A motivação para a pesquisa surgiu quando o autor do estudo, Daymerson Araújo, observou em sala de aula a reprodução de discursos que demonstravam uma não identificação com a região amazônica.
No tempo dos “descobrimentos”, das Grandes Navegações, a Amazônia foi objeto de observação de cronistas e viajantes. O olhar externo marcou a construção histórica da região. Atualmente, muitos sites perpetuam estereótipos, reduzindo a Amazônia às questões climáticas. Os amazônidas urbanos, por vezes, tratam a Amazônia como algo alheio e não como o lugar onde vivem. Essas narrativas foram fonte para a dissertação ‘Discurso e Cibercultura: Uma Análise de como a imagem da Amazônia é disseminada em âmbito da internet’.
O estudo realizado por Daymerson Ferreira Araújo procura entender como os discursos disseminados na internet influenciam as pessoas. O professor de Língua Portuguesa estudou redações produzidas por alunos do ensino médio do município de Castanhal (PA). A motivação para a pesquisa surgiu quando Daymerson Araújo observou em sala de aula a reprodução de discursos que demonstravam uma não identificação com a região amazônica.
“Ao mesmo tempo que isso me causou estranhamento, tive uma sensação nostálgica, pois, na minha infância, fui tomado pela mesma visão e pelo mesmo afastamento”,
conta o pesquisador.
De acordo com o estudo, é necessário compreender uma Amazônia que, ao longo do tempo, foi reduzida ao exótico e às suas riquezas naturais. Assim, séculos depois, é comum que essa concepção alcance a Amazônia contemporânea.
Sites on-line contribuem com estereótipos
Daymerson Ferreira Araújo analisou as redações dos alunos considerando o fato de que os jovens são engajados virtualmente e buscam informações na internet. Todos os textos reproduziram discursos semelhantes, sendo os termos “região”, “Amazônia” e “floresta” os que mais se repetiram, como se a região se resumisse a isso.
Na visão do autor, quando se pensa a Amazônia hoje, deve-se considerar a historiografia e os discursos construídos sobre a região ao longo dos anos, os quais ainda estimulam as pessoas a entenderem esse lugar como um espaço de floresta. “Foi com esses pensamentos que o ideário sobre a Amazônia foi construído. Não somente no sentido concreto da palavra, mas também na ideologia que se disseminou pela Europa”, destaca.
Os sites visitados pelos alunos durante a elaboração dos textos foram os seguintes: Aluno Online, Amazônia Latitude, Biomania, Blog do Beduka, Brasil Escola, Ecomania, Imazon, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Justiça e Cidadania, Ministério do Meio Ambiente, Mundo Educação, O Globo, Rádio Margarida, Toda Matéria, Wikipédia e WWF Brasil.
“Constatei que o discurso disseminado na internet alimenta o estigma da região amazônica, esgotando-a, em grande parte, sob um viés rural, cujas características consideram unicamente sua extensão territorial. Foi possível compreender essa noção de afastamento que muitas pessoas possuem em relação ao território, pois as ideias disseminadas não estão de acordo com a sua realidade”,
avalia.
O estudo nos ajuda a entender que a visão da Amazônia por meio de sua sociobiodiversidade é essencial, porque oferece uma perspectiva autêntica e multifacetada, indo além dos clichês e revelando a complexidade da vida na região.
Sobre a pesquisa: A dissertação intitulada Discurso e Cibercultura: Uma Análise de como a imagem da Amazônia é disseminada em âmbito da internet foi defendida por Daymerson Ferreira Araújo no Programa de Pós-Graduação em Estudos Antrópicos na Amazônia (PPGEAA), Campus Castanhal, com orientação da professora Yomara Pinheiro Pires.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal Beira do Rio (UFPA), escrito por Andreza Dias