Existem várias definições para considerar que uma pessoa se tornou adulta. No Brasil, um adulto é aquele indivíduo que atingiu seus 18 anos de idade. Já de acordo com a biologia, o ser humano se torna adulto quando chega ao ápice do seu crescimento e funções biológicas.
E com a maioridade as responsabilidades sociais surgem. Porém, para a etnia indígena Sateré-Mawé, a transição de infância para a fase adulta dos homens é celebrada através do Waumat, popularmente conhecido como ritual da tucandeira.
No rito, os jovens, para demonstrar força e coragem, precisam vestir uma luva feita de palha cheia de formigas tucandeiras (Paraponera clavata) e aguentar por, pelo menos, 15 minutos às doloridas ferroadas dos insetos.
A equipe do Portal Amazônia conversou com o mestre em Educação pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), Iranildo Sateré-Mawé, que explicou o ritual indígena que “transforma jovens em homens”.
De acordo com Iranildo, o povo Sateré-Mawé acredita que o ritual da tucandeira é um manto sagrado, que através da cerimônia os indígenas adquirem uma vacina natural que protege o corpo contra doenças, além também de guiar a pessoa em um bom caminho.
“Além disso, o rito da tucandeira para os indígenas é uma forma de perpetuar a identidade Sateré-Mawé”, destaca.
Processo
O primeiro passo para o ritual é pegar as formigas. Em seguida, elas são colocadas em um balde de água contendo folhas de caju picadas. Essa mistura anestesia os insetos por cerca de meia hora, para que possam ser manuseados e fixados, um a um, dentro de um par de luvas grandes, com o ferrão apontando para dentro.
As luvas, tecidas com fibras naturais, são decoradas com penas vermelhas de arara – representando guerras e outros conflitos passados que os Sateré viveram – e penas brancas do gavião real – simbolizando a coragem e a resistência do povo Sateré.
A transição sexual dos rapazes também é simbolizada pelas plumas nos punhos das luvas. Elas representam os pelos pubianos e marcam a transição do adolescente para o guerreiro e o marido.
Para os indígenas, ao colocar as mãos na luva cheia de formigas, o jovem não apenas demonstra estar apto para a vida adulta, mas também consegue a admiração dos demais. Após a primeira experiência com as formigas, eles podem se casar e começar uma família, mas o esperado é que passem pelo rito ao menos 20 vezes durante a vida.
História
Historicamente, não há uma data específica em que os indígenas iniciaram o ritual. Entretanto, existe um mito que diz respeito à origem da própria tucandeira. Nesta lenda, a formiga representa a mulher, desempenha o papel de mãe, a força transformadora, assim como a morte transforma a humanidade em natureza.
“Acreditamos que a pucanjeira foi feita dos pelos pubianos da mulher, por isso que o ritual só é feito para homem. É proibido às mulheres participarem, de colocar a mão na lua do pucanjeiro”, informa o professor.
A participação da família é importante para o rito de passagem, principalmente quando o assunto é alimentação. “A pessoa faz a farinha e vai atrás dos alimentos. Depois, o pai do jovem faz o convite para o mestre de cerimônia, que é o indígena responsável por entoar os cantos do ritual”, explica Iranildo.
Versão feminina
As mulheres também possuem um ritual de passagem. Só que este rito implica em um longo período de reclusão, durante o qual as moças quase não saem de casa.
O ritual acontece no primeiro dia em que a menina tem sua primeira menstruação. Ela é fechada dentro de casa até o final do ciclo menstrual, e até todo esse tempo só é vista e cuidada pela mãe, pela avó e tias.