O Brasil despende anualmente cerca de R$ 12 bilhões com importação de potássio, levando o agricultor brasileiro a tornar-se refém dos fornecedores estrangeiros.
De acordo com o Serviço Geológico do Brasil (SGB), o início de produção dos depósitos de silvinita já identificados no país produzirá impacto direto no setor agrícola e na produção de fertilizantes. A consequente redução das importações de imediato se refletirá na diminuição dos custos de transporte e logística, e, por extensão, na contração dos preços dos alimentos. Segundo o Ministério de Minas e Energia, “o Brasil é conhecido por ser uma potência agroambiental.
A pesquisa voltada a minimizar a dependência de agrominerais importados é uma ação estratégica e uma meta do Programa Mineração e Desenvolvimento, recentemente lançado”. No ano em curso, a guerra Rússia-Ucrânia provocou súbita elevação de preços e severa preocupação quanto à regularidade do fornecimento do insumo.
Somos o país que mais exporta alimentos industrializados, isso dá uma responsabilidade grande e uma chancela, pois exportamos para 190 países. A indústria nacional, convém salientar, cumpre a legislação sanitária internacional através de tecnologias avançadas em pesquisa e inovação, com foco permanente na busca de níveis mais expressivos de segurança das cadeias de produtos alimentares que brotam de nossos solos. As terras brasileiras, por extremamente favoráveis à lavoura de inúmeras culturas destinadas à alimentação humana e animal, também impulsionam a cadeia de biocombustíveis.
O Brasil despende anualmente cerca de R$ 12 bilhões com importação de potássio, levando o agricultor brasileiro a tornar-se refém dos fornecedores estrangeiros controladores do mercado. Informações do Ministério da Agricultura dão conta que os números são rigorosamente desfavoráveis ao país: 25% do PIB brasileiro, 33% dos empregos gerados pelo agronegócio e 50% das nossas importações dependem do potássio, cuja oferta é regulada por três países: Rússia, Bielorrússia e Canadá. O quadro pode ser revertido em curto prazo mediante o licenciamento ambiental da produção de silvinita e de outros minerais estratégicos disponíveis em nossos subsolos.
Os crescentes números da produção de alimentos no Brasil só vêm sendo alcançados, oportuno registrar, graças ao emprego sistemático dos fertilizantes modernos dimensionados em termos quantitativos e periodicidade por meio da pesquisa. O NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) é um dos fertilizantes mais conhecidos e importantes para o desenvolvimento das culturas agropecuárias. O potássio, particularmente, é um insumo fundamental, destacando-se que 95% da produção mundial do minério destina-se à agricultura e o restante ao consumo industrial. A dependência do Brasil de importação de potássio é crescente, razão pela qual as jazidas nacionais de silvinita precisam entrar em produção o mais rápido possível.
Historicamente, o país tem demonstrado consumo exponencial de fertilizantes. Enquanto, em 1950 o consumo anual era da ordem de 23,5 mil toneladas de potássio, hoje supera 10 milhões de toneladas. Em 1980, o Brasil se torna o segundo maior importador mundial do fertilizante. A produção interna de potássio, contudo, inicia-se apenas em 1985, a partir do complexo da Mina/Usina Taquari-Vassouras, no estado de Sergipe, hoje operada pela mineradora Companhia Vale do Rio Doce/VALE.
Segundo o SGB, a Petrobras descobriu, em meados de 1974, ao perfurar o poço 1-FZ-2-AM, a primeira ocorrência de silvinita na Bacia do Amazonas. Por meio de sua subsidiária Petromisa dimensionou a Jazida de Fazendinha, localizada na margem direita do Rio Madeira, 130 km a sudeste de Manaus. Em 1982, cubou a jazida do Arari na Foz do Rio Madeira e descobriu a ocorrência de Juruti-Faro, parte Centro-Norte da bacia. Em 2013, mais duas novas descobertas foram reveladas, localizadas no município de Itacoatiara com profundidades entre 680 a 1200 m e teor médio de 33 a 40% de KCl. Tais coeficientes demonstram que, além das reservas conhecidas e cubadas, a Bacia do Amazonas apresenta enorme potencial de exploração sustentável.
Para o presidente da SGB, Esteves Pedro Colnago, “devido sua similaridade com bacias que apresentam depósitos de classe mundial de KCl, a exemplo das bacias de Saskatchewan, no Canadá, e Urais, na Rússia, a Bacia do Amazonas, sem dúvida alguma, se apresenta como uma área estratégica global para sais de potássio, além de ser uma das últimas fronteiras em área terrestre nacional”.
Sobre o autor
Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas (ALCEAR), do Grupo de Estudos Estratégicos Amazônicos (GEEA/INPA) e do Conselho Regional de Economia do Amazonas (CORECON-AM).
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