COP29, o mundo, cansado de fracassos, muito espera de Baku, Azerbaijão

No caso particular da Amazônia [...] a região tem sido alvo frequente de pressões externas multiformes sem, contudo, chegar a conclusões operacionalmente exequíveis no combate às perdas ambientais.

A COP29 teve início nesta segunda-feira, 11 de novembro, em Baku, no Azerbaijão. Foto: Divulgação/COP29

Por Osíris M. Araújo da Silva – osirisasilva@gmail.com

O festival de COPs continua “não” produzindo os resultados planejados. Planejados, diga-se, não se sabe por quem nem, precisamente, onde. A menos em relação a beneficiários diretos; no caso, uns poucos, as ONGs (Organizações não Governamentais), sobretudo as estrangeiras apoiadas por grandes interesses corporativos cuja magna estratégia é ter o mundo sub ou em desenvolvimento subordinado a seus tentáculos. Com a promessa de ser a “COP da implementação” do histórico ‘Acordo de Paris da Natureza’ – adotado em 2015 durante a 21ª Conferência das Partes (COP21), na capital francesa, e assinado por 196 países, incluindo o Brasil a 16ª Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP16), levada a efeito em Cali, Colômbia, no período de 21 de outubro a 1º de novembro, chegou ao final na mesma situação das anteriores. Zero de avanços objetivos.

Durante a COP15, que se realizou no período de 7 a 18 de dezembro de 2022, em Montreal, no Canadá, os países assinaram outro acordo que incluía metas para proteger 30% das terras e mares para a natureza, reformar bilhões de dólares em subsídios prejudiciais ao meio ambiente e reduzir o uso de pesticidas. O resultado mais expressivo materializou-se na adoção do Marco Global de Biodiversidade Kunming-Montreal (GBF, na sigla em inglês), que tem como objetivo enfrentar a perda da biodiversidade, restaurar ecossistemas e proteger os direitos indígenas. No entanto, apenas 25 nações fizeram o dever de casa. Os outros 170 países signatários – quase 80% do total, o Brasil entre eles – até agora não apresentaram seus planos para deter a destruição dos ecossistemas da Terra, ao que mostra uma investigação conjunta feita por Carbon Brief e Guardian.

Na construção do Marco Global chegou-se à estimativa de que seriam necessários ao menos US$ 700 bilhões por ano até 2030 para interromper a perda da biodiversidade e iniciar um processo de regeneração dos biomas agredidos. A maior parte desse valor, US$ 500 bilhões, viria do fim de subsídios a atividades responsáveis por impactos negativos na natureza. Quanto aos outros US$ 200 bilhões ainda continuam sem acordo definido quanto à sua operacionalização. Os países ricos concordaram, na COP15, em mobilizar para as economias em desenvolvimento não mais que US$ 20 bilhões anuais a partir de 2025 e aumentar esse valor para US$ 30 bilhões a partir de 2030. Mesmo o conceito de “perdas e danos”, que se refere aos “impactos das mudanças climáticas que não podem ser evitados ou mitigados”, não chegaram a termos práticos e objetivos

Durante a COP28, em 2023, o governo dos Emirados Árabes Unidos, então na presidência da Conferência, liderou o esforço para aportar recursos ao programa. Até maio de 2024, contudo, o fundo havia arrecadado apenas US$ 660 milhões, um montante muito aquém das necessidades crescentes dos países mais vulneráveis. Na COP 29, que se realiza em Baku, Azerbaijão, de 11 a 22 do mês em curso, a ONU, governos e entidades multilaterais confiam que “detalhes sobre sua operacionalização sejam discutidos realisticamente e que haja um compromisso mais claro dos países desenvolvidos em fornecer apoio financeiro e técnico a países afetados por danos ambientais de alto impacto”. Cuidados com a natureza, preservação ambiental e desenvolvimento, no geral intimamente relacionados são potenciais geradores de conflitos, “especialmente quando entra em jogo aspectos relacionados à variação climática, degelo dos polos, nível dos oceanos, desmatamento predatório, queimadas, desertificação, enchentes, secas, poluição de rios, lagos e oceanos”.

No caso particular da Amazônia, não só por questões alusivas aos diferentes graus de desmatamento e queimadas registrados nas últimas décadas, a região tem sido alvo frequente de pressões externas multiformes sem, contudo, chegar a conclusões operacionalmente exequíveis no combate às perdas ambientais que, entretanto, avançam em magnitudes inimagináveis desde a COP1, realizada em Berlim, Alemanha, 1995, ou, antes ainda, à ECO-92, a Cúpula da Terra, como ficou conhecida a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro entre os dias 3 e 14 de junho de 1992. Convenção que reuniu chefes de Estado e representantes de 179 países, organismos internacionais, milhares de organizações não governamentais e contou também com a participação direta da população, aceita internacionalmente como um marco nas discussões sobre a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável.

Sobre o autor

Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Espécies novas de sapos ajudam a entender origem e evolução da biodiversidade da Amazônia

Exames de DNA feitos nos sapos apontam para um ancestral comum, que viveu nas montanhas do norte do estado do Amazonas há 55 milhões de anos, revelando que a serra daquela região sofreu alterações significativas.

Leia também

Publicidade