Disponibilizado para fins educativos, ambientais e científicos, material de coleção gratuito reúne informações sobre as espécies da bacia de Tapajós. Foto: Divulgação/Sapopema
Uma Coleção Educativa de Peixes do Tapajós foi oficialmente lançada no início de dezembro durante evento internacional promovido pela Aliança Águas Amazônicas, reunindo universidades, organizações comunitárias, representantes governamentais e instituições de conservação da Pan-Amazônia com tradução simultânea. O conjunto de seis produtos didático-pedagógicos foi desenvolvido a partir da coleção ictiológica da UFOPA e PPGSND, com o propósito de regionalizar o ensino de Ciências e fortalecer iniciativas de popularização da ciência em contextos ribeirinhos.
A mesa de abertura contou com a participação de Frank Ribeiro (UFOPA); Antônio José Bentes (SAPOPEMA); Gina Leite (AAA/WCS); Socorro Pena (Governo Brasileiro); Manoel Pinheiro (MOPEBAM); e Lucilene Amaral (The Nature Conservancy – TNC), reforçando a importância da iniciativa para a educação, a conservação e o protagonismo comunitário nos territórios do Tapajós.
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Durante a abertura, o professor Frank Ribeiro contextualizou a dimensão científica e ictiológica do território, destacando que a estimativa é que o rio Tapajós possua cerca de 900 espécies de peixes, o que evidencia a relevância da bacia para a ictiofauna amazônica.
Ele também chamou atenção para a lacuna histórica de visibilidade do rio na produção científica mais difundida: “o rio Tapajós foi um rio muito negligenciado no contexto do conhecimento da sociedade oficial durante muito tempo”.

Ao falar sobre a importância da coleção como estratégia de educação ambiental, ressaltou a conexão entre ciência e conhecimento local: “a população local conhece perfeitamente a fauna de peixes” e, ainda assim, “não se tem tipicamente registrado” esse saber em mecanismos formais de monitoramento, reforçando a necessidade de materiais que aproximem a escola e a pesquisa da realidade dos territórios.
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Contribuições
Representando a Aliança Águas Amazônicas, Gina Leite enquadrou o lançamento como resultado de uma construção coletiva em rede e de longo prazo: “a Aliança de Águas Amazônicas conta com 203 organizações aliadas e seis países”, apontando Santarém como um polo de articulação e prática colaborativa. Segundo ela, a iniciativa apresentada no webinar é “um grande exemplo de como podemos operar” e de como “podemos potencializar ainda mais essa articulação” entre universidade, organizações e comunidades.
A professora Socorro Pena enfatizou o valor da proposta como devolutiva prática do conhecimento científico e como ferramenta aplicável à escola. Para ela, trata-se de “uma experiência de educação ambiental numa nova dinâmica”, capaz de articular “comunicação, novas tecnologias, ciência e educação” em um mesmo conjunto pedagógico. Socorro também ressaltou que o material ajuda a “trazer do laboratório da ciência” um conteúdo que, muitas vezes, permanece restrito.
Na mesma linha, Antônio José Bentes, da Sapopema, apontou o potencial do material para apoiar processos formativos e de mobilização social no longo prazo. Ele defendeu que é “fundamental fazer um trabalho profundo, sistemático, pedagógico, de envolvimento da juventude”, e avaliou que iniciativas como essa têm força para criar “novas energias, novas sinergias” nos territórios. Para Antônio, a coleção pode contribuir para uma “revolução pedagógica” voltada ao engajamento de jovens e adolescentes com temas ambientais e com a gestão dos bens comuns.

Pela The Nature Conservancy, Lucilene Amaral destacou que a coleção contribui para aproximar resultados de pesquisa das comunidades: “como fazer que esses resultados cheguem realmente nas comunidades”, não apenas como devolutiva, mas como subsídio para discussões sobre “gestão dos recursos naturais, dos recursos aquáticos e dos recursos hídricos”. Ela avaliou que a iniciativa representa “um passo muito importante que a academia dá em termos de retorno para a comunidade”, com potencial de ser fortalecida por políticas públicas em parceria com escolas.
A pesquisadora e criadora da coleção, Samela Bonfim (UFOPA/Sapopema), apresentou os seis produtos: caderno de atividades multisséries, guia ilustrado, jogo da memória, livro para colorir, quebra-cabeça e mapa interativo, construídos ao longo de três anos de investigação, oficinas pedagógicas e diálogos com professores, pescadores, jovens e lideranças comunitárias.
Segundo Samela, a coleção representa a devolutiva da ciência para os territórios que inspiraram sua criação:
“Este trabalho nasce nas comunidades e volta para elas. Ele não seria possível sem a contribuição dos territórios, das escolas e dos parceiros que acreditam em uma educação que dialogue com a vida real. Tornar esse material acessível e gratuito é uma forma de retribuir e fortalecer quem vive e ensina na Amazônia”.
Acesso à coleção
A coleção está disponível no site da Sapopema e também na plataforma da Alianza Águas Amazônicas. Para acessar, é necessário preencher o formulário online. Após responder às perguntas que servem para fins de registro, acompanhamento da pesquisa e garantia de uso adequado, o usuário recebe automaticamente o link para download completo do material.
O processo de acesso controlado garante que a coleção seja utilizada exclusivamente para fins educativos, comunitários, ambientais, pedagógicos e científicos, conforme previsto na pesquisa e nos termos de uso.
Todos os produtos podem ser impressos gratuitamente pelos usuários, seguindo as recomendações descritas nos arquivos:
- Materiais como jogo da memória, cartas, fichas e peças didáticas devem ser impressos em papel de maior gramatura para garantir durabilidade;
- Livros, guias e cadernos podem ser impressos em formato A4 ou A3, conforme o tipo de uso pedagógico;
- A comercialização dos arquivos não é permitida;
- A manutenção da identidade visual e dos créditos institucionais são orientados nos termos de uso.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Sapopema
