“O modelo ainda permanece preso a uma política de substituição de importações, superada quando da abertura da economia pelo governo Collor de Mello a partir de 1991/1992”
Em inquietante poema, Carlos Drummond de Andrade, realístico, constata: “No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. Tinha uma pedra. No meio do caminho tinha uma pedra”.Diversificadas as “pedras” acumuladas no “caminho” nesse período, óbices que precisam ser removidos para aplainar o “caminho” rumo à 2073, quando completará 106 anos de existência. Quais e de onde provêm essas “pedras” precisamente? Basicamente, oriundas da fadiga de materiais que levou ao esgotamento do modelo ZFM, padrão 1967. Por essa razão fundamental, não há outra trilha a seguir, a não ser promover sua imediata reestruturação conceitual e operacional, segundo planejamento estratégico de longo prazo tendo por suporte, repita-se, padrões tecnológicos 4.0.
É fato inquestionável, hoje amplamente reconhecido, que os incentivos fiscais isoladamente não foram capazes de interiorizar o crescimento econômico, um déficit estrutural concreto que se perpetua à espera de soluções pragmáticas. Da mesma forma urgente se torna corrigir o distanciamento do PIM das economias mais avançados em termos de tecnologias disruptivas de produtos, processo e logística comercial. O governo Federal, aliado ao do Amazonas e à Suframa, nessa direção, terão de estabelecer prioridades de curto, médio e longo prazo com vistas ao ponto de inflexão do modelo. Isto é, ao momento da curva em que o passado cede lugar a novos standards evolutivos, estágio alcançado por meio de políticas econômicas direcionadas a promover as reformas e ajustes estruturais de profundidade requeridos.
Avultam-se, todavia, equívocos sobre a questão. Não se trata de substituir, mas de complementar e integrar a matriz econômica. Efetivamente, a economia da ZFM, hoje particularmente restrita aos setores eletroeletrônico, duas rodas, relojoeiro, bens de informática, termomecânico e plástico, responsáveis por 93% do faturamento do PIM, terá necessariamente de voltar-se ao interior do Estado. Com responsabilidade e investimentos em atividades produtivas derivadas dos extensos campos da bioeconomia: exploração dos recursos da biodiversidade, da mineração, da produção de alimentos e do turismo ecológico, efetivamente, o novo formato macroeconômico (bio-agro-industrial-mineral) a predominar na perspectiva ZFM-2073. Tais ajustes, convém observar, não se processam por decreto, mas por intermédio de políticas públicas que privilegiem investimentos diretos em educação, ciência, tecnologia e inovação (C,T&I), na infraestrutura de transporte, portos, comunicações, energia, saneamento básico, na educação e na saúde pública.
O desafio, com efeito, é promover gradual substituição do vetusto modelo de substituição de importações vigente. Os problemas, contudo, não acabam aí. O PIB – Produto Interno Bruto do Amazonas, segundo o IBGE, é o sexto do Brasil, registrando-se paralelamente que 49% da população do Amazonas vive na linha de pobreza, ao passo que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Manaus ocupa apenas o 23º lugar entre as 27 capitais mais o DF. Dados que, por si, induzem a um raciocínio simples: o grosso da renda gerada no PIM não permanece aqui, e, por conseguinte, não promove crescimento econômico. Governo, poder legislativo, representações de classe e sociedade, em uníssono, precisam levar em conta tão graves distorções. Corrigi-las é a chave para promover o desenvolvimento integrado, em última instância, a efetiva salvaguarda de nossa biodiversidade. Esta a missão mais importante que se interpõe à senda do modelo ZFM-2073.
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