Reflorestamento com espécies nativas

Estudo avaliou 40 casos implementados ou apoiados por 30 diferentes agentes econômicos – desde agricultores familiares a parcerias com finalidade experimental, bem como empresas rurais.

O plantio de espécies de árvores nativas brasileiras para uso econômico apresenta grande potencial para gerar emprego e renda, atender o mercado consumidor interno e externo de produtos florestais madeireiros, fibras, alimentos e energia, além de produzir serviços ambientais, como a remoção de carbono da atmosfera, melhora dos recursos hídricos e aumento da resiliência e produtividade da agropecuária. Os resultados apontam que 32 dos 40 modelos com espécies nativas no Brasil trazem retorno de investimento que varia entre 9,5% e 28,4% ao ano, mostrando sua competitividade quando comparada a outras atividades agropecuárias.

Liderado pelo Força-Tarefa Silvicultura de Espécies Nativas, da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, com apoio e coordenação do WRI Brasil, o estudo avaliou 40 casos implementados ou apoiados por 30 diferentes agentes econômicos – desde agricultores familiares a parcerias com finalidade experimental, bem como empresas rurais. Juntos, eles ocupam mais de 12 mil hectares em oito estados, com predominância nos dois principais biomas florestais do Brasil, Amazônia e Mata Atlântica.

A análise se concentrou em três diferentes modelos que possibilitam o cultivo de árvores nativas brasileiras: a silvicultura de espécies nativas, os sistemas agroflorestais (SAF) e o sistema integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). Ao todo, os 40 casos avaliados cultivam mais de 100 espécies florestais e agrícolas, entre nativas e exóticas. A avaliação econômica desses projetos mostrou que as taxas internas de retorno (TIR) dos investimentos variam de 2,5% a 28,4% ao ano, com mediana de 15,8%. Índices indicativos de que o Brasil tem uma grande oportunidade de gerar emprego e renda se aumentar e conferir escala a atividades de silvicultura de espécies nativas na produção de madeira, óleos vegetais, alimentos como castanhas, frutas e diversos outros produtos florestais. 

Foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará

O Brasil tem mais de 90 milhões de hectares de pastagem com algum nível de degradação. Desse total, mais de 40 milhões encontram-se em estado severo. O que este estudo mostra é que essa imensa fronteira que exige restauração pode ser uma oportunidade rentável de investimento para o produtor, destaca o estudo. Além da taxa de retorno do investimento, o produtor ainda se beneficia dos serviços ambientais oferecidos pelas espécies nativas, tais como melhora dos recursos hídricos e aumento da resiliência e produtividade de outras atividades que podem ser consorciadas com as árvores. A remoção de carbono da atmosfera, por sua vez, é um benefício para todo o planeta, mas também pode contribuir com o fluxo de caixa do produtor, já que oportunidades no mercado de carbono vêm ganhando impulso mundialmente.

Segundo o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Niro Higuchi, a floresta remanescente na Amazônia ainda cobre uma área de mais de 300 milhões de hectares. A abundância sempre foi uma péssima referência para a gestão de recursos florestais. Assim foi no Japão no início do século XVII e na Suécia e na Alemanha no início do século XIX. Acabaram com as florestas nativas para depois praticar o manejo florestal sustentável (MFS). Algumas civilizações, praticamente, desapareceram com o mau uso dos recursos florestais (os Rapanuis da Ilha de Páscoa, os Anasazis do Cânion Chaco do Novo México – EUA – e os maias de El Petén na Guatemala).

Para Higuchi, antecipar-se à escassez é preciso. Esses exemplos não podem ser negligenciados. No Brasil há leis e algum conhecimento. A própria floresta, ressalta, é um bem de interesse comum a todos os brasileiros (Código Florestal) e a Amazônia, um patrimônio nacional (Constituição de 1988). Lamentavelmente, os discursos são maduros, mas as práticas estão verdes, fatores que limitam gravemente a expansão do setor. Nada obstante, a implementação do MFS na região é uma questão de foco e de políticas públicas ajustadas às assimetrias geopolíticas do bioma, conclui. 

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