Com 18 anos recém-completados, a Reserva Extrativista (Resex) Tapajós-Arapiuns, localizada nos municípios de Santarém e Aveiro, é uma dos maciços verdes mais preservados do Pará, Estado que acumula a maior área de desmatamento da Amazônia legal, de 1988 a 2016. Composta de 74 comunidades, a reserva concilia geração de renda para os moradores com a conservação da Floresta Amazônica.
A unidade é considerada um modelo de gestão na Amazônia. As comunidades são organizadas em cerca de 50 associações locais – abarcadas por um associação-mãe, chamada Tapajoara – que participam do conselho gestor da Resex. Todas as decisões sobre a reserva passam pelo conselho e a população tem voz ativa. Participam ainda do conselho o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela gestão do território, representantes estaduais e municipais, universidades, organizações não governamentais e cooperativas.
Para a população, a qualidade de vida melhorou desde a implantação da reserva: a oferta de educação aumentou assim como o número de projetos financiados por organizações e desenvolvidos em parceria com universidades. Apesar dos avanços, a comunidade ainda reivindica a chegada da luz elétrica e melhorias na saúde e educação, que ainda são precárias.
Uma das principais demandas da comunidade é energia. “Na saúde, a energia poderia ajudar na conservação da medicação, não temos remédios como soro antiofídico porque nos nossos postos de saúde não têm energia”, acrescenta.
Mobilização
Sem serviços básicos de qualidade, as comunidades se organizam para cuidar dos locais. É o famoso puxirum, que significa mobilização. Um dia por semana, os comunitários se reúnem para limpar ruas, plantar árvores e fazer atividades. Nesse dia, geralmente não se cobra e não se paga.
“Além do trabalho comunitário, o puxirum pode ser convocado por qualquer pessoa. Por exemplo, se eu tenho que limpar uma rua ou fazer uma roça, convido o povo e arranjo uma comida. Fazemos uma panelada de feijão com farinha e vai todo mundo trabalhar”, explica José Rosário Fonseca, Tugurrilho, 69 anos, da comunidade São Pedro.
Tugurrilho viu a Resex ser criada e lutou pela região. “Batalhamos muito, fomos ameaçados de morte pelas madeireiras, ninguém dava ouvido para isso. Mas conseguimos o nosso objetivo, foi a Resex que menos demorou para ser criada”, diz. “De lá para cá, melhorou. Ficamos com o direito à nossa terra para trabalhar e não para destruir como estavam fazendo”.
Conservação
A unidade ocupa uma área de 677.513 hectares. Foi criada em 6 de novembro de 1998 por demanda das comunidades. O objetivo na época era proteger o território dos ribeirinhos do avanço das madeireiras que atuam no local. Nas 74 comunidades que fazem parte da reserva vivem 3.660 famílias, cerca de 15,3 mil habitantes. A área é gerida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
A Amazônia tem 7,5 milhões de km², está presente em nove países e ocupa 40% do território da América do Sul. É a maior e a mais importante floresta tropical do mundo. Na floresta está localizada a maior bacia hidrográfica do mundo, com 20% da água doce do planeta.
Entre os dias 10 e 18 de setembro, a Agência Brasil visitou sete das 74 comunidades que compõem a Resex, a convite do Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa). Coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, o programa apoia a criação e implementação de unidades de conservação federais e estaduais na Amazônia desde 2002. A reportagem conheceu também Cachoeira do Aruã e Alter do Chão, comunidades que não fazem parte da unidade. A expedição percorreu 450 km pelos rios Arapiuns e Tapajós.
Atualmente, o programa atua em 114 unidades de conservação (45 estaduais e 69 federais) e disponibiliza equipamentos, contratação de serviços e outras ações necessárias para a gestão das unidades de conservação. É implementado em parceria com governos estaduais da Amazônia, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Fundo para o Meio Ambiente Global (GEF), o Banco Mundial, o KfW (banco de cooperação financeira da Alemanha), o WWF-Brasil, o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) e organizações da sociedade civil.