possam enviar notícias que mereçam ser checadas. As notícias serão apuradas pelas áreas técnicas e respondidas oficialmente. A melhor prevenção, segundo o Ministério da Saúde e Organização Mundial de Saúde, ainda é cumprir as orientações de higiene e manter o isolamento social.