MANAUS –
O comércio tradicional do Centro Histórico de Manaus foi invadido por uma legião de lojas tipicamente chinesas. Quem anda pelas ruas Guilherme Moreira, Marcílio Dias, Quintino Bocaiuva até a Doutor Moreira percebe a mudança nas vitrines que lembram uma típica “chinatown” (bairro chinês). Mesmo com uma presença forte na capital amazonense, o número de estrangeiros é desconhecido pelo controle migratório da Polícia Federal do Amazonas (PF-AM), a hipótese é de que grande parte dos imigrantes estrangeiros já venha legalizada de outras cidades, pincipalmente via Porto de Santos, no litoral de São Paulo.A presença dos chineses na antiga região onde predominava a Zona Franca, começou tímida há cinco anos. Mas, foi se intensificando em 2013 e 2014, com a realização da Copa do Mundo da FIFA no Brasil, permanecendo em ritmo crescente com a expectativa dos Jogos Olímpicos Rio 2016. A invasão chinesa já se estendeu para as ruas adjacentes, passando pela rua Henrique Martins rumo à Avenida Eduardo Ribeiro, onde foi instalado um condomínio de lojas orientais chamado Dubai Shopping Center.
Um exemplo vem da comerciante chinesa, Fernanda She (32), há três anos em Manaus, ela revelou que chegou ao Brasil em 2004, direto por São Paulo (SP). A família She tinha destino certo, por isso fixou residência na famosa rua 25 de Março, centro de compras paulista preferido dos sacoleiros. Em 2012, a família She decide ampliar os negócios e partem para Manaus. “Encontramos aqui um lugar bom para viver das vendas”, afirma.
Nascida no distrito de Futian, da cidade chinesa de Shenzhen que faz fronteira com Hong Kong, She conta que quando chegou à capital amazonense o comércio era “muito bom”. Hoje na loja montada na rua Quintino Bocaiúva, entre as ruas Marcílio Dias e Doutor Moreira, o movimento caiu. “Falaram para a gente que o comércio era muito bom. E era bom. Mas agora está menos bom ”, lamenta.
Por outro lado, as lojas tipicamente nacionais e as regionais amazonenses, também viram um filão nas vendas de produtos de origem asiática. Os grandes grupos tradicionais como Benchimol (Bemol) e TV Lar estão com as prateleiras cheias de produtos made in China. O mesmo acontece nas lojas multimarcas como Riachuelo, C&A, Marisa, Renner, CLA-Cama Mesa e Banho, além de lojas tradicionais de rua, também são âncoras nos shoppings da cidade.Outra tendência vem das lojas de grife exclusiva como a recém inaugurada Forever 21. A marca norte-americana traz para Manaus preços convidativos que variam de R$ 14,90 à R$ 179,90 dependendo da peça do vestuário feminino. E, as etiquetas revelam origens bem diversificadas dos produtos, por exemplo, algumas peças foram produzidas na Nicarágua, saias vêm do Camboja, tops made in China, shorts do Vietnã, camisas do EUA, minivestidos e blusas são das Filipinas, tops do México, acessórios e meias da Coréia, maquiagem também é made in da China, entre outros.
Apreensões Xing Ling
Mas como nem tudo é legal, nos primeiros dias de fevereiro as apreensões de mercadorias irregulares realizadas pela Receita Federal, representaram cifras significativas, de acordo com a Agência Brasil. No Porto de Manaus a Receita Federal apreendeu mais de 10.400 pares de tênis falsificados, avaliados em aproximadamente R$ 850 mil.
A mercadoria vinha da Malásia, com a marca Asics Tiger. A representação da indústria, depois de consultada pela Secretaria da Receita, analisou uma amostra do produto e constatou que era falsificado. No início de dezembro, um contêiner, com 20 toneladas de mercadorias falsificadas, foi apreendido pela Receita Federal no Porto de Navegantes, Litoral Norte de Santa Catarina. Os produtos vieram da China e tinham como destino o Estado de São Paulo. O valor estimado da carga é de R$ 10 milhões. Óculos de sol, roupas, materiais esportivos, bolsas e acessórios de informática foram encaminhados para destruição. Grande parte deste lote apreendido estava com identificação de marcas internacionais e nacionais famosas.
De acordo com o delegado geral da Receita Federal em Manaus, Leonardo Barbosa Frota, a preocupação do órgão está na informalidade e no descaminho das mercadorias de origem estrangeira. Mas se os chineses ou qualquer outro estrangeiro de origem asiática ou dos demais continentes, estiverem aptos para viver no Brasil, terão que se submeter às leis em vigor no território nacional. “Se por acaso, eles estiverem comercializando sem a abertura de empresa, com mercadorias adquiridas por meio de descaminho, sem os devidos registros dos empregados e por isso prejudicando a arrecadação de tributos, eles estarão sujeitos à legislação brasileira”, frisou.
Controle migratório
De acordo com a PF, para o estrangeiro se manter no Brasil, é necessário entrar com pedido de permanência com base na prole, com a chegada da família. Casar-se com uma brasileira, também é uma forma do estrangeiro, que veio em busca de trabalho, conseguir estabilidade em solo brasileiro. Ou ainda, na situação em que vir com a esposa e prover um filho nascido em qualquer parte do Brasil. Já o filho brasileiro, ao atingir a maior idade (18 anos), está amparado pela lei brasileira de migração que lhe permite escolher a sua nacionalidade. Nos acordos internacionais, o estrangeiro que pretende vir trabalhar no comércio, precisa constar no passaporte o visto especificando que ele irá atuar no setor. O prazo é determinado, também neste visto e pode ser renovado, segundo esclareceu o órgão federal.
No período de 2013 a 2015 as estatísticas do controle migratório da PF-AM (Polícia Federal do Amazonas) revelam que os chineses não estão entre os primeiros da lista de estrangeiros que passam por Manaus. Segundo a PF, todo estrangeiro que adentra ao nosso país é obrigado a fazer registro junto ao setor de imigração do órgão, independente do motivo (negócios, estudos, dentre outros).
Entretanto, se os chineses não aparecem no controle regional, levanta-se a hipótese de que a maioria deles chega à capital amazonense direto da capital paulista, onde provavelmente efetuaram as suas regularizações de permanência no país, junto à PF daquela cidade, de acordo com informações da assessoria de comunicação da PF-AM.