Após quase 20 anos fechada para turistas, o ponto mais alto do Brasil volta a ter trilha liberada. A distância total da trilha até o topo é de 36 quilômetros.
Conhecido pelos indígenas Yanomami como ‘Yaripo’, que significa ‘montanha do vento’, o Pico da Neblina fica localizado no Parque Nacional Pico da Neblina, no Amazonas. A montanha era um dos roteiros turísticos favoritos dos aventureiros, mas em 2003 deixou de receber turistas para impedir degradação ambiental e também a violação dos direitos dos povos indígenas.
Com 2.994 metros de altitude, a trilha de caminhada iniciava depois da comunidade Maturacá, em uma uma altitude de 150 metros. Para chegar e passar pela base antiga da montanha, o terreno é extremamente difícil, com muitas subidas e descidas, pântanos etc.
A distância total da trilha até o topo é de 36 quilômetros. O tempo de caminhada entre um ponto e outro de pernoite varia em torno de três a sete horas, dependendo do ritmo do grupo turístico. E após quase 20 anos com a visitação suspensa, essa trilha voltará a receber turistas.
O processo para que as atividades de turismo retornassem foram discutidos desde o ano que pausaram as atividades. A discussão envolveu a Fundação Nacional do Índio (Funai), o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Associação dos Yanomami do Rio Cauburis e Afluentes (Ayrca), que detêm autonomia de autorizar as expedições.
O retorno ocorreu em março deste ano e as expedições turísticas são realizadas em grupos de até dez pessoas. Atualmente, três empresas possuem autorização para atuar na região: Amazon Emotions, Roraima Adventures e Ambiental Turismo.
O Portal Amazônia conversou com o diretor geral da agência de viagem Roraima Adventures, Magno Souza, para explicar como é realizada uma expedição ao Pico da Neblina.
“As expectativas são imensas, pois devido ao tempo em que esteve fechado, gerou uma demanda reprimida. Outro fator é por ser um destino único, na maior floresta do mundo, é o ponto mais alto do Brasil, interagindo com os Yanomami, e, sobretudo, por ser resultado de um projeto que envolve o Povo Yanomami, gerando renda através do turismo”,
comenta Magno.
Retorno
A primeira expedição realizada pela Roraima Adventures teve um grupo de nove pessoas com duração de 15 dias. As expedições podem acontecer em grupo mínimo de seis participantes, aberto, e a própria agência turística é responsável por formar o grupo. Já para grupos privativos, é necessário que sete pessoas no mínimo estejam no pacote. A dica de Magno é fazer a reserva dos dias da viagem sempre com antecedência.
Considerada como a trilha mais difícil do Brasil, a visitação ao Yaripo pode acontecer durante todo o ano. No inverno, o trecho fluvial é facilitado com os rios cheios, enquanto que a trilha terrestre fica mais encharcada e impõe maior dificuldade aos caminhantes. O auge do período das chuvas na região, geralmente acontece nos meses de agosto e setembro, e de seca de janeiro a abril. O pernoite no cume está proibido aos turistas por questões de segurança.
No verão, a navegação fluvial se torna mais demorada, porque com o nível do rio baixo podem surgir trechos onde seja necessário navegar em baixa velocidade, ou, em casos extremos, pode até ser necessário arrastar o bote. Apesar disso, no período de seca, a trilha é melhor para caminhada por estar mais seca.
Para realizar a expedição, cada pessoa que deseja ir para o Pico da Neblina deve desembolsar o valor do pacote de R$ 19.500,00, além de taxas extras que podem surgir durante o trajeto.
Entretanto, Magno avisa que para realizar a viagem é necessário ter experiência e que os aventureiros estejam abertos a improvisos, por conta da grande dificuldade de acesso. O diretor da agência destaca ainda que caminhada exige disposição e condicionamento físico em perfeito estado, além de um bom equilíbrio emocional e psicológico para os ”perrengues” da trilha.
Pessoas que estejam acima do peso ideal (10 a 15 kg) torna-se imprescindível uma entrevista antecipada para avaliação. Além disso, pessoas que tenham problemas nas articulações (principalmente joelhos), coluna, ou qualquer tipo de enfermidade que comprometa o desempenho devem obter um aconselhamento médico.
É exigido que o participante esteja vacinado contra Febre Amarela, com o cartão em mãos. É muito importante que esteja com as demais vacinas regulares em dias, e que também tenha os comprovantes em mãos. Diante dos efeitos da pandemia do Covid-19, é exigida comprovação de imunidade contra a doença, bem como o teste RT-PCR antes de entrar na área.
Além disso, é preciso apresentar em até 30 dias antes do embarque um Atestado de Capacidade Física, alegando boas condições de saúde e aptidão para as atividades da expedição.
Roteiro de “estreia”
A expedição oferecida pela agência de viagem Roraima Adventures, inicia a partir da cidade de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. O interessado deve providenciar seus bilhetes aéreos ou fluviais para chegar até o município.
Os primeiros três dias de expedição são concentrados em atividades na cidade, antes de seguir de fato para a trilha, que envolvem visitas às comunidades indígenas, passeios e dias de compras.
Dia 1: Manaus/São Gabriel da Cachoeira
Embarque pela manhã com destino a São Gabriel da Cachoeira. Após as acomodações são apresentadas algumas atividades previstas, como os passeios pela cidade e visitas às comunidade indígenas.
Dia 2: São Gabriel da Cachoeira – Comunidades
Visitas às comunidades com a programação sugerida pela liderança indígena e repassada pelo guia turístico.
Dia 3: São Gabriel da Cachoeira
Manhã livre para compras e almoço. Briefing para ajustar detalhes da saída no dia seguinte. Noite livre.
Dia 4: São Gabriel da Cachoeira – Frente-Sul/Maturacá
Início da viagem em veículos por estrada sem pavimentação, em direção ao km 85. Passam pela Linha Imaginária do Equador durante o trajeto até o igarapé Ya-mirim, num percurso total de até quatro horas. No local, embarcam nas canoas “voadeiras” em direção a Maturacá, onde é realizada uma recepção pelos pajés Yanomami com um ritual de boas vindas. Pernoite na sede da AYRCA, em redes.
Dia 5 a 12: Expedição até o topo do Pico da Neblina – ida e volta
Expedição de selva partindo de Maturacá com caminhadas de seis horas diárias, em média, acampamentos e pernoites em redes. Podem ocorrer improvisos naturais, até chegar no topo com 2.994 metros de altitude e temperatura aproximada de 10ºC.
Dia 13: Retorno – Comunidade Maturacá
Encerrada a expedição ao Pico da Neblina, é realizado o retorno, em viagem de barco até o porto Frente-Sul seguido por viagem de carro até São Gabriel da Cachoeira.
Dia 14: São Gabriel da Cachoeira
Geralmente contado como um dia a mais para eventuais alterações de roteiro ou imprevistos durante a expedição.
Dia 15: São Gabriel da Cachoeira/Manaus
Dia do embarque de São Gabriel da Cachoeira para voltar à Manaus.
E você? Teria coragem de encarar a trilha mais difícil do Brasil?