Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A Região Norte do Brasil concentra parte essencial da história indígena nacional. Muito antes da chegada dos colonizadores portugueses, cada território que hoje corresponde às capitais dos estados brasileiros abrigava povos de diferentes etnias, com línguas, costumes, crenças e formas de organização próprias.
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Essas populações não apenas ocupavam as terras, mas também estruturavam redes de trocas, de defesa, de cultivo e de rituais religiosos, compondo sociedades complexas e com grande diversidade cultural.
A ocupação europeia transformou profundamente esse cenário, mas os registros históricos, arqueológicos e orais permitem identificar as etnias predominantes em cada região.
De acordo com dados coletados pelo antropólogo Darcy Ribeiro, em suas pesquisas intituladas “Os Índios e a Civilização”, as etnias da Amazônia não eram isoladas. Muitas mantinham contato por meio dos rios, que funcionavam como grandes estradas naturais. Conflitos, alianças e migrações também marcaram o processo de convivência entre esses povos antes da chegada dos colonizadores.
Estudos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), assim como várias outras pesquisas antropológicas, mostram que os povos predominantes antes da colonização formavam o alicerce humano e cultural da Amazônia e do Cerrado, por exemplo.
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Assim, cada capital da Região Norte guarda em sua origem a presença de povos originários que moldaram o território com seus saberes, modos de vida e práticas de convivência com a natureza. Mesmo após os impactos da colonização, muitas dessas etnias permanecem ativas e reconhecidas, garantindo a continuidade de sua história.
Pensando nisso, o Portal Amazônia listou duas das principais etnias que habitavam as áreas onde hoje se localizam as capitais da Região Norte, preservando a memória histórica dos povos originários e sua relevância cultural.
Rio Branco (Acre)
O território do Acre, em especial onde se localiza Rio Branco, era ocupado principalmente pelos Ashaninka e pelos Kaxinawá (Huni Kuin). Os Ashaninka viviam em comunidades organizadas, cultivando mandioca, milho e algodão, e eram conhecidos pela produção de tecidos e pela organização social baseada em clãs familiares.
Já os Kaxinawá ocupavam áreas do rio Envira e Purus, com rituais de ayahuasca e forte tradição guerreira.

Macapá (Amapá)
Na área de Macapá, as etnias predominantes eram os Palikur e os Galibi. Os Palikur, ligados ao tronco linguístico Aruak, viviam próximos à foz do rio Amazonas, praticando agricultura e mantendo relações comerciais com outros povos do litoral e do interior.
Já os Galibi, do tronco Karib, se distribuíam entre o Amapá e a Guiana Francesa, sendo conhecidos por sua resistência e pelo contato constante com outros grupos indígenas.
No documentário abaixo, é possível conhecer um pouco da cultura Palikur e seus conhecimentos seculares de construção de canoas.
Manaus (Amazonas)
Na região que hoje corresponde a Manaus, duas etnias predominavam: Manaós e Barés.
Os Manaós foram um dos povos mais influentes da região, controlando o rio Negro e organizando aldeias estruturadas em torno da pesca e do comércio com outros povos.
Já os Barés ocupavam áreas próximas e se destacavam por práticas agrícolas e pelo uso medicinal das plantas da floresta. Ambos os grupos mantinham relações com etnias vizinhas, influenciando a formação cultural da área.

Belém (Pará)
Na área de Belém, as duas etnias predominantes eram os Tupinambás e os Araras. Os Tupinambás faziam parte da grande família tupi, espalhada pelo litoral e pela foz do rio Amazonas, com destaque para a agricultura de mandioca e a pesca.
Já os Araras ocupavam áreas próximas da atual capital, vivendo da caça, coleta e pesca em terras firmes e várzeas, mantendo também tradições guerreiras que resistiram à chegada dos colonizadores.

Porto Velho (Rondônia)
Na região onde hoje está Porto Velho, destacavam-se os Karipunas e os Paresí. Os Karipunas viviam próximos aos rios Madeira e Jamari, com modo de vida baseado na pesca, coleta e agricultura de pequena escala.
Já os Paresí, embora mais associados ao interior do atual Mato Grosso, expandiam sua presença para a região de Rondônia, estabelecendo contatos de troca e circulação.

Boa Vista (Roraima)
Na região da atual Boa Vista, predominavam os Macuxi e os Wapixana. Os Macuxi habitavam vastas áreas entre Brasil e Guiana, com economia baseada em roças coletivas e caça, e mantendo práticas espirituais ligadas à natureza.
Os Wapixana, por sua vez, estavam distribuídos ao sul da capital, vivendo em malocas e cultivando produtos agrícolas, além de possuir forte tradição oral.

Palmas (Tocantins)
Na região do atual Tocantins, onde hoje está Palmas, destacavam-se os Xerente e os Karajá. Os Xerente ocupavam áreas próximas ao rio Tocantins e ao rio Sono, vivendo da agricultura de mandioca, milho e algodão, além da caça e da pesca.
Os Karajá habitavam ilhas e margens do rio Araguaia, sendo conhecidos por sua tradição cerâmica, arte plumária e rituais de iniciação masculina.

