Foto: João Ataíde/Arquivo pessoal
A ancestralidade do Marabaixo está sendo usada como forma de ensinar a história afro-amapaense para alunos da escola Professora Maria Esmeralda, no município de Amapá, distante cerca de 303 quilômetros de Macapá. Mais de 50 alunos participam do projeto, que ocorre desde 2023.
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A dança, que é considerada patrimônio cultural imaterial do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), carrega traços da tradição quilombola no estado e valoriza as raízes da floresta amapaense.
Unindo essas características, o corpo docente da unidade de ensino estadual busca aproximar os alunos e aplicar a lei que torna obrigatório o ensino de história e cultura afro-brasileira nas escolas desde 2003.
O professor de história, João Ataíde, um dos idealizadores do projeto, afirma que a escola tinha muitos problemas inter-raciais, em alguns casos os alunos não se reconheciam como parte destas raízes afros, fato que, segundo ele, mudou após a aplicação da metodologia de ensino.
“A Escola Maria Esmeralda era vista como uma escola problemática de relações inter-raciais. Então esse grupo de Marabaixo há dois anos vem trabalhando essa integração entre os alunos, ou seja, é o Marabaixo pelo viés da educação. É uma forma pedagógica de unir esses garotos. E muitos, às vezes, não têm a vontade de ir para a aula porque não encontram uma escola atrativa, e esse grupo de Marabaixo está sendo atrativo para as crianças. Podia ser um time de futebol, um time de handebol, um time de basquete, mas o grupo de Marabaixo tem sido esse canal entre a educação e a cultura que se integra a partir do olhar da pedagogia”, destacou Ataíde.

A vestimenta é variada. Seja trajando o uniforme escolar ou com as roupas características da dança, os alunos formam rodas e cantam os ladrões de Marabaixo [músicas que entoam a dança]. (veja vídeo no inicio desta matéria).
Os passos são acompanhados pelos ladrões que falam sobre a luta do povo quilombola no Amapá, sobre suas essências e modo de viver. Dessa forma, os alunos aprendem a partir da dança como os povos que vieram antes deles contribuíram para a formação da sociedade atual.
“A proposta pedagógica envolve oficinas de dança, percussão e história do Marabaixo, proporcionando um ensino interdisciplinar que valoriza a cultura popular e amplia a visão dos estudantes sobre sua própria ancestralidade”, ressalta o professor João.
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A aluna Ana Paula, é uma das cantoras do grupo. Ela junto ao colegas “puxam” os ladrões. A estudante destaca que hoje se identifica com a cultura marabaxeira. “Eu me identifico muito com o Marabaixo. Hoje eu gostaria de agradecer meus professores por me apresentarem o projeto, eu entrei no ano passado [2024] e tive muito apoio deles e da minha família”, disse Ana.
Os alunos se apresentaram no Centro de Cultura Negra, localizado na área central de Macapá, durante a apresentação da programação do Ciclo do Marabaixo 2025, nos dias 11 e 12 de abril.
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Ciclo do Marabaixo 2025
A celebração existe há mais de 100 anos e iniciou oficialmente dia 19 de abril, no Sábado de Aleluia, e segue até o Domingo do Senhor, em 22 de junho.
Neste ano, a programação homenageia o centenário de Benedita Guilherma Ramos, a Tia Biló, matriarca do marabaixo do Laguinho que faleceu em 2021, aos 96 anos.
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Como parte da programação, pelo terceiro ano consecutivo, vai funcionar a Central do Ciclo do Marabaixo, espaço montado no Centro de Cultura Negra, no Laguinho.
As rodas de marabaixo serão realizadas nos barracões Associação Raimundo Ladislau, Associação Zeca e Bibi Costa, Santíssima Trindade da Casa Grande, União Folclórica de Campina Grande, Berço do Marabaixo, Marabaixo do Pavão e Raízes da Favela Dica Congó.
Ciclo do Marabaixo no Amapá — Foto: Gabriel Penha/ Fundação Marabaixo
*Por Mariana Ferreira, da Rede Amazônica AP