Animação manual possibilita novas formas de comunicação para estudantes indígenas e quilombolas

‘Awaydip’ (‘Amazônia’ na língua Munduruku) será o resultado final da oficina de animação que uniu arte, educação e conscientização ambiental. 

A animação desenhada à mão é uma técnica já centenária, sendo uma ferramenta artística de fácil acesso que possibilita às pessoas contarem suas histórias sob uma perspectiva mais criativa. Como forma de difundir essa técnica, a Universidade Federal do Pará (UFPA), por meio da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesp), realizou a ‘Oficina de Desenho Animado para estudantes indígenas, quilombolas e bolsistas da Propesp’. As aulas duraram uma semana e estão ligadas ao Programa Ciência e Arte Povos da Amazônia (CAPAm), uma parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Banco Santander.

Durante o encerramento, foi exibido um teaser da animação produzida ao longo da semana pelos alunos da oficina. A obra intitulada ‘Awaydip’, aborda as intervenções humanas no meio ambiente, especialmente na Amazônia, a exploração de recursos naturais e a violência contra comunidades originárias e quilombolas. O nome escolhido significa ‘Amazônia’ na língua Munduruku. A produção foi coordenada por professores da Unicamp especialistas em animação, Wilson Lazaretti, Maurício Squarisi, com o apoio do bolsista Iago Tojal.

“A oficina de animação é uma oportunidade para os alunos fazerem algo diferente em termos de tecnologia, então, em vez de fazer edição no computador, eles fazem desenhos a mão e depois esses desenhos vão virar um filme dentro de uma temática, e a temática deste filme que eles vão fazer é sobre a Amazônia, no momento em que todos os olhares do mundo estão para a Amazônia. Então, após essa semana de produção eu espero que eles possam enxergar a animação como uma ferramenta para eles contarem suas próprias histórias, e que eles retornem esse conhecimento para as suas comunidades de uma forma didática”, informa Iracilda Sampaio, Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-graduação da UFPA.

Foto: Alexandre de Moraes/Ascom UFPA

Para Maurício Squarisi, professor convidado da Unicamp, é importante que os participantes da oficina vejam as técnicas aprendidas como mais uma ferramenta disponível para que possam contar suas narrativas, em especial os estudantes indígenas e quilombolas.

“O que nos motiva é que eles vejam a animação como uma forma de expressão, uma ferramenta para que eles possam tecer novos diálogos sobre o que eles desejam falar, como, por exemplo, as questões que envolvem as comunidades indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhas da região amazônica”.

Maurício Squarisi

Processo de produção 

Realizada entre os dias 31 de julho e 4 de agosto, a oficina teve como público-alvo estudantes indígenas, quilombolas e bolsistas da Propesp, de diversos campi da UFPA. Os participantes assistiram a obras de animação produzidas de maneira manual e foram ensinados sobre o passo-a-passo para o desenvolvimento deste tipo de trabalho audiovisual. 

Ao longo da oficina, eles escolheram desenvolver um projeto de animação abordando as intervenções humanas e a exploração dos recursos naturais, em especial na Amazônia. Ao todo, 15 alunos trabalharam cerca de seis horas diárias ao longo da semana para a produção dos desenhos que vão compor os frames da animação ‘Awaydip’.

Foto: Alexandre de Moraes/Ascom UFPA

Os participantes foram organizando a história a partir de seus desenhos, com uma média de 10 desenhos para cada segundo de animação. A estimativa é que a produção final, quando montada, chegue aos 4 minutos de duração. Os desenhos produzidos pelos estudantes retornaram para a Unicamp para que a peça audiovisual seja montada e editada, para então retornar à UFPA e ser apresentada ao público.

“Quando me inscrevi, eu pensei que fosse alguma coisa relacionado a computador, algo mais digital, semelhante a desenho animado. Mas toda a nossa produção foi manual, e eu vi que é muito além de só copiar e colar os frames, tem todo o trabalho de desenhar a mão e de animar folha por folha. Eu não tinha noção de desenho, de espaço, mas eu vi que a animação não é só ter um desenho bonitinho. A gente fala que a gente tem que ter o nosso traço próprio e que fazer animação é dar um movimento. Folha por folha, traço por traço”, reflete Jhonnata Soares, estudante do curso de Geografia. 

Foto: Alexandre de Moraes/Ascom UFPA

Já a estudante de dança da ETD-UFPA, Jamylle Costa, ressalta a importância dessa iniciativa pelo seu potencial de uso para diferentes temáticas e contextos: “Nós podemos utilizar os conhecimentos dessa oficina de desenho pra tudo. Por exemplo, colocando na minha área, eu faço licenciatura em dança e trabalho com crianças, então eu posso ensinar. Ensinar um passo de dança através do desenho, de movimento por movimento, até virar uma animação. Então eu posso usar isso aqui dentro da minha sala de aula e também posso eu posso levar para dentro do meu quilombo pra quem não conhece. Posso fazer por exemplo sobre a questão da extração do açaí a gente pode colocar isso para as crianças de dentro do quilombo, e fica mais divertido o processo de ensino quando elas se veem representadas, ou participam de forma mais ativa do processo”.

Programa CAPAM

O Programa Ciência e Arte e Povos da Amazônia é uma iniciativa realizada em parceria com a UFPA, a Unicamp e o Banco Santander. O Programa tem o objetivo de estimular a vocação dos estudantes para a pesquisa científica e artística, apresentando os desafios atuais da ciência e do ambiente dos grupos de pesquisa, nas ciências humanas, exatas e da terra, ciências biológicas e da saúde e tecnologia.

Com edições anuais, o CAPAM proporciona a estudantes indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhos ligados à UFPA a participação em atividades realizadas pela Unicamp como bolsistas temporários dos laboratórios. Em 2023, foi realizada a 2° edição do CAPAM e foram desenvolvidas oficinas semanais relacionadas a laboratórios que trabalham com alimentos, animação, química, geologia, genética médica e outras áreas.

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