Paleontólogos se unem no Pará para colaboração em estudo de fósseis de dinossauro gigante encontrado no Maranhão

Os fósseis foram descobertos em Davinópolis, no Maranhão, em 2020, por trabalhadores de uma obra, durante a etapa de terraplanagem de um empreendimento para implementação de estrutura ferroviária na cidade.

O Instituto de Estudos do Xingu recebeu a visita do paleontólogo Dr. Julian Cristian Gonçalves da Silva Junior, pós-doutorando da Universidade Estadual Paulista (UNESP), para colaboração em um projeto paleontológico sediado pela Unifesspa, no Pará. Sua visita é resultado de um esforço em montar uma equipe multidisciplinar e interestadual para atuar no projeto. Esse esforço resultou na interação com outros projetos, como o do professor Max Cardoso Langer, da Universidade de São Paulo, que possibilitou a visita do pesquisador com apoio financeiro da FAPESP.

O motivo da visita do Dr. Julian foi a análise de fósseis de um dinossauro gigante que foram descobertos em Davinópolis, no Maranhão, em 2020. Os fósseis foram escavados pela equipe do Grupo de Estudos em Paleontologia (GELAPEO), da Unifesspa, coordenado pelo professor Dr. Elver Luiz Mayer, do Instituto de Estudos do Xingu (IEX). 

Foto: Reprodução/Unifesspa

Primeiramente, os fósseis foram avistados por trabalhadores da obra, durante a etapa de terraplanagem de um empreendimento para implementação de estrutura ferroviária na cidade. Cientes da necessidade urgente de coletar esses fósseis antes que se deteriorassem pela exposição ao sol e chuva, a equipe de meio ambiente considerou a proximidade geográfica entre a localidade do achado e a sede da Unifesspa na hora de contatar um paleontólogo que pudesse coletar os materiais. 

Assim, entraram em contato com o professor Elver, que assumiu a tarefa e iniciou uma tratativa com paleontólogos que atuam no Maranhão. “Naquele momento era preciso recolher os fósseis o mais rápido possível, para não perdê-los”, comenta Elver. Ele acrescenta ainda que: “a estrutura e pessoal de que eu dispunha estavam no Pará, por isso levamos os fósseis para a Unifesspa, mas sabendo da importância patrimonial da descoberta para mim sempre foi claro que o material deveria retornar ao Maranhão”. 

O professor Dr. Manuel Medeiros, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), tem apoiado os trabalhos desde o início com sua experiência de três décadas no estudo dos dinossauros maranhenses. Além disso, ele vem atuando ativamente na articulação da logística necessária para o retorno dos fósseis ao Estado de origem e o tombamento na coleção do Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueológicas do Maranhão, em São Luís.

Foto: Reprodução/Unifesspa

O tamanho avantajado dos fósseis e sua preservação gerou grande repercussão nos principais meios de comunicação. Esses fósseis vem despertando muita curiosidade dos pesquisadores e do público em geral, que anseiam conhecer a identidade do animal pré histórico. Porém, para que o material pudesse ser analisado minuciosamente foi necessário realizar um cuidadoso processo de remoção dos restos de rocha aderidos nos fósseis, o que veio sendo realizado nos últimos dois anos por estudantes do curso de Ciências Biológicas do IEX-Unifesspa, sob coordenação do professor Elver. 

Além disso, foi necessário analisar todo o conjunto de fósseis recuperados, que ultrapassa 250 peças, para remontar as partes dos ossos que eram complementares, o que equivale a um verdadeiro quebra-cabeças paleontológico.

O trabalho de Julian e Elver, recentemente, esteve centrado na identificação dos ossos representados e na documentação dessas informações através da geração de modelos virtuais, fotos, medições e comparações com outros dinossauros. Com isso, foi possível confirmar que o dinossauro encontrado representa um saurópode, que eram animais quadrúpedes corpulentos que possuíam uma cabeça pequena em relação ao corpo, além de pescoço e cauda muito longos. 

Os pesquisadores também realizaram uma estimativa preliminar do tamanho do animal com base nos fósseis na comparação com outros saurópodes já conhecidos, o que indicou que o dinossauro de Davinópolis atingia aproximadamente aproximadamente 23 metros de comprimento, da cabeça à ponta da cauda.

Como o Dr. Julian é especialista em saurópodes, o esforço agora será no sentido de refinar a identidade do animal e entender as relações de parentesco do animal com outros saurópodes, que são o grupo de dinossauros mais diverso do Cretácio do Brasil. Os trabalhos puderam ser realizados na UNIFESSPA graças ao apoio financeiro da FAPESPA, que possibilitou a estruturação de um laboratório para atuação do GEPALEO. 

Foto: Reprodução/Unifesspa

A descoberta apresenta uma grande importância porque o animal foi escavado em uma formação geológica cuja idade corresponde à parte final do Cretácio Inferior (entre aproximadamente 100 e 125 milhões de anos atrás), sendo que a maioria dos dinossauros tem sido encontrada em rochas um pouco mais recentes, do Cretácio Superior. 

“Isso significa que o animal que estamos estudando é ancestral desses outros dinossauros”, explica Elver, e o “registro desse animal é importante para entender a evolução desse grupo de dinossauros”, complementa Julian.

A descoberta é importante também porque praticamente todos os dinossauros conhecidos para o Maranhão foram encontrados na parte norte do Estado, de maneira que o material de Davinópolis atesta o potencial para novas descobertas paleontológicas também na parte oeste do mesmo. 

As pesquisas seguem em curso, na busca de refinar a identificação dos fósseis, que provavelmente representam uma espécie nova, e também procurando entender aspectos da biologia do animal, por exemplo, qual era seu tamanho, seu peso, como se locomovia e como era seu metabolismo. Um artigo científico está sendo redigido com uma síntese das descobertas.

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