Aluno da Ufopa produz documentário sobre a pandemia nos quilombos na Amazônia

Com 22 minutos de duração, o filme traz as narrativas de moradores da comunidade África, situada no município de Moju, e lideranças da Malungu, entidade que representa cerca de 530 comunidades quilombolas do Pará.

“Nós por nós: enfrentamento da Covid-19 nos quilombos do Pará” é o nome do documentário produzido pelo estudante Gabriel Baena como Trabalho de Conclusão de Curso na graduação de Antropologia da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). Orientado pela professora Luciana Carvalho, o trabalho retrata a pandemia sob o recorte de comunidades historicamente vulneráveis do interior da Amazônia.

Documentário aborda realidade de comunidades quilombolas do Pará. (Foto: Gabriel Baena/Ufopa)

A defesa do TCC ocorreu no dia 25 de novembro, de forma remota, e foi a primeira do Programa de Antropologia e Arqueologia (PAA) da Ufopa a usar o recurso audiovisual. Participaram da banca avaliadora a professora do PAA, Luciana França; Denise Cardoso, da Universidade Federal do Pará (UFPA); e Raimundo Magno Cardoso Nascimento, da Coordenação das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombos do Pará (Malungu).

Com 22 minutos de duração, o filme traz as narrativas de moradores da comunidade África, situada no município de Moju, e lideranças da Malungu, entidade que representa cerca de 530 comunidades quilombolas do estado. Nas falas, as dificuldades enfrentadas não só no período da pandemia, mas os problemas estruturais que se agravaram e as preocupações com o pós-pandemia.

Articulado de forma remota, o documentário ilustra o momento atual da necessidade de conectar pessoas para fortalecer a luta por direitos, como explica o autor: “O nome [“Nós por nós”] se dá por uma fala da professora Zélia Amador em um dos encontros, que retrata o que foi esse período de pandemia para os quilombos: foram eles por eles. Mas além disso, dá a ideia de rede, que cada pessoa conecta e forma “nós”‘.

“Ele abre um novo campo de pesquisa que é a produção de conhecimento e de registros sobre como que, efetivamente, na prática, no cotidiano, na vida real as comunidades estão vivendo essa pandemia. Então ele sai daquela esfera mais distanciada, dos boletins que refletem números, para conhecer e pesquisar histórias individuais, histórias familiares e histórias coletivas de comunidades quilombolas nessa vivência da pandemia”, destaca a orientadora.

De cima para baixo: coordenador da Malungu, Salomão Santos, e moradores do quilombo África, Leocádia Oliveira, “Pitoco” e Vitor (crianças) e Catarina Nascimento. (Fotos: Gabriel Baena/Ufopa)

O documentário está sendo preparado para ser divulgado na internet a partir do próximo ano de 2021.

Sobre o processo de produção

A proposta da pesquisa surgiu durante as ações do Núcleo de Estudos Interdisciplinares em Sociedades Amazônicas, Cultura e Ambiente (Sacaca), da Ufopa, em parceria com a Malungu. “A Malungu trouxe uma demanda de apoio para realizar diversos tipos de ações de enfrentamento do coronavírus especificamente nas comunidades quilombolas”, explica Luciana Carvalho, que coordena o Sacaca. Desde abril, uma rede de voluntariado se formou para desenvolver ações para as mais de 500 comunidades do estado, como a distribuição de kits de proteção, apoio para auxílio emergencial, entre outras.

Como bolsista do Sacaca, Gabriel se envolveu na produção de materiais informativos sobre o novo coronavírus, usando linguagens gráfica e audiovisual, mais adequados às condições de vida das comunidades. A partir da atividade extensionista, o estudante aprofundou o olhar na pesquisa antropológica e registrou o trabalho no documentário.

Gabriel relata que a opção pelo audiovisual foi um desafio: “Não tinha nenhum outro trabalho para referenciar, de um caráter mais etnográfico. Para o curso, é muito importante, justamente porque abre possibilidade para outros alunos fazerem, já tendo um trabalho como base”.

A professora Luciana França destaca duas contribuições do formato, que já é bastante utilizado em pesquisas etnográficas: “Uma delas é a possibilidade que o audiovisual permite que se tenha uma atenção mais firme às coisas concretas, com toda a sua complexidade, ambiguidades”. Sobre a estruturação das ideias, França destaca que no audiovisual ela ocorre de forma mais livre e interpretativa do que na escrita tradicional: “A concatenação de ideias no audiovisual vai se dar por outros mecanismos, que vai passar por uma apreciação estética, de outras maneiras que vão permitir outras associações”

“Para a pesquisa, o audiovisual pode retratar uma memória, uma narrativa, uma experiência estética e isso é muito importante. Podemos dizer que a escrita não consegue ativar outras sensações que o audiovisual consegue”, sintetiza Gabriel.

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