O volume de negócios gerados pelo Polo Industrial de Manaus (PIM) é o grande sustentáculo do discurso pela manutenção da Zona Franca de Manaus (ZFM), mas essa potência industrial contrasta com a carência de gêneros de primeira necessidade, o que faz com que a capital amazonense recorra continuamente a produtores externos. Como fazer com que estes insumos (para a indústria e comércio) circulem com eficácia nas ruas já fisicamente limitadas é um dos maiores desafios do setor de logística no Amazonas.
A proibição de tráfego para carretas com contêineres e caminhões acima de oito toneladas ainda que restrita a poucas ruas de Manaus compromete a ‘alimentação’ do Distrito Industrial, conta o secretário executivo do Setcam (Sindicato das Empresas de Agenciamento, Logística e Transportes Aéreos e Rodoviários de Cargas do Amazonas), Raimundo Augusto Neto. “Manaus tem uma frota de 700 mil veículos, 300 mil a mais do que os engenheiros de trânsito dizem suportar. Isso afeta as operações de carga e descarga para o PIM e as autoridades parecem não atentar para o fato de que o Polo é o grande empregador do Estado”, ressalta.
Segundo o secretário, as medidas ‘disciplinadoras’ e as restrições são ações para agradar alguns setores da sociedade. “A faixa azul nas avenidas Noel Nutels, Max Teixeira e Torquato Tapajós, na zona Norte, por exemplo, retira um caminhão e coloca três ônibus no lugar.
As restrições de tráfego na área central impedem o bom trabalho de carga e descarga e nos horários noturno, além dos extras, temos que nos preocupar com segurança, que é uma questão que não nos compete”, comenta Augusto. A falta de estrutura é o que obriga o uso das vias urbanas por caminhões pesados.
“Não existem portos públicos próximos ao DI, esses portos desafogariam em muito o trânsito já caótico. A saída e chegada de insumos via aeroporto seria melhorada com o arco rodoviária, ligando o DI a zona Norte, mas ainda não temos uma data para isso. E quando este for entregue, já estará defasado, pois a frota não para de crescer. O que era ‘para ontem’ está sendo pensado para daqui a 20 anos”, finaliza o secretário.
Setor primário
Dirigir um caminhão baú pelas ruas de Manaus já é difícil e transportar mercadorias perecíveis em horários ‘apertados’ tornam o trabalho de motorista ainda mais árduo, conta o responsável pelo transporte na empresa Tomateti (na Ceasa). “Da sede da empresa até a área central, ainda temos corredores que facilitam o acesso, como é o caso da Manaus Moderna que liga a zona Sul ao porto. Mas se as entregas forem para outras zonas, só temos como caminho cruzar a cidade por dentro. Aí vemos a falta de capacidade do trânsito de Manaus em comportar a enorme frota de veículos”, afirma Hildebrando Franco.
Franco ainda cita as restrições de horário para circulação em algumas vias da cidade como fator de encarecimento do transporte. “Vemos as restrições de horário como algo necessário, mas também é hora de as autoridades pensarem em estratégias, como fazer da Manaus Moderna, por exemplo, um corredor exclusivo para cargas, já que disputamos espaço com carros particulares, temos poucas vagas de estacionamento e a maioria dos barcos parte durante o dia e embarcar cargas na madrugada onera o empresário que precisa pagar horas extras”, finaliza o motorista.
Com alguns serviços prestados ao Distrito Industrial, o caminhoneiro Francisco Mauro também precisou adequar-se às restrições. “Para o DI foi fácil cumprir os contratos de frete, era tudo muito específico, horários e itinerários bem definidos. Já para outros serviços como entrega de alimentos, mudanças e outros fretes, temos que trabalhar com os horários em que as demandas chegam e tudo com muito mais agilidade, o que é dificultado pelo trânsito muitas vezes engarrafado. E trabalhar em horário noturno ou madrugada, pede um ajudante que precisa ser pago por isso, aumentando os custos para o contratante”, resume o profissional.