A comunidade indígena Tuyuka, localizada em São Gabriel da Cachoeira interior do Amazonas, mostrou muito da sua cultura e representatividade no dia 18 de maio na exposição ‘Raízes da Gastronomia’, um projeto itinerante que mostra como a tradição e a inovação, em especial no cultivo de alimentos, podem caminhar unidas em busca de um futuro sustentável.
Os indígenas Tuyuka são os protagonistas em conjunto com a fazenda cafeeira Guima Café de um curta-metragem que revela o cuidado que ambos tem no cultivo de seus produtos, sejam eles para alimentar a comunidade ou escolas da cidade, seja para exportação internacional, como o café.
A união das práticas ancestrais de plantação e cultivo com as novas técnicas da agricultura regenerativa é apontada como solução para conciliar o aumento da produção de alimentos com a necessidade de combater as mudanças climáticas, valorizando a manutenção do solo, a integração de animais, plantas e preservação do ecossistema.
Confira o documentário completo:
O gestor do projeto, Fabiano Moreira, relata que apesar do desafio, o resultado foi satisfatório. “Foi um desafio proposto por um de nossos parceiros para adaptar um projeto gastronômico que tínhamos para torná-lo mais atraente em busca de financiamento. O desafio foi facilmente aceito, pois o tema é apaixonante. Unir o legado ancestral às técnicas modernas da agricultura regenerativa seguindo o exemplo dos povos originários, tornou esta jornada ainda mais significativa e atraente para nós”, disse o gestor do projeto.
A jornalista, pesquisadora e roteirista do documentário em curta-metragem, Adriana Farias, relatou ao Portal Amazônia, sobre a vivência da colheita, produção e degustação da gastronomia Tuyuka.
“Em 2022, me tornei montanhista, fiz uma expedição de dez dias de trilha rumo ao Pico da Neblina, ao lado dos indígenas Yanomami de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. Por conta das conexões que criei nessa região, descobri o trabalho dos Tuyuka. Investigando mais a fundo, compreendi que eles eram a maior referência dentro do sistema agrícola tradicional do Rio Negro, considerado Patrimônio Cultural do Brasil pelo IPHAN. Eles alimentam com toneladas de produtos não só a própria comunidade, como também escolas e quartéis da região. Documentar as atividades dessa etnia foi realizar um registro histórico do quanto eles são um povo trabalhador, organizado em associação e ainda atuantes para que a cultura deles seja perpetuada por gerações”, contou a pesquisadora.
Quanto a aproximação das práticas agrícolas dos Tuyuka e a Guima Café, Adriana Farias disse que a conexão é visível e que o objetivo, tanto dos indígenas quanto da fazenda cafeeira, é ir além da produção de alimentos. Exemplo disso é a restauração da saúde do solo.
“A agricultura regenerativa é inspirada nas práticas tradicionais dos povos indígenas ao propor uma abordagem holística para o cultivo, reconhecendo as conexões entre terra, água, plantas, animais e comunidades locais. Vimos a conexão das práticas agrícolas indígenas com as adotadas pela Guima Café. E objetivo vai além de produzir alimentos, como também o de restaurar a saúde do solo, promover a biodiversidade e fortalecer os ecossistemas. Isso é evidente na Guima Café porque pudemos ver de perto os bioindicadores (seres vivos diversos, vegetais e animais) que demonstram a qualidade do solo onde eles adotaram a agricultura regenerativa. Isso indica uma plantação sem uso de agrotóxicos e outros produtos químicos”, explicou a documentarista.
Quanto as práticas de plantio livres de agrotóxicos, a roteirista afirmou que seria esse um “possível sinal alternativo de um futuro mais sustentável na agricultura nacional”.
“É possível ser implementado em toda a cafeicultura brasileira. A questão é ter vontade e esforço para se fazer isso. O mercado internacional, sobretudo o europeu e americano, estão cobrando por produtos mais sustentáveis e rastreáveis em sua cadeia produtiva. Identifico que esse também é um caminho de forçar os produtores a buscarem essas alternativas, como a agricultura regenerativa”, finalizou Adriana Farias.
No curta-metragem, a comunidade indígena Tuyuka mostra o cultivo de uma variedade de alimentos, como: mandioca, banana, abacaxi, cupuaçu, açaí, cará e maracujá do mato, produtos de consumo diário da população da Região Norte do País.
*Por Karleandria Araújo, sob supervisão de Clarissa Bacellar