No Amazonas, movimento exige políticas públicas ao setor cultural durante pandemia

O Mobiliza Cultura Amazonas busca propor ações e melhor interação com as secretarias estaduais e municipais de cultura

Os incontáveis impactos causados pela pandemia de coronavírus atingem também o setor cultural em todo mundo. No Amazonas, o movimento Mobiliza Cultura Amazonas reúne representantes da classe artística e agentes culturais para propor, reivindicar e fiscalizar ações públicas emergenciais com intuito de reduzir os impactos ao setor cultural.

Toda a programação e visitação dos equipamentos culturais, assim como temporadas, foram suspensas pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Amazonas em 16 de março. O funcionamento de casas de shows e eventos também foi suspenso em decreto nº 42.099 publicado em 21 de março, pelo Governo do Amazonas.

Em acordo com as medidas protetivas, os trabalhadores da cultura de Manaus e dos demais municípios do Amazonas se uniram para buscar políticas públicas emergenciais viáveis para subsistência durante período pandêmico. Com esse intuito nasce o Mobiliza Cultura Amazonas, movimento coletivo que agrega diversidade de agentes culturais, engajados na fiscalização, elaboração e implementação de políticas culturais.

Foto: Divulgação

A jornalista e produtora cultural Wanessa Leal compõe o movimento e explica que as ações começaram com uma pressão para que representantes das instituições culturais se pronunciassem sobre o caso. “Fizemos uma primeira pressão para que houvesse um pronunciamento tanto da Manauscult, na figura do Bernardo (Monteiro de Paula – diretor-presidente da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos / Manauscult), quanto do Apolo como secretário de Cultura e Economia Criativa.”

Após a primeira ação, não houve pronunciamento formal e institucional de nenhum dos representantes das pastas de cultura, mas realizou-se uma reunião com o secretário de Cultura e Economia Criativa, Marcos Apolo Muniz, na qual foram levantadas sugestões de ações menos burocráticas de apoio à classe artística.

“Na quarta-feira, 25, houve uma reunião aberta, via plataforma Jitsi, só que o link foi divulgado muito em cima da hora. Mesmo assim, a reunião durou quase três horas e várias pessoas de diferentes seguimentos culturais atuantes pontuaram questões em relação ao panorama geral da covid-19 e aos impactos na cultura do Amazonas. Também pontuamos o edital que foi lançado pela secretaria, o Fica na Rede, Maninho”, explica a produtora.

Ações adotadas

Desde que decretadas as medidas de isolamento social, o Secretaria de Cultura e Economia Criativa lançou, no dia 23 de março, a campanha “Cultura Sem Sair de Casa”, que oferecerá ao público aulas virtuais, no Youtube e no Instagram, com professores do Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro, performances dos Corpos Artísticos, tutorial de maquiagem artística, além de indicação de livros, filmes, playlists e técnicas de alongamento e respiração para amenizar a ansiedade no período de isolamento social.

Outra medida adotada pela secretaria foi a publicação do edital ‘Fica na Rede, Maninho’, lançado terça-feira, 24, com o objetivo de estimular a difusão de produções artísticas e de ações de capacitação durante período pandêmico.

O edital é apresentado como uma das ações imediatas do Governo para minimizar o impacto no cenário cultural. Serão selecionadas até 300 propostas de conteúdo digital, divididas em três lotes, no valor individual de R$ 1.000,00. O edital está disponível para consulta pública e, de acordo com a minuta, as sugestões deveriam ser enviadas entre 24 e 26 de março de 2020.

Wanessa Leal pontua que ações menos burocráticas, de caráter emergencial precisam ser adotadas. A produtora explicou que, durante reunião com o secretário Marcos Apolo, foi solicitado que se pensem novas opções, além do edital que, segundo ela, não vai conseguir contemplar a grande maioria dos trabalhadores que mais precisam da assistência da secretaria.

“Continuamos buscando mecanismo que não sejam esses muito burocráticos como o do edital. Por melhor ou pior que seja, existe o processo burocrático e o artista que precisa de algo mais emergencial fica de fora. Ele vai ter que esperar duas, três semanas, até um mês, levando em consideração todas as etapas de um edital.”

A produtora cultural Michelle Andrews também compõe o Mobiliza Cultura Amazonas. Ela explica que o movimento pede agilidade de ações e diagnóstico da realidade do setor cultural no estado.

“É importante pontuar nesse processo, não é que não haja diálogo, mas a gente precisa ter estratégias políticas e ágeis para minimizar os impactos da covid-19. Se não tem uma agilidade, uma comunicação contínua, nem um diagnóstico sendo feito, não dá. As propostas não podem ser de cima para baixo.”

Michelle pontua que são necessárias tomadas de medidas que contemplem também os que não têm acesso digital e reforça as sugestões emitidas em reunião e carta.

“A gente quer agilidade nisso porque o momento pede e não pode excluir o interior, nem as pessoas que não têm presença digital. É política cultural dos novos tempos, então, tem uma série de sugestões, desde criar um SAC de atendimento. Precisa ter um atendimento pra entender e diagnosticar o que está acontecendo e a partir disso, propor, aplicar e interagir com outras instâncias”, diz Michelle.

A Secretaria de Cultura e Economia criativa também já realizou reunião com representantes da Associação de Entretenimento do Estado do Amazonas para ouvir as demandas do segmento, uma videoconferência com secretários municipais de cultura e lançou a exibição de documentários sobre artistas amazonenses nas redes sociais da secretaria.

A Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult) não disponibilizou nenhuma ação direcionada ao setor, tendo, até agora, anunciado apenas o fechamento de parques, espaços culturais e suspendendo atendimento presencial.

O Mobiliza Cultura Amazonas está em fase de pré-produção de um festival multicultural virtual que será realizado de forma colaborativa entre membros do movimento, sociedade civil, artistas e produtores em geral.

Foto: Reprodução/Facebook

Carta proposta para Política Cultural no Amazonas em tempos de Covid-19

No dia 26 de março o Mobiliza Cultura Amazonas publicou uma carta direcionada à Secretaria de Cultura e Economia Criativa e à Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult).

Segundo Wanessa Leal, trata-se de uma carta completa, na qual participam pessoas da sociedade civil, movimentos, coletivos, ativistas culturais que se posicionam de forma presente e participativa. Até o fechamento dessa matéria, o documento contava com 194 assinaturas.

“Na carta a gente pontua as questões colocadas na reunião com o Apolo e também outras questões do nosso movimento, cobrando uma resposta, uma ação eficaz da Manauscult e da Secretaria do Estado.”

Michelle Andrews chama ressalta que pessoas que ocupam espaços de poder devem acolher, conversar, dialogar em uma comunicação contínua para gerar ações mais eficazes no apoio à classe artística.

“Ainda não vimos, infelizmente, uma proposta da Manauscult mais efetiva, só mesmo as questões paliativas como fechar espaços culturais, mas e aí, como a gente fica? Acho que rola adiantar os editais, fazer um programa de inclusão e presença digital, vale fazer um diagnóstico e isso só se dar através de um sistema de atendimento aos profissionais do setor cultural. Hoje, o que a gente vê é uma falta de sensibilidade política para o momento”, conclui a produtora.

Leia a carta na íntegra: https://bit.ly/AssineACartadoMobilizaCultura

Em 28 de março, A Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa informou via redes sociais, que recebeu a carta do Mobiliza Cultura Amazonas no dia 26 de março, após a realização de uma videoconferência com o grupo, para levantar as principais demandas no período de isolamento social.  

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