Produção de pimenta em pó é fortalecida por mulheres indígenas no Pará

Conhecimentos sobre a produção da pimenta em pó desidratada e moqueada foram compartilhados em encontro da Associação de Mulheres Indígenas do Município de Oriximiná.

Pimenta moqueada em fogão à lenha de cozinha na aldeia Mapuera. Foto: Pilar Saldanha/Iepé

A produção de pimenta em pó – e todas as histórias e práticas que envolvem essa iniciativa – estão sendo mobilizadas e valorizadas pelas mulheres indígenas do Rio Mapuera, que integram a Associação de Mulheres Indígenas do Município de Oriximiná (AMIRMO), no Pará

Voltada para a organização de mutirões e atividades nas aldeias, a AMIRMO foi fundada para engajar as mulheres na produção e venda da pimenta em pó, e também nas suas demais produções de alimentos e artes indígenas.  

A produção da pimenta como uma atividade antiga, desperta o desejo de dedicar a produção para vendas fora da Terra Indígena para geração de renda. Há também o interesse na transmissão de saberes das mulheres mais velhas para as mais novas relacionados à produção voltada ao consumo próprio nas aldeias.

Leia também: Ardosa, picante ou suave: saiba a diferença entre sete pimentas populares na região

Etapa da produção de pimenta. Foto: Pilar Saldanha/Iepé

A forma como se prepara a pimenta, seja moqueada ou desidratada no sol, é uma herança dos antigos e transmitida de geração em geração. Para o preparo e beneficiamento, as mulheres do Mapuera utilizam ainda objetos como a cabaça, colheres de pau e cestarias de arumã, como o tipiti e peneiras tradicionais. Há, por outro lado, atualizações com os processos de contato e introdução de objetos industrializados.

 A Cacica Krewzy Xerew manuseia pimenta recém colhida do quintal na aldeia Bateria. Foto: Pilar Saldanha / Iepé

Encontro para troca de saberes e fortalecimento da organização de mulheres

Em maio deste ano, oficinas da AMIRMO aconteceram nas aldeias Mapuera e Bateria. Além de terem sido espaços importantes para a troca de informações e atualizações sobre as práticas da produção da pimenta, também aconteceram mutirões e reuniões. Tudo foi conduzido pelas mulheres indígenas e marcado por muita participação, mobilização e interesse das mulheres. 

As oficinas e atividades produtivas com a pimenta dão continuidade a iniciativas desenvolvidas pelas mulheres do Mapuera com outros parceiros ao longo dos últimos dez anos e mobilizam dezenas de mulheres, especialmente da própria aldeia. Na região do Rio Mapuera, o plantio e o processamento da pimenta são trabalhos essencialmente femininos, portanto, as atividades trouxeram também a valorização dos conhecimentos das mulheres.

A primeira oficina foi realizada na aldeia Mapuera e contou com mais de 60 mulheres associadas, vindas também de outras comunidades, as aldeias Tamyuru, Kecekerê, Katwaru, Karana e Kwanamari. O principal objetivo foi o compartilhamento de histórias e a feitura de desenhos sobre práticas antigas e atuais no beneficiamento e produção de Pimenta. Houve muita troca de diferentes técnicas, saberes, músicas e danças, entre gerações de mais novas e mais velhas, produtoras de pimenta,  presentes na atividade.

Mulheres visitam o roçado coletivo da AMIRMO, na aldeia Bateria. Foto: Pilar Saldanha/Iepé

Já a segunda oficina se deu na aldeia Bateria com mais de 30 mulheres, moradoras das aldeias Bateria, Pomkuru e Mapuera. Viu-se ali uma outra realidade: havia apenas duas produtoras de pimenta locais, que compartilharam com o grupo seus conhecimentos e técnicas.

O espaço de partilha das demais mulheres foi preenchido com a partilha de outras práticas: a participação das mulheres na coleta de castanha; a produção de mandioca, desde o plantio ao feitio de beiju, goma e farinha; histórias dos antigos sobre transformações de animais, espécies e a criação de objetos; cantos e danças antigas  também foram apresentados durante as oficinas. 

É nesse contexto cultural mais amplo que o tema da pimenta vem sendo  abordado durante as atividades, especialmente voltadas para a valorização das mulheres e seus saberes. 

Caaca (velha, na língua waiwai) em visita à horta na aldeia Mapuera, com variedades de pimentas  em mãos. Foto: Pilar Saldanha/Iepé

Mulheres do Rio Mapuera

As mulheres habitantes do rio Mapuera são mais conhecidas como pertencentes ao povo Wai Wai, porém identificam-se como pertencentes a uma diversidade de povo, ou yana(s) menos conhecidos, como Katwena, Tunayana, Cikiyana, Mawayana, Xerew, Parukwoto, Hixkaryana, Mînpoyana, Katxuyana, e outros.

Desenho feito da dança das mulheres, na Aldeia Mapuera. Foto: Pilar Saldanha/Iepé

Considerado uma Unidade Territorial dentro do grande Território Wayamu, o rio Mapuera é atravessado por três Terras Indígenas: Trombetas-Mapuera, Nhamundá-Mapuera e Kaxuyana-Tunayana. Nessas três terras indígenas, a sociobiodiversidade ali presente contextualiza as práticas, técnicas e saberes indígenas em torno das atividades produtivas.

As oficinas de pimenta aconteceram a partir da parceria da AMIRMO com o Instituto Iepé por meio de apoio da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), e o fomento do “Projeto Kawana: consolidando a rede de áreas protegidas no Norte do Pará”, via Fundo LIRA e Imazon, no qual a AMIRMO atuou como instituição agluitinada.

*Com informações do Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé)

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Novo grupo de indígenas isolados no Amazonas está sem proteção há mais de um ano

Funai não publica portaria de restrição de uso nem monta base para monitorar isolados; empresa madeireira e de exploração de gás e óleo atuam na região.

Leia também

Publicidade