Por Osíris M. Araújo da Silva – osirisasilva@gmail.com
A região amazônica, especialmente os estados do Amazonas, Roraima, Rondônia e Acre vêm enfrentando secas extremas nesses últimos dois anos, levando ribeirinhos a enfrentar longas caminhadas para encontrar água, recurso essencial à vida. O rio Madeira registrou, na terça-feira (27), a cota de 1,37m em Porto Velho (RO), a segunda menor marca da história, desde 1967, atrás apenas da observada em 2023, quando atingiu 1,10 m.
Em condições normais, o nível médio do rio esperado para esta época do ano seria de 3,80 m. A informação é do Boletim de monitoramento hidrológico divulgado pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), disponível na página do Sistema de Alerta Hidrológico da calha do Madeira. Em Tabatinga, tríplice fronteira Brasil, Colômbia e Peru, com o rio Solimões sem calagem, o porto fluvial não oferece condições para atracação de barcos. Institutos de pesquisas convergem na conclusão de que a região enfrenta novo período de seca extrema causado pelo fenômeno La Niña, que deve chegar na região entre setembro e novembro deste ano, conforme estimativa do Centro de Previsão Climática dos Estados Unidos (CPC/NCEP).
Durante o evento, a temperatura do Oceano Pacífico na região tropical fica abaixo da média, e esse esfriamento provoca uma série de efeitos climáticos, que incluem chuvas mais intensas na Ásia e condições mais secas em algumas áreas da América do Sul. Com 70% de probabilidade de ocorrência este ano, o setor produtivo está altamente preocupado com os impactos do choque climático sobre os preços de bens de consumo e industriais, bem como em relação à logística de transporte e distribuição dos produtos. Medidas emergenciais foram adotadas pelo Porto Chibatão com a instalação autorizada pela Marinha do Brasil de um píer flutuante provisório em Itacoatiara, no Amazonas, para atenuar os efeitos da estiagem. Com área de 300 mil metros quadrados, está apto a movimentar, por meio de 150 postos de emprego gerados, 540 contêineres por dia de navios de cabotagem para balsas que prosseguirão o transporte da carga até Manaus.
De acordo com informes da Comunicação Social – Coordenação de Extensão do INPA, “mudanças climáticas na região amazônica têm influenciado o aumento significativo dos eventos extremos como secas e enchentes, que por sua vez têm afetado o ciclo hidrológico do bioma”. Conclusões são do pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Jochen Schöngart, durante a participação na 76ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em junho deste ano. “A magnitude de cheias e de secas severas na Amazônia tem implicações grandes, não só para os ecossistemas, mas também para as pessoas, afetando a segurança alimentar e hídrica das populações ribeirinhas que dependem das áreas alagáveis que são conectadas as rede fluvial da Amazônia”, frisa.
Ciclo hidrológico, de acordo o pesquisador, “é o processo contínuo de circulação da água entre os diferentes ecossistemas da da natureza como a atmosfera, os oceanos, os rios, os lagos, as geleiras e os lençóis subterrâneos”. A Amazônia, salienta, “é caracterizada por altos índices pluviométricos, com chuvas intensas ao longo do ano, principalmente durante a estação, entre dezembro e maio. A umidade excedente é absorvida pela vegetação, que realiza a evapotranspiração, ou seja, joga a água para a atmosfera, formando nuvens e contribuindo para o regime de chuvas na região. Entretanto, o aumento das secas somado ao desmatamento tem resultado em impactos negativos no ciclo hidrológico local e regional”.
Para Schöngart, as mudanças no ciclo hidrológico na região têm gerado impactos significativos para as populações ribeirinhas, destacando-se “a inundação de áreas habitadas; o nível dos rios que afetam a pesca, a agricultura e outras atividades tradicionais; saúde e segurança; e a perda de recursos naturais. Por conseguinte, é crucial investir em educação, pesquisa e tecnologia para mitigar os efeitos das mudanças climáticas”. A Amazônia “demanda grande investimento para desenvolver tecnologias inovadoras para adaptar as populações e os manejos tradicionais, garantindo a sobrevivência e a segurança hídrica e alimentar no contexto das mudanças do clima, que são responsáveis pelas alterações do ciclo hidrológico na Amazônia”, ressalta.
Sobre o autor
Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).
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