Com R$ 950 milhões em caixa para serem investidos na agroindústria em 2017, o governo do Estado parece que dessa vez dará o pontapé na tão aguardada nova Matriz Econômica Ambiental, um tema que foi discutido durante todo o ano de 2016. Nesta semana, a proposta de incentivar a produção em escala comercial e o processamento industrial dos produtos da fruticultura amazonense e o adensamento da piscicultura na região ganhou um novo gás com a visita do governador José Melo, ao município de Manacapuru (distante 98,7 quilômetros de Manaus). Mas para muitos, fazer com que o extrativismo, que é típico da região, se torne uma força industrial ainda é algo distante.
Na visita a Manacapuru, o governador conheceu projetos de processamento de açaí e de criação de peixes em cativeiro e segundo o governo, a potencialização destas duas atividades econômicas tem recursos assegurados, que trarão melhorias a infraestrutura, com o asfaltamento de estradas vicinais. De um empréstimo de R$ 300 milhões tomados junto a Caixa Econômica Federal, R$ 150 milhões serão voltados para duplicação da rodovia AM-010 (Manaus – Itacoatiara), no trecho do município de Rio Preto da Eva.
Os R$ 150 milhões restantes terão como destino a implantação de um projeto de Piscicultura e Fruticultura nos municípios de Rio Preto mesmo, Manaquiri, Autazes, Careiro da Várzea e Careiro Castanho. “Nosso objetivo é termos dois polos concentradores de piscicultura no Estado. A fase seguinte será a instalação da fábrica para enlatar esse peixe, por isso que o grande polo produtor tem de estar em Manaus e na Região Metropolitana”, ressaltou o governador José Melo.
Borracha
Mas se existe recursos assegurados para algumas culturas, outras ainda esperam o aporte necessário para o desenvolvimento, principalmente o da borracha. A compra recente da fábrica da Levorin (primeira no mercado de pneus para bicicletas) em Manaus pela gigante Michelin, deveria animar a heveicultura, mas falta incentivo ao extrativismo, explica o analista de operações da Companhia Nacional de Abastecimento do Amazonas (Conab-AM), Thomaz Meirelles.
“Um fator preocupante é que o Estado não tem a borracha beneficiada para o caso de uma grande demanda por parte da Michelin. O incentivo gerado ao extrativismo do látex com achegada da multinacional esbarra em problemas de logística, mas principalmente pelo atraso no pagamento de subvenções pelo governo do Estado”, lamenta Meirelles.
Segundo o analista, as subvenções precificam cada quilo de borracha em R$ 1, mas há três anos o Estado não vem cumprindo os prazos. “A borracha faz parte do programa de garantia do preço mínimo e vem sendo paga pelo governo federal normalmente. Mas aqui no Amazonas, o atraso é um desestímulo e ameaça fechar toda uma cadeia produtiva, que começa no extrativista interiorano e termina na multinacional”, conta.
Para Meirelles, a falta de capital de giro nas cooperativas e associações que comercializam com os extrativistas é um problema que precisa ser sanado. “As dificuldades são grandes para estas entidades que adquirem a borracha do interiorano. Como não têm como pagar no ato da entrega, ficam sem o produto, já que o seringueiro irá precisar esperar muito até o pagamento e deixa de fazer a coleta do latex. Facilitar o fomento para estes seria uma solução”, comenta.
De acordo com o analista, a Nova Matriz Econômica Sustentável proposta pelo governo do Estado parece estar longe de contemplar o extrativismo amazonense. “Se está nos planos deveria ser posto em prática e rápido. Em conversas com lideranças do segmento seringueiro e outros extrativistas, a reclamação de descaso é constante. O que acontece com o segmento de fibras, parece se repetir com a borracha. A Levorin que demandava três mil toneladas de borracha amazonense, só tinha acesso a mil. As outras duas mil toneladas acabavam vindas de outros países ou Estados. Assim como as fibras para sacaria que precisam vir de Bangladesh para suprir o mercado brasileiro”, disse Meirelles.
Na agenda
Apostar nas riquezas naturais do Estado tem sido uma constante na agenda do governo e estes projetos já são vistos como alternativas ao tradicional modelo da Zona Franca de Manaus, conta o titular da Secretaria de Planejamento, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Seplan-CTI), Thomaz Nogueira. “São projetos que apontam para uma alternativa ao PIM (Polo Industrial de Manaus), com foco na diversidade e nas riquezas naturais do Amazonas. Com esse viés, em 2016 o Conselho de Desenvolvimento do Estado do Amazonas (Codam) aprovou 18 projetos”, disse Nogueira.
Na última reunião do Codam, em dezembro, dois projetos que seguem a proposta tiveram destaque. A Amazonbiodiesel Indústria e Comércio de Óleos Vegetais da Amazônia Ltda. com um projeto de implantação na soma de R$ 16.254 milhões em investimentos e a criação de 132 postos de trabalho. Já a Amazon Agrária Empreendimentos Agroflorestais Ltda. terá investimentos de R$ 3.895 milhões e 30 postos de trabalho.