PSICA: há mais de uma década festival celebra multicultura amazônica

O Psica celebra a potência da cultura preta e periférica da Amazônia. Nomes como Gabi Amarantos e Alcione são algumas atrações amazônidas que já passaram pelo palco.

O Festival Psica é um evento diversificado que busca da visibilidade aos artistas amazônicos, indígenas, pretos e periféricos. Criado por dois irmãos que sentiram necessidade de um festival que valorizasse a música e artistas paraenses, hoje o Psica é considerado um movimento cultural, político e social. 

O Psica surgiu em 2012 e no princípio era chamado de Mongoloid Festival. Na época o evento reuniu artistas regionais, nacionais e internacionais em dois dias de festa. No ano de 2017, o nome passou a ser Festival Psica. Com pouco mais de uma década de existência, o evento já é de médio porte e com uma equipe mais técnica.

Ao Portal Amazônia, um dos diretores do Psica Festival, Jeft Dias, relembrou o caminho percorrido da primeira edição até a atual, prevista para acontecer em dezembro de 2024.

Para Dias, o festival é uma resposta à necessidade de se realizar um evento “mais regional”, voltado para o público diversificado da região. 

“O Psica foi uma necessidade minha, do meu irmão, vizinhos e amigos nossos, de ter um espaço, um festival. com algo mais voltado para a periferia da região metropolitana de Belém [capital do Pará], tipo Ananindeua. Um festival paraense amazônico, periférico, preto, isso era algo que não existia naquela época, a gente queria ver as atrações que circulavam nos festivais nacionais, mas que tivesse um pouquinho mais da nossa cara”, disse Jeft Dias.

A escolha dos temas do Festival 

No ano passado o tema escolhido, por exemplo, foi sobre matriarcas amazônicas. Segundo o diretor, todos os anos a escolha acontece com intuito de nortear o evento como um todo.

“A gente acredita que tudo o que aconteceu, tudo o que acontece nas periferias da região e principalmente nas periferias da região amazônica no geral, é tudo através da iniciativa de uma matriarca, de uma mãe, de uma tia, de uma irmã, de uma avó, que puxou ali a responsabilidade e criou uma história na região”, comentou.

Quanto ao tema deste ano, o diretor contou que a escolha foi de um peixe simbólico para a região, a dourada, que atinge cerca de 1,5 metro de comprimento e atravessa o continente sul-americano de leste a oeste, para depositar os ovos nas cabeceiras dos rios perto dos Andes, na maior rota migratória de um peixe de água doce já confirmada pela ciência.

“Esse ano a gente vai falar muito de um peixe, a dourada, comum aqui em Belém, Marajó e Amazonas. Esse peixe é simbólico. Ele percorre a maior distância em água doce do mundo, são mais de 11 mil quilômetros, nasce lá no Peru vem até a Bahia do Marajó e volta. É um peixe muito simbólico pra gente porque representa muita coisa, a nossa música recebe influência do Peru, Colômbia, por onde o Rio Amazonas passa, o percurso que esse peixe faz representa a influência cultural que a gente absorveu de lá. Então, iremos falar disso, de quanto isso é valioso, de tudo que roubaram da gente, de tudo que levaram do nosso território, ouro, minério no geral, cacau,várias coisas, mas não conseguiram levar a nossa cultura”, desabafou Jeft.

Edição 2024

As atividades para 2024 irão iniciar antes de dezembro, mês da realização anual do evento. Entre agosto e setembro, a produção e diretores já adiantam que vão apostar em eventos que funcionam como pré-festival, com participação inclusive na Varanda de Nazaré (evento cultural e religioso) no mês de outubro e também no  Círio de Nazaré.

“As atividades previstas para esse ano irão começar entre agosto e setembro. Iremos ter um movimento que vai ser um convite que já aconteceu outros anos: o Motins e o Oposta Psica. Será uma grande conferência de música, mas com um viés assim mais periférico amazônico. A nossa intenção é reunir artistas, produtores, técnicos desse meio cultural, de toda a região e países que compõem Amazônia, uma grande feira de música, showcases. Em outubro a gente vai ter uma programação no Círio, uma varanda, que vai ser de três dias, com influenciadores e artistas, principalmente da Região Norte, e do interior do Pará, onde irão ter uma experiência, gastronômica, musical, cultural”, explicou Jeft Dias.

Expectativas

Para o diretor, ao se comparar o número de pessoas do primeiro festival até o mais recente, o aumento de público é significativo e, para 2024, as expectativas são bem maiores, em especial pelo público de fora do Estado e até do país.  

“De 2012 para o ano passado, a quantidade do público aumentou de uma forma grande. Em 2012 tivemos um público de 300 pessoas e, em 2023, o público total somando o dia gratuito e os dias pagos foi de 65 mil pessoas. Houve um crescimento absurdo, saímos de uma casa de shows que recebia no máximo 600 pessoas, para o Mangueirão, nossa expectativa para esse ano é que chegue a 80 mil pessoas, com base no sucesso do ano passado”, ressaltou o precursor do festival.

Foto: Vitória Leona

Dias revelou estar feliz com a possibilidade de expandir festivais como o Psica por todo território brasileiro. ”Uma coisa muito legal sobre a expectativa de público é o de fora do nosso Estado, que está crescendo muito. Os outros Estados da Região Norte estão em peso, o pessoal do Nordeste e principalmente do Maranhão, do Sudeste, temos recebido muitas pessoas do Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo. Tivemos um crescimento enorme no passado, acreditamos que esse ano vai crescer bem mais”, comentou o diretor.

Ele destacou o surgimento de mais festivais como o Psica no Brasil são importantes para a cultura. “Festivais que protagonizem a negritude, a Amazônia, o indígena, a periferia, como o Festival Afropunk, Festival Batekoo, que mostram o que é o Brasil de fato, que valorizem a cultura nortista, periférica”, exemplificou.

Jeft Dias frisou que a realização de um festival desse peso na região amazônica é também graças ao apoio de parceiros que acreditam no potencial regional, incentivando a cultura. “Para esse ano as marcas já sinalizaram que vão estar conosco de novo”, comemorou. Além de diversas marcas, prefeitura de Belém e Governo do Estado também apoiam o festival.

O Psica acontecerá nos dias 13, 14 e 15 de dezembro em Belém (PA). O primeiro dia da programação é gratuito. Confira mais informações AQUI.

*Por Karleandria Araújo, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar

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