Que ‘O pequeno príncipe’, obra de Antoine de Saint-Exupéry, vem conquistando gerações desde 1943, não é novidade. São anos guiando crianças, jovens e adultos em uma fantástica jornada sobre amizade, responsabilidade e laços afetivos, que ultrapassa os limites do imaginário literário. Cativada, assim como a raposa, pelo pequenino príncipe, a pesquisadora paraense Adeline Oliveira da Silva criou laços com a obra e, imersa nela, desenvolveu sua dissertação baseada na sua realidade pessoal e profissional com pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Intitulada ‘INTENSITEA – Protocolo de exercício físico para funções executivas de universitários(as) com TEA’, a pesquisa foi apresentada, em 2021, ao Programa de Pós-Graduação Criatividade e Inovação em Metodologias de Ensino Superior (PPGCIMES/ NITAE) da Universidade Federal do Pará e resultou em um produto educacional, de mesmo título, orientado pelas professoras Netília Silva dos Anjos Seixas e Arlete Marinho Gonçalves.
A autora reuniu todos esses interesses, seus nove anos de experiência profissional, suas motivações pessoais, saberes acadêmicos e sua crença de que ‘o essencial é realmente invisível aos olhos’ para explorar o que na obra de Saint-Exupéry seria um novo planeta: o Transtorno do Espectro do Autismo na graduação, mais especificamente na Universidade Federal do Pará.
“Foi o tempo que dedicastes à tua rosa que a fez importante“
Dividida em sete capítulos, a pesquisa apresenta o processo de construção e o produto IntensiTEA: um protocolo de exercício físico destinado ao melhor desempenho de funções executivas para estudantes com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) do ensino superior, de maneira aguda, ou seja, a partir de uma única sessão.
A opção por trabalhar com as funções executivas, em especial a atenção, o controle inibitório e a memória de trabalho, se deu pelo grande número de estudos que abordam as disfunções executivas como características de pessoas com autismo. Essas disfunções impactam diretamente seus processos de ensino-aprendizado, seu desempenho ocupacional acadêmico e sua autonomia.
Dentro do contexto universitário, a pesquisa foi realizada quando o campus Belém da UFPA contava com 529 discentes PcDs matriculados(as) em cursos de graduação, sendo 22 diagnosticados(as) com TEA. Hoje, o número de discentes PcDs matriculados(as) aproxima-se de mil, sendo 89 diagnosticados(as) com TEA. Para desenvolver o protocolo, foram selecionados dez discentes com TEA, do sexo masculino. A participação dos alunos se deu em três sessões on-line, devido ao contexto da pandemia de covid-19.
Nas sessões, após uma análise inicial, a pesquisadora aplicou uma série de exercícios físicos em forma de circuito. A partir desta etapa, pôde observar os efeitos agudos (ou seja, aqueles presentes logo após uma única sessão de exercício físico) nas funções de atenção, controle inibitório e memória de trabalho dos participantes da pesquisa.
A validação do protocolo de exercícios físicos pelos alunos com TEA permitiu a elaboração do produto IntensiTEA, sendo este também validado por uma banca de especialistas das áreas da educação física, terapia ocupacional, pedagogia, publicidade e design gráfico. Por fim, os resultados obtidos foram tabulados e iniciou-se o processo de elaboração dos formatos do protocolo, que são: em PDF e em videoaula, esta disponível no Youtube.
O estudo permitiu concluir que o protocolo contribuiu para literaturas do TEA, ao apresentar os efeitos agudos de 25 minutos de exercício físico de intensidade moderada, baseado em circuito, com indicação de melhor funcionamento das funções de atenção, inibição e memória de trabalho.
“Tu te sentirás contente por me teres conhecido“
O nome ‘IntensiTEA’ é uma junção do prefixo ‘Intensi’, que se refere à ‘Intensidade’, elemento constituidor da identidade visual das atividades profissionais exercidas pela pesquisadora, desde o ano de 2014; e o sufixo ‘TEA’, relativo ao objeto de estudo do produto. Juntos, eles representam as motivações pessoais e profissionais que a acompanham ao longo de nove anos de atuação nessa área.
O protocolo é indicado a profissionais que atuam na educação superior, em qualquer área do conhecimento, que atendam alunos com Transtorno do Espectro do Autismo e que desejam melhor desempenho em atividades que exijam atenção, inibição e memória de trabalho, de modo instantâneo, desses alunos. É destacado pela pesquisadora que é importante o profissional considerar o nível do espectro e/ou da capacidade dos usuários em realizar os exercícios propostos.
Seu uso pode proporcionar, a curto prazo (com duração média de 30 minutos): maior e melhor capacidade de atenção às informações recebidas; maior controle frente aos elementos distratores, aumentando o tempo de inibição de estímulos externos que possam desviar o foco da atividade principal; maior retenção de informações recebidas, para que possa aplicá-las, instantaneamente, em alguma tarefa, ao responder questões ou questionamentos referentes ao assunto apresentado.
No formato em PDF, o protocolo pode ser acessado no site do repositório da UFPA. O documento contém as descrições dos exercícios, bem como todas as orientações necessárias para sua aplicação com segurança. A videoaula do protocolo pode ser acessada no Youtube, por meio do canal da professora (Adeline Oliveira). O conteúdo online é voltado para profissionais que não estão familiarizados(as) com exercícios físicos, podendo ser realizados de forma simultânea com a pesquisadora.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal Beira do Rio, da UFPA, edição 170, escrito por Por Isabelly Risuenho