Na Amazônia, mulheres lideram iniciativas de conservação ambiental e desenvolvimento sustentável

De acordo com pesquisa, são as mulheres que mais contribuem para a conservação da biodiversidade e as maiores responsáveis por práticas sustentáveis de conservação da natureza

Em qualquer parte do mundo, as mulheres se unem em torno de causas, lutando por independência e protagonismo. As mulheres desempenham um papel importante na mitigação das mudanças do clima. Segundo a Aliança Global de Gênero e Clima, especialmente na America Latina, são as mulheres que mais contribuem para a conservação da biodiversidade e as maiores responsáveis por práticas sustentáveis de conservação da natureza.

Foi em meio à floresta, que surgiu a Inatú Amazônia, uma marca coletiva criada por organizações sociais, que luta pela conservação ambiental e pela melhoria da qualidade de vida das populações amazônicas. Com apoio técnico do Idesam, a marca é composta por 5 associações membro, AACRDSU, APADRIT, APFOV, ASAGA e ASPACS.

Foto: Renato Stockler/ Folha Press

A marca comercializa tanto para o consumidor final, quanto para outros negócios. Entre 2019 e 2023, já vendeu cerca R$ 9 milhões em produtos da sociobiodiversidade e apoiou na conservação de mais de 2 milhões de hectares de área de floresta. Os produtos oferecidos pela Inatú Amazônia, incluem óleos vegetais como a copaíba, andiroba, buriti, café verde, breu, e os objetos de madeira produzidos em movelaria familiar, com madeira proveniente do plano de manejo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã.

Louise Lauschner, mulher amazônida e especialista na Iniciativa de Produção Sustentável do Idesam, destaca o trabalho da Inatú Amazônia® na promoção do impacto social nas comunidades locais, que hoje conta com a atuação de 657 famílias dentro das cadeias de valor, sendo destas, 167 mulheres em posições de liderança.

“A Inatú Amazônia® é uma tecnologia social, que atua junto a 3 usinas de óleos vegetais de 3 diferentes associações e nelas é possível fazer a extração desses óleos dentro das comunidades. A ideia é que os jovens e as mulheres das comunidades possam se manter nesse território com uma fonte de renda vinda do fortalecimento da cadeia produtiva”, explica, destacando que na construção dos projetos e investimentos feitos nessas cadeias, a profissionalização e a qualificação são fundamentais.

Louise também destaca a importância do reconhecimento e valorização do papel das mulheres que estão nas unidades de conservação atuando nas cadeias produtivas, pois apesar das diferenças geográficas, todas enfrentam problemas muito similares. Ela exemplifica situações em que as contribuições das mulheres são apagadas, com os méritos sendo atribuídos aos homens, mesmo quando são elas quem executaram as atividades.

“Ter esse olhar feminino para perceber e identificar situações como essa, é extremamente relevante para valorizar aquela mulher e trazê-la à frente. O machismo é muito presente. Não só nessas unidades de conservação, mas no mundo como um todo. Então, a gente precisa fazer esse empoderamento e essa conscientização nas comunidades, e isso se dá através de capacitações, na abordagem de questões de gênero, ou pode se dar através desse empoderamento feminino, onde a gente valoriza o trabalho e faz com que aquela mulher se sinta importante também”, afirma.

Elizângela Cavalcante com objetos de madeira feitos na Movelaria ILC Cavalcante. Foto: Divulgação/ Idesam

Um sonho familiar 

“A movelaria foi isso, um sonho, que a gente sabia que não ia ser fácil realizar, mas a gente foi em busca… com o apoio dos nossos parceiros, com a incentivo da família e com o pensamento de que a gente precisa fazer as coisas acontecerem no local que a gente vive”, é o que diz Elizângela Cavalcante, gestora da Movelaria Familiar ILC Cavalcante, professora, administradora da certificação FSC no Plano de Manejo Comunitário da AACRDSU e idealizadora da Rede de Fortalecimento das Mulheres Ribeirinhas. Ela é uma entre tantas mulheres lutando pela conservação da floresta, dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) do Uatumã, na comunidade de São Francisco do Caribi.

A conquista da movelaria veio a partir da criação do primeiro Plano de Manejo Comunitário dentro da Reserva, desenvolvido em 2021, junto ao Idesam, por meio do projeto Cidades Florestais e com apoio do Fundo Amazônia. “A gente tinha ciência de uma coisa, que para a movelaria acontecer, a gente precisava ter um plano de manejo comunitário. E a gente se envolveu muito, foi o passo mais importante da vida da gente. Em seguida, aí sim, veio a construção da estrutura física da movelaria. E foi muito difícil. Melhorou bastante quando a gente começou a ter apoio do Idesam e da da CLUA (Climate and Land Use Alliance)”, conta.

O desejo inicial de Elizangela e sua família, era uma movelaria para produção de móveis, mas com o apoio técnico adquirido pelos parceiros, surgiu a ideia de produzir objetos em madeira. “Aí foi uma ideia muito boa, porque fazendo os objetos de madeira, a gente sabia que ia usar menos matéria-prima. Vamos dizer que com a madeira que faz uma cama, eu consigo fazer 40 peças pequenas, 40 objetos, então já melhorou. Porque a nossa preocupação não era somente em gerar renda, a nossa preocupação também vinha de gerar renda e conservar a nossa floresta”, relembra Elizangela.
No ano passado, Elizangela foi escolhida como uma das 20 lideranças femininas dos 5 biomas brasileiros, para participar do Programa ‘Elas Lideram’, que reúne mulheres protagonistas que estão fazendo sua história, impactando positivamente o mercado, revolucionando a gestão de empresas, trazendo impactos reais nos negócios com inovação, engajamento, representatividade e contribuindo para evolução e transformação para uma sociedade com mais equidade de gênero. “Eu nunca almejei isso. Eu nunca almejei me destacar em alguma coisa. Eu almejei só melhorar a vida da nossa comunidade. Eu almejei só ter dias melhores para mim e para quem está chegando”.

Fruto que dá origem à manteiga de tucumã. Foto: Divulgação/Idesam

Rede de Mulheres Extrativistas 

No sul do Amazonas, em Lábrea, também vive Socorro Rodrigues, líder da Usina de Processamento de Óleos Vegetais da Associação Agroextrativista da Colônia do Sardinha (ASPACS), que também integra a Inatú Amazônia. Ela conta que dentro da Associação, existe uma rede composta por 60 mulheres extrativistas, dentro da cadeia do murumuru. “Existem muitas mulheres dentro dessa cadeia, que trabalham diretamente com o extrativismo, a limpeza e a secagem do fruto. Não só do murumuru, mas da andiroba também, mulheres extrativistas de comunidades tradicionais ribeirinhas do Rio Purus e alguns afluentes”.

Socorro foi uma das responsáveis pela estruturação da cadeia do murumu, através do projeto Cidades Florestais, coordenado pelo Idesam junto com a ASPACS. Hoje a manteiga processada na Usina é o produto mais consolidado da Associação, que também trabalha com o óleo de andiroba, a manteiga de tucumã e o cumaru, que ainda está sendo estudado pela organização. “No caso dos óleos a gente trabalha dependendo da demanda. A Usina tem capacidade pra produzir bem mais coisa do que produzimos hoje, então qualquer outro óleo ou manteiga que a gente queira extrair, as nossas máquinas têm capacidade pra isso”.

Além de gerenciar a Usina, Socorro também é responsável pelo gerenciamento das cadeias dentro do território, em torno de 37 comunidades no Rio Purus. “Meu trabalho é estar presente nessas comunidades, com as famílias extrativistas. No início do ano, a gente faz uma primeira viagem que é pra contratação de safra. E aí a gente viaja pra todas as comunidades, rio acima rio abaixo, tendo esse acompanhamento de visitas mesmo, porque a gente não busca só o produto pelo produto, mas a gente busca o desenvolvimento sustentável aqui da região, buscando uma melhor renda para o comunitário’, relata.

Socorro Rodrigues – Líder da Usina de Processamento de Óleos da ASPACS. Foto: Divulgação/ idesam

Socorro foi uma das responsáveis pela estruturação da cadeia do murumu, através do projeto Cidades Florestais, coordenado pelo Idesam junto com a ASPACS. Hoje a manteiga processada na Usina é o produto mais consolidado da Associação, que também trabalha com o óleo de andiroba, a manteiga de tucumã e o cumaru, que ainda está sendo estudado pela organização. “No caso dos óleos a gente trabalha dependendo da demanda. A Usina tem capacidade pra produzir bem mais coisa do que produzimos hoje, então qualquer outro óleo ou manteiga que a gente queira extrair, as nossas máquinas têm capacidade pra isso”.

Além de gerenciar a Usina, Socorro também é responsável pelo gerenciamento das cadeias dentro do território, em torno de 37 comunidades no Rio Purus. “Meu trabalho é estar presente nessas comunidades, com as famílias extrativistas. No início do ano, a gente faz uma primeira viagem que é pra contratação de safra. E aí a gente viaja pra todas as comunidades, rio acima rio abaixo, tendo esse acompanhamento de visitas mesmo, porque a gente não busca só o produto pelo produto, mas a gente busca o desenvolvimento sustentável aqui da região, buscando uma melhor renda para o comunitário’, relata.

Lígia Tatto, sócia-fundadora da empresa, diz que para elas, enquanto mulheres empreendedoras, o seu papel é justamente o de conseguir mostrar que dá para fazer a diferença enquanto mulheres. “Hoje 95% das nossas fornecedoras, das artesãs, são mulheres… dentro da Urucuna nós somos duas sócias mulheres e temos uma mulher que é contratada para ajudar a gente na parte da comunicação… Então hoje é um movimento bem feminino”, destaca.

Ela relata o valor de adquirir matéria-prima de uma cadeia que beneficia outras mulheres. “A gente se vê enquanto essas mulheres que precisam ter a própria autonomia de certa forma, autonomia financeira, mas também vê que essas mulheres precisam ainda mais, porque elas são responsáveis pelas suas próprias famílias e precisam fazer o negócio girar, porque independente de qual tipo de sociedade que a gente está inserida, é sempre a mulher que está olhando para a questão de cuidado familiar”.  

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