Walmir e mais três internos são responsáveis pela criação de porcos (suinocultura), que são destinados à venda. A suinocultura é uma atividade econômica de produção em escala intensiva de carne, por meio do confinamento dos animais. Atualmente, o Brasil é o quarto maior produtor mundial de carne suína.
“Eu faço parte do projeto há um ano e três meses. Desde os 12 anos que eu via meu pai trabalhando com os animais. Ele cuidava de porcos, cavalos, bois, e com isso eu fui aprendendo um pouco de cada. Quando eu vim para a colônia pude colocar em prática o que eu já sabia, e fui aprendendo técnicas que ainda não tinha visto. Uma oportunidade única na minha vida, já que eu nem imaginava o lucro que poderia ter trabalhando com os animais que eu criava”, disse Walmir Andrade Cavalcante.
Nas regiões Nordeste e Norte do Brasil a produção de suínos ainda é mais voltada para a subsistência, um cenário que começou a mudar há pouco tempo. “No interior a gente cuidava dos animais com o objetivo de comer em datas festivas, como Círio, Natal e Ano novo. Quando cheguei aqui que eu vi que era um bom comércio, vende muito. Então, quando eu sair quero montar um negócio pra mim e continuar nesse ramo, que é bem lucrativo. O único problema é que eu me apego demais aos animais. Uma vez morreu uma leitoa e ficou o filhote. Eu cuidei dele até crescer e, na hora de vender, foi um drama, eu não queria deixá-lo ir. Mas infelizmente tive que deixar. É nosso trabalho, né? Mas meu sofrimento foi muito grande, ainda tenho que aprender a não me apegar a eles”, relatou Walmir Cavalcante.
Cuidado redobrado
Hoje, a criação de porcos dentro da Cpasi conta com 28 matrizes e sete reprodutores. Os animais ficam confinados em baias, são alimentados e comercializados. “Os detentos precisam morar na Colônia para poder ficar mais perto dos animais e dar o tratamento adequado. Antes de virem pra cá passaram por uma seleção rígida, porque não podemos colocar qualquer pessoa para cuidar dos suínos. Tem que ter responsabilidade e atenção, principalmente com a alimentação deles, que é alternativa e também com ração balanceada. Aqui eles trabalham com animais recém-nascidos, partos, aplicação de medicamentos. É um cuidado redobrado. Toda a nossa produção é destinada para a venda, e o recurso é mandado para uma conta da Susipe, que volta como suprimento de fundo para manter o projeto. Aqui nós só não fazemos o abate”, informou Reinaldo Nascimento, coordenador de campo da Colônia Agrícola.
Para o detento Manoel Farias, 39 anos, o Projeto Nascente é uma oportunidade que poucos sabem o valor que tem. “Eu gosto muito de trabalhar aqui, e não foi fácil chegar até esse projeto, porque eles não colocam qualquer um para cuidar dos animais. Foi difícil, mas eu consegui. Só não sai daqui transformado quem não quiser, porque aqui é uma ótima oportunidade para ver que a gente ainda tem chance de construir algo melhor. Eu quero mudar e trabalhar muito. Aqui eu estou tendo a base de vida que eu não tive quando era mais jovem”, contou Manoel.
Maior procura – De acordo com Reinaldo Nascimento, o período de maior comercialização dos suínos é outubro, por conta do Círio de Nazaré, e dezembro, devido ao Natal e às festas de Ano Novo. “O ano todo vende, mas nesses dois meses a procura é muito maior. Nós vendemos a R$ 5,00 o quilo, acima de 40 quilos. Quem quiser adquirir um suíno desses é só vir aqui em horário comercial, de segunda a sexta-feira”, informou o coordenador.
Para Ivaldo Capeloni, diretor de Reinserção Social da Susipe, ao participar de um projeto como esse o interno aprende um ofício e ganha qualificação para o mercado de trabalho. “Esse conhecimento impulsiona um retorno mais breve à sociedade, pois ele passa a se sentir parte dessa mesma comunidade e da maneira mais digna possível, através de seu trabalho. Além disso, os detentos ainda têm a remição de pena, já que três dias trabalhados significam um a menos no cárcere”, reiterou.