Fotos: Reprodução
Imagine caminhar pela Avenida Presidente Vargas, em Belém (PA), e se deparar com um imponente teatro. Este é o Teatro Experimental Waldemar Henrique. Mais do que um espaço cultural, o prédio carrega o nome de um dos maiores músicos paraenses, cuja obra transformou lendas e sons da Amazônia em arte reconhecida no Brasil e no exterior. Mas quem foi Waldemar Henrique?
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Waldemar Henrique da Costa Pereira nasceu em Belém em 15 de fevereiro de 1905. Ainda criança, viveu em Portugal, na cidade do Porto, mas retornou decidido a seguir a carreira musical, apesar da oposição da família.
Iniciou seus estudos de solfejo e piano com Nicota de Andrade e, mais tarde, ingressou no Conservatório Carlos Gomes, onde teve aulas com mestres como Filomena Brandão, Ettore Bosio e Beatriz Simões.
Em 1933, pediu transferência para o Rio de Janeiro, onde se aperfeiçoou em piano, composição, orquestração e regência sob a orientação de nomes como Barroso Neto, Newton Pádua, Arthur Bosmans e Lorenzo Fernandez. O talento e a originalidade do jovem músico abriram-lhe portas no Brasil e no exterior.
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Autor de mais de 120 canções, Waldemar Henrique eternizou obras como ‘Tamba-Tajá’, ‘Uirapuru’, ‘Curupira’ e ‘Boi-Bumbá’, que exploram o folclore amazônico, indígena, nordestino e afro-brasileiro. Suas turnês internacionais, realizadas na França, Espanha, Portugal, Argentina e Uruguai, ajudaram a projetar a música brasileira no cenário mundial, muitas vezes ao lado da irmã, a cantora Mara Costa Pereira.
Além de brilhar como intérprete, Waldemar foi professor, diretor do Theatro da Paz, em Belém, e do Departamento de Cultura do Rio de Janeiro. Na Rádio Roquette Pinto, produziu programas e dirigiu a seção de música orquestral. A convite do Itamaraty, realizou turnês representando o Brasil e, em 1981, foi eleito para a Academia Brasileira de Música.
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Entre suas composições mais célebres ‘Tamba-Tajá’ integra o ‘Ciclo das Lendas Amazônicas’. Inspirada na história de um casal indígena tragado pela morte e transformado em planta sagrada, a obra ganhou projeção nacional com o canto orfeônico, que popularizou arranjos corais de boa parte de seu repertório.
Embora tenha iniciado sua carreira nos anos 1920 e 1930, apenas em 1956 Waldemar Henrique gravou seu primeiro disco, com interpretação vocal de Jorge Fernandes. Também foi o primeiro a musicar Morte e Vida Severina, poema dramático de João Cabral de Melo Neto, premiado pelo Jornal do Comércio em 1958.
Falecido em 29 de março de 1995, Waldemar Henrique deixou um legado marcado pela fusão entre erudição e brasilidade. Em 1985, ao completar 80 anos, foi homenageado no carnaval paraense, quando sua vida e música viraram enredo de escola de samba.

Teatro Waldemar Henrique
Inaugurado em 1979, durante um ato público marcado pela mobilização da classe artística local, o Teatro Waldemar Henrique nasceu como resposta a uma necessidade urgente: a criação de um espaço voltado ao experimentalismo e à inovação, algo que não encontrava lugar no tradicional Theatro da Paz.
O teatro logo se consolidou como ponto de encontro e efervescência criativa, recebendo grupos que lutavam por novos caminhos na arte cênica, como o Grupo Experiência e o Teatro Universitário do Pará (TEP), que desde a década de 40 agitava os palcos belenenses.
Desde o começo, enfrentou adversidades, mas se manteve firme, servindo como o coração pulsante da experimentação artística de Belém. Sua arquitetura, de estilo eclético com traços de art nouveau, já foi palco de protestos, resistência e momentos apoteóticos, como a derrubada simbólica do “muro da discórdia” em 1997, quando artistas se uniram para reivindicar a posse completa do espaço.

