A história do Brasil, desde o período Colonial, avançando pela Monarquia, Independência e República, doloroso constatar, tem-se constituído em sucessivas tragicomédias. Não foi diferente no tocante aos diversos golpes, contragolpes, mini “revoluções” (como a de 30), ditaduras, aberturas, novas ditaduras, novo período de redemocratização, como o que o país vive desde 1985.
Uma característica comum a esses períodos de nossa história: o Brasil permanece sem rumo político definido. Não tem sido capaz de conceber e promulgar atos e consolidar princípios constitucionais que auscultam nossa diversidade sociocultural, econômica e política. Salvo em favor dos que detêm o poder, as elites, como muito ao gosto de correntes políticas pseudo esquerdistas ou falso revolucionárias.
Exatamente essas forças “transformadoras” tornaram-se renomados fracasso, cujos líderes, inspirados em seus gurus russos, quando no poder, atropelando o marxismo e o leninismo-estalinismo, tornaram-se, na verdade, apreciadores de whisky 12 anos, vinhos acima de U$ 2,500.00, automóveis importados, sítios cinematográficos, apartamentos triplex em balneários chics, fazendas milionárias, ternos confeccionados por costureiros famosos, cujos preços invariavelmente superam os R$ 10.000,00.
Entregaram-se, tais “revolucionários”, na verdade, a ominoso processo de corrupção que enlameou o governo brasileiro até recentemente “como nunca antes visto na história deste país”, segundo frase preferida do líder Lula da Silva.
1964 foi simplesmente mais um equívoco histórico brasileiro. O “golpe” não podia ter acontecido. Com efeito, o momento, convulso desde a renúncia de Jânio Quadros em 1961 exigia convergência das inteligências e lideranças políticas. O que não ocorreu. Jango era um presidente em certo sentido fraco, claudicante, indeciso e sem propostas concretas para a crise que se arrastava e que recrudesceu ao se deixar levar por quimeras e utopias revolucionárias de inspiração bolchevique.
Entretanto, segundo o historiador Boris Fausto, o Brasil vivia uma era de terríveis pressões ideológicas internacionais movidas pela Guerra Fria, que dividira o Planeta ao final da II Grande Guerra (1939- 1945), em duas partes dicotômicas: a Ocidental, democrática – supostamente “boa” – e a Oriental, comunista – presumivelmente “má”.
Por outro lado, entre o final de janeiro de 1961 e 31 de março de 1964, o Brasil desgovernou. A geração de então, a minha, que efetivamente viveu aquele período de singular turbulência política, assistiu a única experiência parlamentarista da era republicana, teve três presidentes, cinco chefes de governo e seis ministros da Fazenda. Jango tentou algumas soluções, promovendo reformas ministeriais, sem sucesso. A rotação no comando da política econômica contribuiu para a perda progressiva do controle sobre a inflação e outras variáveis macroeconômicas.
O ano de 1963 chega ao final com inflação próxima a 80%, desaceleração econômica evidente, e que se intensificou ao longo do segundo semestre, em especial no tangente à atividade industrial, que sofria com escassez de energia, contração da liquidez e uma onda de greves (motivada pela escalada inflacionária) e escaramuças generalizadas, que desaguaram no maior processo de guerrilha urbana jamais vivida no Brasil. Movimento que, convém salientar, não tinha uma proposta concreta de reformas de base, mas simplesmente entregar o país ao jugo da ditadura do proletariado soviético.
1964, em síntese, teria se tornado em novo engodo? De um lado, é verdade, livrou o Brasil da ditadura do proletariado, pregada subrepticiamente pelos pseudo-esquerdas encastelados nos colégios, nas universidades, nos sindicatos e por comandos enviados de Cuba para ensinar técnicas guerrilheiras e dar suporte ao “processo revolucionário”, que se instalava no país a partir de Conceição do Araguaia e da guerrilha urbana (comandada por tantos falsos democratas de hoje).
O propósito desses “movimentos” e de seus “aparelhos”, na verdade, era, incontestavelmente solapar e corromper a frágil democracia brasileira liderada por um presidente da República despido de coragem política e autoridade de governo.
Por outro lado, os governos da Revolução falharam em muitos setores essenciais, como na Educação, e na própria Economia, deixando fracassar o “milagre brasileiro” dos tempos do Simonsen, Delfim, Roberto
Campos, Bulhões e outros economistas de grande respeito, hoje raríssimos.
Acertaram, todavia, em livrar o Brasil da economia planificada que levou a Rússia e seus satélites à ruína e ao mar de corrupção dos anos 80, que nem a Perestroika – literalmente “reconstrução” ou “reestruturação” que, mesmo em conjunto com a Glasnost, uma das políticas introduzidas na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas por Mikhail Gorbachev, dm 1986, conseguiu evitar.
Reformas de base
Um capítulo fundamental de nossa história, a Reforma Agrária. Proposta pelas Ligas Camponesas, inspiradas em Miguel Arrais e lideradas por Gregório Bezerra e Francisco Julião, os sindicatos rurais, as frentes revolucionárias, como a ALN, MR-8 e setores da Igreja progressista, a história o comprova, tornaram-se um movimento conduzido por hordas incendiárias. Tornou-se evidente que não se pretendia resolver, como não se resolveu até hoje, o problema da terra, do campesinato, da produção agrícola, mas convulsionar o campo e deixar o circo pegar fogo.
Processo esse que, de fato, interessava à linha pró-União Soviética-China e seu braço avançado na América Latina, Cuba. Afinal, aqui Fidel Castro recebia guerrilheiros brasileiros para treinamento e suporte financeiro com recursos oriundos do conhecido “ouro de Moscou”, destinados ao suporte da “obra revolucionara” no país.
Quanto à reforma urbana, promulgada por Jango, pretendia criar condições pelas quais os inquilinos poderiam se tornar proprietários dos imóveis alugados. Os primeiros sinais da propriedade coletivizada (nos meios urbanos e rural) introduzida no mundo soviético e chinês, e que resultou em estrondoso fracasso culminado com a queda do Muro de Berlim em 1989 e a subsequente derrocada da Cortina de Ferro.
Outros movimentos apontavam nessa direção. As chamadas reformas de base, pelas quais o movimento estudantil tanto lutou, sobretudo a da educação, a reforma agrária e da economia, segundo o historiador Boris Fausto, no final das contas incluíam medidas nacionalistas, prevendo uma intervenção mais ampla do Estado na vida econômica.
Dentre essas medidas, destacam-se: nacionalização das empresas concessionárias de serviços públicos (então predominantemente estrangeira, como a Light, ITT, etc.), dos frigoríficos e da indústria farmacêutica. Exatamente na contramão da conjuntura de nossos dias, onde o governo se vê induzido, por razões econômico-financeiras irreversíveis, e, de acordo com tendência do mundo contemporâneo, a promover a privatização desses e dos demais setores da economia.
Brasil, um país sem rumo politico
Não obstante todos esses dramas vividos e que perduram até os dias de hoje, o Brasil ainda busca um norte em relação ao sistema político que governa o país. Estribadas em “conquistas” sociais e liberalidades genéricas da Constituição de 1988, conveniências ideológicas à esquerda e à direita continuam predominando sobre políticas econômicas e sociais que levem em conta prioritariamente a consolidação de ganhos que venham de encontro às necessidades da cidadania, às carências do povo, em nome do qual gira ou deveria girar o poder político.
Nosso sistema político, contraditoriamente, regrediu com a redemocratização de 1985. Assim como os subjacentes sistema educacional, da saúde, da segurança, da infraestrutura, do saneamento básico, etc. No lugar de avançar, todavia, o Brasil estacionou e até, sob certos ângulos, retrocedeu institucionalmente. Consequentemente, o país se vê imerso em recorrentes processos de radicalização politica que tantos prejuízos causam à Nação.
A economia brasileira tem sido vítima de grave processo, ação contínua e prolongada de deterioração, culminado por profunda recessão que o governo petista de Dilma Rousseff fez mergulhar o país desde 2014. Desemprego, inflação, desarranjo das contas públicas, cujo déficit em 2018 chegou a R$ 115 bilhões, bem menor do que os resultados negativos de 2016 (R$ 154 bilhões) e 2017 (R$ 170 bilhões). Além de um profundo esquema de corrupção que alcançou diversas instâncias dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, e de empresas estatais, como Petrobrás, Caixa e BNDES.
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