Símbolos da fé paraense também estão nas cerca de 250 peças produzidas por 17 marcas que compõem a exposição Moda Círio 2021
Camiseta branca com a imagem customizada do cartaz do Círio? Por que não optar por uma saia que traz estampado o promesseiro e seu barquinho de miriti? ou um colar estilo berloque com alguns dos símbolos da fé? Os símbolos também estão nas pulseiras feitas em madeira, em blusas, macacões e bolsas. A variedade de produtos é enorme, são cerca de 250 peças criadas especificamente para compor a Moda Círio 2021, a primeira exposição de moda autoral criada e realizada pelo Instituto de Gemas e Jóias da Amazônia (Igama).
Toda a produção autoral das 17 marcas selecionadas será disponibilizada para vendas através de uma live shopping. Será a primeira live shopping de moda desenvolvida pelo Igama e funcionará por um período de duas horas.
“Primeiro é mais uma forma de demonstrar a fé que temos por Nossa Senhora de Nazaré, através de produtos criativos e inovadores fazendo referência à padroeira dos paraenses, depois, a possibilidade de lançamento de novos produtos.A exposição foi uma demanda dos produtores e empresários do arranjo produtivo de moda e design que comercializam seus produtos no Espaço São José Liberto”, conclui.
A iniciativa agradou quem vai expor até pela possibilidade de levar os produtos àquele público que ainda prefere manter a questão do distanciamento social por conta da pandemia.
“Eu achei bem bacana essa iniciativa de usar um formato atual, que possibilita o consumidor ter acesso ao produto que ele escolher tendo a facilidade da compra e das formas de pagamento. Ainda não participei de nenhuma live shopping,mas a direção do Igama e a Sedeme estão em sintonia com nosso momento, oferecendo para o público e para os colaboradores a possibilidade de estar inserido nesse cenário que a gente está vivendo.Eu gostei bastante”, comemora Ludimila Heringer.
Curadoria
Quem teve a responsabilidade de avaliar e escolher as peças que fazem parte da exposição foi Yorrana Maia, diretora criativa da Coleção e professora de moda da Universidade da Amazônia, que comemora essa nova possibilidade de visibilidade e renda para os criadores de moda autoral.
“O negócio da moda depende de estratégias de lançamentos de coleções, então esse tipo de ação, sem dúvida, potencializa a construção de valor das marcas, do próprio espaço de moda e também potencializa as vendas, já que o Círio, por si só, é um momento de alta de vendas do segmento da moda. Aí, toda essa estratégia de lançamento, com a exposição, com a live shopping, sem dúvida, é algo bastante relevante pra potencializar essas vendas e essa construção dos valores das marcas”.
Yorrana esteve à frente do workshop que deu início a esse projeto. Inicialmente participaram cerca de 30 marcas que, ao longo do processo, desenvolveram suas coleções, confeccionaram e passaram pelo processo de mentoria e avaliação das peças. Ao final, restaram 17 marcas que entregaram mais 250 peças que abarcam tanto as marcas de vestuário quanto de acessórios e decoração, o que garante uma diversidade maior de produtos.
Como essas categorias têm características diferentes, foi usada uma variedade enorme de materiais na produção das peças. No vestuário grande parte usa tipologias artesanais e tingimentos naturais. Os acessórios, que envolvem tanto bolsas, conjuntos de colares, brincos e anéis, também abusaram das matérias-primas utilizadas.
A diretora criativa explica que esse ano o foco foi a questão da criação autoral.
“Desenvolvemos bastante a questão da metodologia de como construir uma marca que seja autoral, que carregue a essência, a lente do criador, mas que também traduza as necessidades e os desejos do público, do cliente. O nosso ponto de partida foi um trecho de um texto do site oficial do Círio, que falava da história de Nossa Senhora de Nazaré,a partir daí cada criador foi desenvolvendo uma referência relacionada ao Círio,através de pesquisa criativa e autoral”.
Uma das marcas em exposição será a Ludimila Heringer, que começou a produzir peças em crochê, em 2016, como terapia para enfrentar um período complicado. Participou de feiras e bazares, até ser convidada para o Amazônia Fashion Week, em 2017, e depois para fazer parte do Arranjo Produtivo Local de Moda, desenvolvido pelo Instituto de Gemas e Joias da Amazônia, dentro do Espaço São José Liberto.
Quando foi selecionada, mudou o estilo e passou a produzir peças de vestuário, por sugestão do estilista André Lima, que viu ali um talento da manualidade têxtil. Uma das coleções da estilista, com tingimento natural e estamparia botânica ganhou editorial de moda em uma revista de circulação, outra peça foi parar na Vogue, mas pela primeira vez Ludimila criou peças que remetem a maior festa católica do povo paraense.
“Nunca tinha feito nada para o Círio e decidi fazer a coleção ‘Amareluz’, que foca tudo na força, na energia do amarelo, que representa a fé, toda a luz que existe nesse evento, que transborda, que passa pra todo mundo que assiste. Para dar foco na cor amarela e ter uma conexão entre as flores usadas na berlinda, eu trouxe flores que tem o poder do tingimento, que passam essa cor, o amarelo, para o tecido branco. Nesse caso elegi a flor de Cosmos, a flor de macela, utilizei a casca de cebola, que tem muita força e muito poder na cor, e a cúrcuma, que é o açafrão da terra pra poder criar as estampas”, explica.