Na esteira dessa tendência, a demanda por flores ornamentais, principalmente tropicais, vem crescendo a cada ano no Pará, fortalecendo pequenos e médios produtores, em especial as cooperativas, e ganhando destaque em eventos de grande porte, como o Flor Pará, que será promovido conjuntamente com o festival de joias e o IV Festival Internacional do Chocolate e Cacau, entre os dias 22 e 25 de setembro, no Hangar Convenções e Feiras da Amazônia. Só este ano espera-se um faturamento superior a três milhões de reais.
O empresário Josuan Piassi conhece muito bem esse potencial. Há mais de 10 anos ele mantém um viveiro com espécies diversas de plantas e flores em um pequeno sítio localizado em Benfica, a 40 quilômetros da capital: o “Rancho Fundo”. O que começou como um hobby compartilhado com a esposa há quase 15 anos, acabou por se tornar um negócio rentável. Hoje, ele envia pelo menos um caminhão carregado por dia com as mais diversas espécies de plantas ornamentais, dispostas em vasos pequenos e médios, para abastecer as principais floriculturas e supermercados de Belém.
Em 2005, Josuan e a esposa foram ao Ceará acompanhados de um grupo de pequenos produtores à convite do Governo do Estado para conhecer uma grande feira de flores e plantas ornamentais. Na ocasião, eles tiveram o primeiro contato com um filão então já consolidado no mercado local: a venda de plantas em pequenos vasos. Por meio da extinta Secretaria de Estado de Agricultura (Sagri) e com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae/PA e da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), eles participaram de cursos ministrados por profissionais trazidos especialmente para capacitá-los no manejo destas espécies.
“Eu e minha esposa começamos com as flores tropicais, mas o custo era alto. Foi quando participamos dessa feira no Ceará, a convite do governo. Lá, eu conheci um engenheiro agrônomo que trabalhava com plantas ornamentais envasadas e vimos que aquilo tinha uma grande saída. Foi dali que começamos nosso negócio”, lembra Josuan, que decidiu levar o negócio adiante mesmo depois da morte da esposa, por ser ela a sua maior incentivadora.
Junto com outros produtores, Josuan participou de cursos voltados aos mais diversos aspectos do plantio, como mudas, substrato, poda, semeadura, germinação, tempo de maturação, ponto de comercialização e outros, todos ofertados pelo governo do Estado. Foi aí que ele transformou o sítio antes reservado ao descanso da família aos fins de semana em um viveiro de mudas, flores e plantas ornamentais. A primeira estufa de Josuan, ainda em 2005, tinha 12 metros de comprimento. Hoje, ele possui 13 estufas com 200 metros, além de uma área destinada à germinação e enraizamento das mudas.
No sítio de Josuan trabalham 17 pessoas, todas moradoras da vizinhança. São pessoas da própria comunidade que receberam treinamento e hoje unem a oportunidade de uma ocupação remunerada à vantagem de trabalhar próximo de casa, o que garante renda e qualidade de vida.
Uma dessas pessoas é Ailton da Silva, 43. Funcionário mais antigo do sítio, ele participou de todos os cursos de capacitação ofertados pela Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap) e pela Emater e hoje é ele quem cuida das mudas e do treinamento dos funcionários, incluindo a própria filha, Anne Silva, 22, que já segue os passos do pai.
“No início eu confesso que não gostava muito, mas depois que fui aprendendo não parei mais. A gente cuida de cada planta dessas como se fosse um filho e quando vai pra casa, o pensamento fica aqui. É assim quando a gente ama o que faz e hoje eu cuido para também passar tudo o que eu sei para a minha filha e para os funcionários que chegam. Assim todo mundo ganha e cresce junto”, diz o floricultor, enquanto prepara as novas mudas.
Além dos cursos de capacitação, a Sedap e a Emater também garantem acompanhamento para acesso dos pequenos produtores ao mercado interno e externo. Desde a primeira edição do Flor Pará, em 2000, até o recente formato do evento, agregado ao Festival Internacional do Chocolate e Cacau da Amazônia e Joias da Amazônia, o governo tem proporcionado meios para que estes produtores possam se desenvolver e alcançar maior participação no mercado.
De acordo com a Emater, a produção de flores tropicais, temperadas e plantas ornamentais no Pará está concentrada principalmente nos municípios de Ananindeua, Belém, Benevides, Marituba, Santa Bárbara, Castanhal, Santa Izabel, Benfica e Santo Antônio do Tauá, devido à melhor logística de transporte e comercialização que o produto exige. Há também uma forte produção em Santarém, que tem se destacado com a produção da “Rosa do Deserto”.
Essa cadeia produtiva também vem se consolidando pelo aspecto socioeconômico, já que se baseia na geração de renda e ocupação da mão de obra familiar. A procura por estes produtos vem crescendo principalmente em razão da demanda gerada por atividades como paisagismo e jardinagem, que acompanham uma tendência de desenvolvimento dos polos urbanos, onde se busca cada vez mais o equilíbrio com elementos da natureza.
“A Emater vem acompanhando estes produtores familiares desde o início das atividades com a floricultura. No início dos anos 2000, nós tivemos a migração de muitos produtores que deixaram de produzir hortaliças devido ao alto custo dessa cultura e nós, então, sugerimos a produção de flores. Desde então estamos fazendo este acompanhando técnico e percebendo o desenvolvimento do setor principalmente em Benevides, que é atualmente o maior polo de produção de flores da região metropolitana de Belém”, explica Soraya Mendonça, agrônoma do escritório da Emater Benevides.
Cada região também tem a sua peculiaridade. Benevides, por exemplo, possui uma grande produção de flores tropicais e temperadas. Castanhal apresenta uma expressiva produção de orquídeas, que são vendidas dentro e fora do Pará. Já uma parte dos produtores, como Josuan, optou por se especializar em plantas envasadas. Dessa forma, a produção varia conforme o local e o floricultor.
O trabalho dos produtores em parceria com a Sedap e Emater tem resultado no aumento da variedade, melhoria da qualidade e conquista de maior espaço nos mercados interno e externo para as flores paraenses. De acordo com a Sedap, existem aproximadamente 300 floricultores formalizados no Pará.
Crescimento
A importância dessa atividade no estado se reflete no maior evento regional do setor: o Flor Pará. Em 2012 a feira movimentou dois milhões de reais em negócios, somando as produções de chocolates e flores. Já em 2015, somente o setor de flores gerou um fluxo de três milhões de reais e a expectativa é que este valor cresça ainda mais em 2016.
Este ano, além do espaço reservado aos expositores, a programação oferece diversos cursos para empreendedores interessados em investir na área da floricultura e paisagismo, um dos grandes filões do setor.
Márcia Quadros trabalha como consultora de projetos na área de meio ambiente, mas dedica parte de seu tempo com a loja de plantas ornamentais, acessórios e adubos que abriu recentemente no Conjunto Maguari, em Belém. Ela, que já era uma grande consumidora, transformou a paixão pelas plantas em um negócio que une oportunidade de mercado ao prazer pessoal.
Ela frequenta o Flor Pará desde o início e vê no evento uma grande oportunidade de aprendizado e negócios. “O Flor Pará já faz parte do calendário de quem é do ramo e também dos apreciadores. Na verdade, nós esperamos o ano todo por essa programação, porque ela nos possibilita ter contato com outros profissionais e trocar conhecimentos. Na feira encontramos grandes viveiristas, além de produtores que trazem sempre coisas muito diferentes e bonitas. Eu já me planejei para consumir bastante por lá e pretendo investir o que aprender, seja em cursos ou na troca de informações, na minha loja”, diz.