Foto: Paulo Roberto Ferreira/Semec
Numa roda de conversa promovida pela Secretaria Municipal de Educação (Semec) de Belém na tarde desta terça-feira (3), o líder indígena, escritor e ambientalista Ailton Krenak citou Carlos Drummond de Andrade, Oscar Niemeyer e Greta Thunberg para falar dos desafios nos tempos futuros, tanto para a educação como para o planeta Terra.
O encontro no Cine Dira Paes, no Palacete Pinho, reuniu dezenas de professores e técnicos e teve caráter formativo, aproveitando a presença do imortal da Academia Brasileira de Letras, que nesta quarta-feira (4) participa dos ‘Diálogos dos Saberes’, no campus da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Krenak afirmou que os ancestrais sabiam viver o tempo presente e nem imaginavam que iríamos viver “a agonia do futuro, que é o sofrimento mental”.
Na sua avaliação, a preocupação com o clima no mundo provoca doenças. “Hoje nós estamos imersos numa realidade planetária, onde o diagnóstico mais recorrente no mundo inteiro é sofrimento mental. Então, habitar o mundo hoje é viver essa crise do clima, uma crise de paradigmas, onde a educação foi a primeira vítima”.
O escritor citou o poema ‘O homem; as viagens’, de Carlos Drummond de Andrade, escrito em 1973, que trata do insaciável desejo do ser humano de conhecer outros planetas, mas a tudo ele descarta. E que a verdadeira viagem que deveria fazer seria para dentro de si mesmo. “Uma parte de nós acredita que, se essa terra se tornar inabitável, podemos ir para outro planeta”, diz Krenak.
E logo em seguida lembrou de Oscar Niemeyer que afirmava que “todos nós tivemos origem junto com os outros animais”. E arremata: “o homem, bicho pequeno na Terra, enjoa da Terra. Quer dizer, enjoa desse planeta magnífico, maravilhoso”.
Krenak prestou homenagem ao líder quilombola Nego Bispo, que viveu no Piauí. “Eu acho maravilhoso alguém que vive uma situação de privação, que sofre racismo, preconceito, segregação e tudo, mas levanta a cabeça e fala, você não pode ter medo de pensar. É maravilhoso, porque pensar é a libertação. Para além de qualquer outra estratégia, primeiro a gente tem que pensar, ter coragem de pensar”.
O líder indígena afirmou que o impacto ambiental que o planeta experimenta aponta para um futuro muito sombrio.
“É mais ou menos como você criar uma dívida enorme e passar o calote para os seus filhos, para os seus netos. Então, é muita cara de pau da sociedade ampla, complexa, que nós nos constituímos no mundo hoje, passar essa conta do clima para as gerações que virão”.
Citou a líder ambientalista sueca, Greta Thunberg, que afirma: “os adultos roubaram o futuro da minha geração”. Ela convocou os seus colegas a não ir para a escola na sexta-feira. Então a semana escolar agora é de segunda a quinta, porque sexta-feira é o dia de fazer protesto. “Quer dizer, ela introduziu uma nova disciplina no currículo, que é protesto”.
Krenak aproveitou para explicar que: “se a gente pensar que vamos criar uma educação de excelência e preparar a próxima geração, isso é uma outra ideologia protelatória. Tipo assim, o planeta quando ficar ruim mesmo, quem vai sofrer com isso não sou eu, são os nossos descendentes. E a outra hipocrisia é dizer que esse período de agravamento do clima no planeta vai ser resolvido”.
Ele prosseguiu dizendo: “se a educação é uma atribuição do mundo adulto, ao transmitir conhecimento para as novas gerações, a fim de darem conta do mundo, a gente falhou. Isso põe em xeque a nossa própria ideia de educação.Tem muita gente convencida ainda de que pode pegar as novas gerações, enquadrar as novas gerações e reproduzir no pensamento das novas gerações as ideologias extravagantes que nos deram sobrevivência até ontem”.
Krenak finalizou lembrando que “a secura dos nossos rios, a mudança dos climas regionais, o desaparecimento de alguns desses ecossistemas que a gente achava que era eterno, agora a gente está vendo que não é. Nós estamos vendo que não é porque temos a possibilidade de fazer o teste vivo, visual. Vocês sentem aqui a mudança da temperatura no corpo”.
*Com informações da Agência Belém