O Brasil pode aproveitar mais e melhor o potencial dos mercados de biodiversidade e floresta pela diversificação e fabricação de produtos de maior valor agregado. Essa é a conclusão dos estudos Florestas e Indústria: agenda de desenvolvimento e Uso econômico da biodiversidade pela indústria no Brasil, lançados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) nesta quinta-feira (22), no Rio de Janeiro, durante a quinta edição do CNI Sustentabilidade.
O evento, cujo tema foi Biodiversidade e florestas: novos modelos de negócios para a indústria do amanhã, reuniu empresários e especialistas brasileiros e estrangeiros em debates sobre os desafios e as oportunidades para a indústria quando valores éticos e socioambientais, como transparência, respeito a comunidades e conservação do meio ambiente, reorientarem os padrões de consumo.
No segundo painel do evento, que tratou do papel do mercado na valorização das florestas e da biodiversidade, o diretor-executivo da Union For Ethical Biotrade, Rik Kutsch Lojenga, mencionou que as empresas têm se conscientizado cada vez mais quanto a importância da biodiversidade como fonte de inovação. “Biodiversidade não é só uma coisa legal que você usa, mas é uma fonte de inovação para muitas empresas”, frisou.
Para o presidente da empresa Beraca, Ulisses Sabará, as ações de sustentabilidade e o uso consciente da biodiversidade, além de colaborarem com a conservação do planeta, geram retornos expressivos para as empresas. “Precisamos mudar o nosso sistema de fazer negócios, alterando os nossos valores. Este é um desafio, mas temos uma janela de oportunidades para aproveitar. Existe espaço para todos nos engajarmos e temos que fazer isso”, recomendou Sabará.
Na mesma linha, a presidente da Indústria Brasileira de Árvores, Elizabeth Carvalhaes, defendeu que as empresas usem de forma sustentável a enorme biodiversidade brasileira. “Cuidar da biodiversidade é permitir que outras gerações usufruam o que temos hoje”, disse. O português Rui Pedro Ribeiro, CEO da Agrocortex Florestas do Brasil, afirmou que a biodiversidade representa uma “oportunidade enorme de negócios”. Ele comanda uma empresa de manejo florestal sustentável, no Acre.
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Exportações
O valor total das exportações mundiais de produtos florestais chega a aproximadamente US$ 230 bilhões – o Brasil participa com pouco mais de 3% desse mercado. “O país, de uma maneira geral, ainda participa pouco do mercado internacional e apresenta muitas barreiras ao comércio”, destaca o estudo Florestas e Indústria.
Além disso, apesar do crescimento contínuo dos produtos brasileiros lá fora, ocorreu uma tendência de domínio de celulose de fibra curta – usada para produção de papel higiênico, toalhas de cozinha, lenços de papel, guardanapos, entre outros –, com estabilidade nas exportações de papel e queda acentuada do segmento de madeira sólida. De acordo com o estudo, isso reflete a baixa diversificação produtiva, com enfoque em produtos de menor valor agregado.
Entre os obstáculos para o desenvolvimento desse mercado está a regulação burocrática e incompatível com a realidade, além de inibidora de inovações e melhorias nas áreas de manejo florestal e de reflorestamento. Exemplo dessa falta de sincronia está no Plano Plurianual 2016-2019, que estabelece a ampliação da concessão florestal de 840 mil para 3,5 milhões de hectares, sendo que em 10 anos não se conseguiu atingir a meta de 1 milhão de hectares sob concessão. “Essa situação reflete a falta de prioridade que a agenda de desenvolvimento florestal ocupa no projeto de desenvolvimento nacional”, destaca o estudo.
Para superar esses gargalos, a CNI propõe a construção de uma política florestal ampla, com mais sinergia entre segmentos-chave que fortalecem a economia de base florestal, como habitação, energia e agronegócio. Além disso, a entidade defende a ampliação da participação do Brasil no comércio global de produtos florestais, por meio do aumento da produtividade, diversificação industrial e alinhamento e integração da cadeia produtiva florestal. Biodiversidade
O estudo Uso econômico da biodiversidade pela indústria no Brasil analisou o mercado em cinco estados: Amazonas, Bahia, Goiás, Minas Gerais e Paraná. Em todos os estados da amostra, houve predominância de commodities. No trabalho, também foram apresentados exemplos de exploração sustentável dos recursos, como celulose no Paraná, madeira no Amazonas, açúcar e álcool em Goiás e café em Minas Gerais.
Entre os estados selecionados, Goiás foi o que apresentou a economia baseada na biodiversidade mais expressiva. Esse mercado representa 60% de todo o valor da produção industrial do estado. O principal segmento é o de produtos alimentícios, seguido do de biocombustíveis. O Paraná é o segundo estado da amostra com maior peso de produtos da biodiversidade na economia. Eles representam 64% de todas as exportações do estado. Entre os principais produtos desse mercado estão alimentos, papel e celulose e soja.
A Bahia é outro estado com elevada biodiversidade e o segmento tem participação em 23% do valor da produção local. Entre os produtos extrativos, a madeira em tora, a lenha e a piaçava se destacam. Na agricultura, commodities como soja, algodão e milho são os principais produtos.
Em Minas Gerais, um quarto da produção industrial vem de produtos baseados na biodiversidade, com destaque para produtos agrícolas, sobretudo, o café. Amazonas foi o estado, entre os cinco selecionados, com a menor participação no mercado da bioeconomia. O segmento de bebidas é o que está a frente, sobretudo, pelos produtos à base do guaraná.
O Amazonas mostrou força econômica com o setor de serviços e a indústria, com dados divulgados pela Sedecti após dois anos necessários para consolidação.