Cercado de serras e lavrado, vegetação típica de Roraima, a região tem uma área territorial de 8.113,598 km². Do total de 13.751 habitantes, 13.283 se identificam como indígenas.
Localizado na tríplice fronteira do Brasil com a Venezuela e a Guiana, Uiramutã, ao nordeste de Roraima, é o município mais indígena do país, segundo dados do Censo 2022 divulgados no dia 7 de agosto. Além de ter quase 97% da população indígena, Uiramutã tem outras características ímpares: possui mais de 80 cachoeiras ainda inexploradas, tem o menor Produto Interno Bruto (PIB) do país e uma vegetação predominante de lavrado.
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Distante 280 km da capital Boa Vista, Uiramutã é 10º mais populoso entre os 15 municípios de Roraima. Do total de 13.751 habitantes, 13.283 se identificam como indígenas, o que levou o município a ter 96,6% da população indígena, o maior percentual do Brasil.
Também indígena, o prefeito Tuxaua Benísio (Rede), do povo Macuxi, recebeu com o orgulho os dados do Censo do IBGE. Ao g1, ele disse que espera receber mais apoio dos governos estadual e federal para que o município receba mais políticas públicas. Em Uiramutã se concentram os povos Macuxi e Ingaricó.
“Como indígena, eu valorizo isso. Isso é muito importante, com 96,6% de indígenas, ela [cidade] faz sua contribuição para esse desenvolvimento no estado e no Brasil”, afirmou.
Oficializado como município em 1995, por meio da lei federal nº 098, Uiramutã foi desmembrado dos municípios de Boa Vista e Normandia. A sede está localizada na antiga vila do Uiramutã.
Tríplice fronteira
Cercado de serras e lavrado, vegetação típica de Roraima, a região tem uma área territorial de 8.113,598 km². A região está localizada na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, território emblemático na luta dos povos indígenas pela demarcação de terras em área contínua.
A sede do município fica distante 310 km de Boa Vista. O caminho é a maior parte em estrada de terra. Apenas os primeiros 160 km são percorridos pela BR-174 Norte.
Para quem segue na rodovia sentido o município de Pacaraima, a entrada para o lugar fica à direita. Veículos altos – do tipo caminhonete – são a melhor opção. A viagem dura em média seis horas.
Uiramutã inclui em seu território o Monte Caburaí, de 1.456 m de altitude, o ponto mais setentrional do país. O Monte Roraima, também localizado no município, é um dos picos mais altos do Brasil. O monte fica no ponto tríplice com a Guiana e a Venezuela.
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O município está a 840 metros de altitude, por isso boa parte do caminho é íngreme. A vastidão de terras pode ser contemplada no decorrer da viagem. As serras e vales são entrecortadas pelos rios Maú, Cotingo, Canã e Ailã.
Menor PIB do Brasil
Em 2020, o município teve um PIB per capta de R$ 11.985,64, o menor do país, segundo IBGE. Cerca de 94,2% da receita do município é de fonte externa, de acordo com dados do Instituto divulgados em 2015.
Em 2021, o salário mensal era de 1.6 salários mínimos. Já a proporção de pessoas ocupadas em relação à população total era de 4.1%. A economia de subsistência é a principal entre as comunidades, com a criação de gado e roça.
“Nós temos o potencial de pecuária. Em cada comunidade, as 130 comunidades, tem o seu rebanho e também temos a agricultura. Nós temos também o projeto de grão de milho em nosso município, além do comercial e empresarial”, explicou o prefeito.
Considerando domicílios com rendimentos mensais de até meio salário mínimo por pessoa, 52,4% da população vivia nessas condições, o que o colocava na posição 1 de 15 dentre as cidades do estado e na posição 915 de 5570 dentre as cidades do Brasil.
Potencial turístico
Entre as características da cidade está o potencial turístico, com cachoeiras, corredeiras e paisagens preservadas. No local, há ao menos 82 cachoeiras catalogadas pela prefeitura, mas apenas algumas delas estão abertas para visitação, como: Paiuá, Urucá e Sete Quedas.
O potencial esbarra em dificuldades de infraestrutura, como o acesso ao município, que é por estrada de chão, pela RR-319. No entanto, os desafios não tem impedido os investimentos do etnoturismo na área, segundo o Diretor do Departamento Estadual de Turismo, Bruno Brito.
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“Uiramutã é um município singular, ele é uma sede muito pequena cercada pela terra indígena Raposa Serra do Sol. Então, em função disso existe uma regulamentação específica e toda uma legislação vigente pra ordenar a visitação turística a essas terras indígenas. Nós trabalhamos com a construção de várias políticas para orientar e para subsidiar o interesse das comunidades em desenvolver os seus planos de visitação turística”,
explicou.
Entre as ações estão as orientações para os planos de visitação turística, a capacitação de profissionais, parcerias e disponibilização dos roteiros turísticos. A expectativa é que com a pavimentação da rodovia que dá acesso ao município e a aprovação dos planos de turismo pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas, que regulamenta a atividade em áreas demarcadas, o turismo se desenvolva ainda mais na região.
Para visitar as áreas é preciso contatar agências de turismo especializadas ou um condutor indígena local. Além disso, o departamento de turismo orienta que os visitantes sigam regras de boa convivência:
Levar saco de lixo para trazer de volta todos os resíduos para serem descartados conforme orientação dos condutores;
O registro de imagem por fotografias e filmes podem ser realizados desde que sejam permitidos pelas pessoas envolvidas;
O uso de trajes de banho nas ruas e locais públicos não é permitido;
Evitar transitar nas residências e quintais sem permissão dos moradores;
Não é permitida a retirada de plantas, animais e minerais dos locais visitados;
É proibida a entrada de bebidas alcoólicas e drogas ilícitas na comunidade;
A prática de assédio moral e sexual aos moradores fere os princípios e normas da comunidade, portanto, não é tolerada;
Em obediência às crenças e tradições da comunidade, não é permitido o acesso aos locais como cachoeira, igarapés, lagos e roças nas situações de luto ou em período menstrual.
Os períodos mais propícios para visitar as cachoeiras são no período do verão, de setembro a março.
*Por Samantha Rufino, do g1 Roraima