Roraima possui ao menos 24% da energia produzida por biocombustível

Fora do Sistema Integrado Nacional (SIN), o estado tem, predominantemente, o fornecimento nos 15 municípios feito por termelétricas.

Ao menos 24% da energia produzida em Roraima é fornecida por meio de biocombustível gerado por termelétricas localizadas em cinco municípios do estado. Fora do Sistema Integrado Nacional (SIN), o estado tem, predominantemente, o fornecimento nos 15 municípios feito por termelétricas da empresa Roraima Energia.

Capaz de alimentar a casa de 40,6 mil dos 166 mil consumidores atendidos pela Roraima Energia, a bioenergia gerada no estado vem de sete usinas que produzem biocombustível a partir de resíduos de madeira, o chamado cavaco, óleos vegetais e resíduos do óleo de palma, extraído da planta do dendê.

É neste contexto que atua a empresa Brasil BioFuels, do grupo BBF. Localizada em São João da Baliza, no Sul de Roraima, a usina atua há 15 anos com a extração do óleo da palma.

A equipe de reportagem do Grupo Rede Amazônica esteve na companhia para entender o ciclo completo da palma que envolve a operação: plantar, colher, esmagar o fruto, produzir biocombustível e gerar energia elétrica limpa aos consumidores de Roraima.

Além dos 24% de energia via biocombustível, Roraima tem o restante do fornecimento gerado por óleo diesel de 14 termelétricas, considerada cara e poluente ao meio ambiente. Os dados são da Roraima Energia, responsável por toda geração elétrica do estado, incluindo a de biocombustível.

Como é a energia da BBF

Ao todo, o grupo BBF tem mais de 15 mil hectares da plantação da palma no estado. De acordo com o diretor industrial do grupo, Cláudio Cavalcante, o grupo envia para a Roraima Energia 14 megawatts de energia por dia – é a partir daí que ocorre o fornecimento aos consumidores.

Por dia, a empresa extrai o óleo de mais de 300 toneladas de materiais do dendê. “Para produzir essa energia, utilizamos uma variedade de materiais do dendê, como fibras, cascas, nozes e palhas, totalizando cerca de 300 toneladas por dia”, disse o diretor.

Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica

A energia produzida pelas usinas, de forma geral, é injetada no sistema elétrico de Roraima, sem ser direcionada a clientes ou grupos específicos, conforme a Roraima Energia.

No total, a Roraima Energia atende todo o estado, um total de 207.891 consumidores.

Energia do óleo da palma

O Grupo BBF é responsável por plantar, extrair e produzir a energia em um processo que envolve quase mil funcionários, entre eles, mulheres migrantes que atuam diretamente na plantação. Desde o plantio até a colheita, tudo é dividido em etapas.

A semente do dendê é adquirida de outros países. Em Roraima, ela é plantada em um local de 5 mil hectares chamado de pré-viveiro, protegido para a semente germinar. Depois, na fase de muda, é transportada para o viveiro em um lugar que ocupa 45 hectares.

Plantação de dendê para a extração de biocombustível no Sul de Roraima ocupa mais de 15 hectares. Foto: Oseias Martins/Rede Amazônica

Após isso, a planta é colocada em uma área de 15 mil hectares onde deve produzir frutos por mais de 30 anos. Todos esse processo é comandado pelo gerente agrícola da empresa, Bruno Barcelos, de 37 anos. Ele trabalha com dendê há 13 anos, sendo três deles em Roraima.

“Atualmente, temos 2 milhões e 350 mil mudas no projeto. Elas ficam em um ambiente protegido por cerca de 3 a 4 meses, antes de serem transferidas para o viveiro. Após 8 a 10 meses no viveiro, as mudas são plantadas no campo, onde permanecem por 25 a 30 anos”, explicou.

Fruto do dendê maduro colhido na plantação da empresa BBF, no Sul de Roraima. Foto: Caíque Rodrigues/g1 Roraima

Todo o cultivo do dendê, de acordo com Bruno, é manual e possui uma média de cinco a seis toneladas de óleo por hectare.

“O solo é descompactado para permitir um crescimento adequado das raízes. Também realizamos a nutrição das covas onde as mudas serão plantadas. A colheita é feita manualmente ao longo do ano. Cortamos apenas os cachos maduros, que são identificados visualmente, em ciclos contínuos de 12 dias”.

Após a colheita de todo o material, tem início a parte industrial, comandada por Claudio. De acordo com ele, os frutos são debulhados, macerados e, em seguida, prensados para extrair o óleo de palma. Antes disso, ocorre a esterilização que dura uma hora e meia, enquanto as etapas seguintes levam cerca de 30 minutos, totalizando duas horas para extrair o óleo.

“Após a extração, o óleo passa por um processo de clarificação e é classificado antes de ser utilizado como combustível”.

“O uso desse óleo como fonte de energia é vantajoso devido à sua capacidade de ser utilizado imediatamente após a extração, contribuindo para a produção de energia limpa”,

explica ao diretor.

Além disso, todos os produtos derivados do dendê, incluindo o óleo, são aproveitados. A polpa é utilizada como ração animal, a fibra é queimada na caldeira para produção de energia elétrica, e os resíduos são usados como biomassa. “Desde 2018 a indústria de óleo está em operação, com a geração de energia iniciada em 2023”.

Envio de energia para Roraima

Há um acordo firmado entre as usinas de produção de biocombustível e a Roraima Energia. Conforme Claudio, o óleo produzido pela BBF é entregue à Roraima Energia, que distribui para os consumidores em um contrato firmado com o Governo Federal.

“O valor pago pela energia é determinado por um contrato estabelecido em leilões, e a tarifa oferecida é aceita pela empresa, garantindo a geração e o pagamento da energia produzida”.

A energia a fornecida pelos geradores na Roraima Energia que utilizam como fonte de geração o biocombustível/biomassa por sua vez, é distribuída ao subsistema no qual estão conectados, ou seja, o subsistema Boa Vista, que possui um total de 199.410 unidades consumidoras.

A bioenergia de Roraima é fornecida pelas seguintes usinas termelétricas:

– Usina Bonfim, que produz biomassa por resíduos florestais (cavaco), localizada no município de Bonfim, Norte de Roraima;
– Usina Pau Rainha, que produz biomassa por resíduos florestais (cavaco), localizada em Boa Vista;
– Usina Santa Luz, que produz biomassa por resíduos florestais (cavaco), localizada em Boa Vista;
– Usina Cantá, que produz biomassa por resíduos florestais (cavaco), localizada no município de Cantá, Norte de Roraima;
– Usina BBF Baliza, que produz biocombustível por resíduos de óleos de palma, localizada no município de São João da Baliza, Sul de Roraima;
– Usina BBF Forte São Joaquim, que produz biocombustível por meio de óleos vegetais, localizada em Boa Vista
– Usina Palmaplan, que produz biocombustível por meio de óleos vegetais, localizada em Rorainópolis, Sul de Roraima.

Amazônia Que Eu Quero

Projeto da Fundação Rede Amazônica, o Amazônia Que eu Quero chegou a mais uma temporada e tem como tema a bioeconomia. Na última semana, o CEO do Grupo Rede Amazônica Phelippe Daou Jr visitou a usina da BBF no Sul de Roraima, na expectativa de fechar parcerias..

“Há um grande potencial de crescimento na região de Roraima, que antes era pouco aproveitada, e estamos comprometidos em promover parcerias para impulsionar o desenvolvimento do estado, garantindo segurança jurídica em operações como esta”,

disse o CEO, enquanto conhecia as operações da empresa.
Phelippe Daou Jr, CEO da Rede Amazônica, visita usina de óleo de palma no Sul de Roraima. Foto: Caíque Rodrigues/g1 Roraima

Isolamento energético

Roraima é o único estado do país que não é ligado ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e, durante anos, dependeu da energia fornecida pela Venezuela. No entanto, o país parou de enviar energia ao estado em março de 2019 e, desde então, o trabalho é feito por quatro termelétricas da Roraima Energia.

O parque térmico do estado é formado pelas usinas termelétricas de Monte Cristo, na zona Rural de Boa Vista, Jardim Floresta e Distrito, ambas na zona Oeste, e Novo Paraíso, em Caracaraí, região Sul do estado.

Estrada que dá acesso a reserva indígena Waimiri-Atroari. Foto: Valéria Oliveira/Arquivo g1 Roraima

Atualmente, duas turbinas da Usina Termoelétrica Jaguatirica II já estão em operação e ajudam a reduzir o consumo da usina termelétrica do Monte Cristo, que funciona a óleo diesel.

Os 715 km do Linhão de Tucuruí são apontados como o fim do isolamento elétrico e dos constantes blecautes. O início da obra foi foco de um impasse por 11 anos, já que 122 km de torres vão atravessar a reserva Waimiri Atroari.

Sem a energia importada, o custo para fornecimento elétrico estado é de R$ 8 bilhões por ano — conta que é dividida entre todos os consumidores de energia elétrica do país. E, para reverter esta situação, a solução é construção do Linhão de Tucuruí.

*Por Caíque Rodrigues, do g1 Roraima

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