Peixes e óleos da Amazônia na mira de empresas

Comprar um produto natural de qualidade nos supermercados ou até mesmo naquela feira de bairro é complicado. Fica difícil o consumidor reconhecer a pureza da matéria-prima que, muitas vezes, é adulterada para revenda.

Pensando na qualidade dos produtos naturais, no bem-estar do consumidor e na Biodiversidade como um todo, duas empresas das 40 incubadas que tiveram seus projetos aprovados e financiados pelo Programa Sinapse da Inovação desenvolveram ideias revolucionárias para melhor atender a demanda do ramo alimentício regional.

O programa Sinapse está ligado a  Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e ao Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi).

Os projetos inovadores são: ‘Preparo de Pratos Prontos para o Consumo a Base de Pescados Embalados sob Atmosfera Modificada – Bioeconomia’, do professor, engenheiro de pesca, mestre e doutor em Aquicultura, Marcondes Agostinho Gonzaga; e o ‘Sensor eletroquímico para qualificação de óleos e extratos vegetais do Amazonas’, desenvolvido pelo professor da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e diretor da empresa E-Bios, Ricardo Brito.

Professor, engenheiro de pesca, mestre e doutor em Aquicultura, Marcondes Gonzaga. Foto: Reprodução/Jornal do Commercio
O primeiro projeto, o de pratos prontos de pescado ligado a empresa incubada AquaNorte, tem o objetivo de criar um alimento de conveniência diferente dos produtos que já existem no mercado. Que consiste em Embalagem com a Atmosfera Modificada (EAM), ou seja, a inclusão de produtos alimentícios com barreira a gases, onde o meio gasoso é modificado para inibir a deterioração e também para manter a melhor qualidade do alimento perecível durante sua vida in natura ou, aumentando sua vida-de-prateleira.

De acordo com o idealizador do projeto, o professor Marcondes Gonzaga, este processo, juntamente com uma correta manipulação e aplicação do frio, permite prolongar em até 15 dias a vida útil do pescado refrigerado, pois o sistema controla as reações químicas, enzimáticas e microbiológicas. “A princípio a pesquisa está sendo feita com três espécies de peixes: o Pirarucu, Tambaqui e o Aruanã. Estamos trabalhando nesses peixes que não são nem congelados e nem prontos, mas sim, frescos. Eles são embalados sob uma determinada atmosfera, tendo uma vida útil superior aos dos produtos convencionais, com as características de um produto natural”, explica Marcondes.

Sobre a comercialização do produto embalado, o professor prevê para o final do mês de fevereiro. “Para a distribuição, vamos tentar focar nas grandes empresas como rede varejista de supermercados, pequenos empórios, lojas de conveniência e alguns restaurantes que queiram abraçar nosso produto, o prato rápido”, conclui o professor. 

Valor do alimento

O prato custará algo em torno de R$ 10 a R$12 a porção para uma pessoa. “E nesse prato o peixe vem acompanhado de outros produtos naturais como os legumes, que já são comercializados cozidos a vapor”, informa.

Também para a comercialização, o professor prever uma capacidade produção de 50 toneladas por mês de peixes vindos da piscicultura. “Esses peixes vêm de alguns municípios como Lábrea, Fonte Boa, Maraã, Tefé e outros onde são feitos os manejos”.

Para a pesquisa do projeto, Marcondes contou com a parceira do professor Marcos Amorim, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), pesquisador Nilson Carvalho, do Inpa e mais alguns colaboradores que irão fazer os arranjos técnicos e administrativos como o economista, Pedro Monteiro, e o administrador Willian Douglas do Nascimento.
A empresa AquaNorte está incubada na Agência de Inovação na Incubadora da UEA, no prédio da Escola Superior de Estudos Sociais (Eso), localizada na avenida Castelo Branco, bairro da Cachoeirinha.

Outra empresa

Enquanto uma empresa cuida da conservação do alimento natural por mais tempo, a outra incubada, e-Bios, busca desenvolver sensores que possibilitem a qualificação de plataformas de diferentes matérias-primas como, por exemplo, óleos de copaíba, manteigas, extratos, vegetais e outros.

Através do projeto ‘Sensor eletroquímico para qualificação de óleos e extratos vegetais do Amazonas’, o professor da Ufam, Ricardo Brito afirmou que os produtos naturais do Estado, como óleos e extratos, carecem de uma metodologia de qualificação que faz com que o valor agregado seja bem baixo. “Então o que propomos é valorizar a matéria-prima amazonense, não só no mercado nacional como no internacional”.

Há um ano no mercado e com 10 pesquisadores envolvidos, a e-Bio está em processo de incubação na incubadora da Ufam, que faz parte do Sinapse. “Tivemos recursos recebidos do Sinapse que foi o start da nossa Startup, porque nos abriu um monte de possibilidades e também ajudou muito na divulgação das nossas ideias. Tivemos várias propostas a partir dessa divulgação pelo edital do programa. E hoje a empresa está crescendo e nós já temos contratos com várias empresas e projetos em conjunto com instituições. Mais, o mais importante é elevar a pesquisa que desenvolvemos no laboratório da Ufam.

E sobre a comercialização do produto, Brito informa que a empresa ainda está com o projeto em desenvolvimento. “Como funcionará o sensor, uma determinada cooperativa que produz a matéria-prima X e tem interesse de comprar esse produto, mas não sabe qual a qualidade dele. Então criamos padrões de qualidade para evitar a falsificação dessa matéria-prima, que essa cooperativa extraia e queira vender para uma indústria de cosmético ou alimentício. Provaremos através do sensor que aquela matéria-prima é verdadeira ou é adulterada”.

Para cada matéria-prima a empresa desenvolverá um sensor específico

De baixo custo, o sensor não poderá ser vendido de forma unitária. “O maior custo é a mão de obra e desenvolvimento para cada necessidade. Cada sensor saí por um preço de R$1,20. E o aparelho de medição nos valores entre R$150 a R$200. O diferencial desse sensor é a tecnologia embutida nela. Que não podemos revelar”.

O Grupo e-Bio faz testes em grafeno

Desde 2013 na Ufam, o professor Walter Ricardo Brito é líder do Grupo em Bioeletrônica, Dispositivos Fotovoltaicos e Química de Materiais e desenvolve experimentos em três linhas de pesquisa no referido laboratório: desenvolvimento de células solares a partir de pigmentos vegetais extraídos na Amazônia; processo de transferência de grafeno para matrizes poliméricas; e criação de sensores bioeletrônicos para reconhecimento e teste em diversos extratos vegetais.

Pioneirismo

A ideia da primeira pesquisa é desenvolver células solares a partir de extratos vegetais da Amazônia, com base nos estudos com células modificadas de Graetzel. Os fotossensibilizadores (excitados pela luz) naturais provêm de extratos e pigmentos de plantas Amazônica, que são estudados pela equipe em projetos relacionados ao desenvolvimento de dispositivos fotovoltaicos para gerar energia. Na prática, o grupo pretende produzir células solares em kits de baixo custo e boa eficiência. “Elas podem substituir energia elétrica para fazer funcionar rádios ou lâmpadas”, diz o professor, ao lembrar que as células de silício produzidas hoje em larga escala são caras e poluentes.

Para fabricar as células solares, hoje é utilizado um material chamado ITO, que é importado de Taiwan. No entanto, esse material não é flexível e tem custo elevado. Ao buscar a solução para o problema, um projeto para transferência de grafeno (material formado por única camada de átomos de carbono, enquanto o grafite é formado por várias camadas que deslizam quando ‘gastamos’ a ponta), que é mais barato e flexível.

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