Amazônia pode abrigar mais de 10 mil registros de obras pré-colombianas, mostra estudo

Inédito, estudo tem implicações políticas sobre o debate atual a respeito do marco temporal de terras indígenas no Brasil.

A revista Science publicou em sua mais recente edição, no dia 6 de outubro, um estudo que mostra que a Amazônia pode abrigar mais de 10.000 registros de obras pré-colombianas (construídas antes da chegada dos europeus). Liderado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a pesquisa combina tecnologia de ponta em monitoramento remoto, com dados arqueológicos e modelagem estatística avançada, para quantificar obras de terra que ainda podem estar escondidas debaixo do dossel da floresta amazônica e em quais locais essas estruturas são mais prováveis de serem encontradas.

Coordenado pelos pesquisadores do Inpe Vinicius Peripato, doutorando do curso de Sensoriamento Remoto, e Luiz Aragão, chefe da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática, o estudo foi assinado por uma equipe composta por 230 pesquisadores de 156 instituições localizadas em 24 países de 4 continentes, incluindo o professor doutor Claide de Paula Moraes, do Programa de Antropologia e Arqueologia (PAA) do Instituto de Ciências da Sociedade (ICS) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa).

“O estudo indica que a floresta amazônica pode não ser tão intocada quanto muitos pensam, já que quando buscamos uma melhor compreensão da extensão da ocupação humana pré-colombiana na região, nos surpreendemos com a grande quantidade de sítios ainda desconhecidos pela ciência”,

explica Peripato.


Figuras de obras de terra na paisagem amazônica. Foto: Maurício de Paiva/Ufopa

A equipe de cientistas chegou a esta conclusão após a identificação de 24 novos registros arqueológicos, por meio de uma tecnologia avançada de mapeamento remoto, utilizando um laser embarcado em avião, conhecido como LiDAR (Light Detection and Ranging). O sensor permite reconstruir os elementos da superfície em um modelo 3D com um nível extraordinário de detalhes. 

Já Luiz Aragão destaca que a pesquisa representa um avanço tecnológico e científico enorme.

“O estudo avança o conhecimento em três grandes áreas, como na própria Arqueologia, por meio de novas descobertas; nas ciências ambientais, demonstrando o nível de interferência humana na região, que pode ter implicações para seu funcionamento atual e como modelamos seu futuro; finalmente, na área de computação aplicada, que possibilitou a análise dos milhões de pontos presentes nos dados do LiDAR e na modelagem estatística da distribuição das feições estudadas”,

afirma.

Inédito, o estudo ainda tem implicações políticas sobre o debate atual a respeito do marco temporal de terras indígenas no Brasil. 

“Em tempos de discussões sobre marcos regulatórios de propriedade e direito às terras indígenas, esta pesquisa traz inúmeras evidências da ocupação ancestral da floresta amazônica por povos originários, de suas formas de vida e da relação estabelecida por eles com a floresta. A proteção de seus territórios, línguas, culturas e heranças deve ser compreendida como milenar, como são, e não ligada a uma data, que é tão recente”,

afirma os autores.

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