MPF cobra medidas sobre desparecimento de itens do acervo de Chico Mendes no Acre

Material de Chico Mendes desapareceu após fechamento da Biblioteca da Floresta, em 2019. Documento foi encaminhado ao MPF, que deve decidir sobre as providências necessárias.

Foto: Arquivo Memorial Chico Mendes

O acervo com documentos e materiais de valor histórico que contam sobre a vida e luta do ambientalista acreano Francisco Alves Mendes Filho, conhecido internacionalmente como Chico Mendes, e que ficava na Biblioteca da Floresta, em Rio Branco, está desaparecido desde 2019.

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Por conta disso, o Ministério Público Federal (MPF-AC) solicitou que o Ministério Público do Acre (MP-AC) implemente medidas para localizar e preservar o acervo cultural do líder seringueiro.

Ao Grupo Rede Amazônica, o órgão informou que instaurou uma notícia de fato sobre o desaparecimento do acervo. “O caso foi enviado ao MPAC por meio de uma representação do Ministério Público Federal (MPF) e passará a ser investigado pela 1ª Promotoria de Justiça Especializada de Habitação e Urbanismo e Defesa do Patrimônio Histórico e Cultural”, complementou.

Segundo a representação do MPF, os itens, que documentam a história da luta ambiental e social na região, desapareceram após o fechamento da biblioteca para reforma e manutenção em 2019. Em maio de 2022, um incêndio também afetou parte do prédio.

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Em entrevista, a ambientalista Ângela Mendes, que é filha de Chico Mendes, lamentou o sumiço do material e comentou que o acervo, que inclui revistas, vídeos e exposição, é resultado de diversas pesquisas.

“É muito triste, não é só porque é o caso do meu pai, mas de uma forma geral [sobre] como acervos históricos tão importantes são desprezados. Não é porque temos um Museu dos Povos Acreanos que não podemos ter a Biblioteca da Floresta restaurada. Afinal, conhecimento nunca é demais”, disse ela.

Parte do acervo de Chico Mendes estava na Biblioteca da Floresta que está fechada há mais de 5 anos — Foto: Seronilson Marinheiro/Rede Amazônica Acre
Parte do acervo de Chico Mendes estava na Biblioteca da Floresta que está fechada há mais de 5 anos. Foto: Seronilson Marinheiro/Rede Amazônica AC

O documento do MPF, assinado pelo procurador regional dos Direitos do Cidadão, Lucas Costa Almeida Dias, foi encaminhado ao MP, que deve decidir sobre as providências necessárias.

O MPF afirmou ainda que a ausência de informações sobre a localização e o estado de conservação do material pode gerar uma “lacuna na memória coletiva” e causar “prejuízo concreto à sociedade”.

O órgão também destacou o valor inestimável do acervo para a preservação da história e da identidade cultural do Acre.

“Desde 2019 não temos nenhuma notícia sobre este material e acho válida a representação feita pelo doutor Lucas no sentido de que é um acervo importante porque além de mostrar a trajetória de meu pai, é também sobre uma parte da história do movimento socioambiental do Acre”, pontuou Ângela.

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Chico Mendes

Chico Mendes foi morto com um tiro de escopeta em 22 de dezembro de 1988 enquanto tomava banho nos fundos de casa, uma semana antes, o líder seringueiro havia completado 44 anos. O líder seringueiro, que morava em Xapuri, interior do Acre, é conhecido nacionalmente e internacionalmente como ativista ambiental.

Após a morte de Chico Mendes, Darly Alves da Silva e seu filho Darci Alves foram apontados como os principais suspeitos do homicídio. Pai e filho acabaram sendo condenados em 1990 a 19 anos de detenção. O primeiro porque teria sido o mandante do crime e o segundo porque teria atirado no ativista.

Chico Mendes. Foto: Reprodução

O legado de Chico Mendes hoje é mantido pelos filhos por meio do Comitê Chico Mendes e também outras ações. A casa do líder também é um patrimônio histórico do estado. Em novembro de 2023 foi reaberta após cinco anos fechada.

A maior reserva extrativista do Acre leva o nome do seringueiro, mas tem sofrido com ameaças de desmatamento, sempre liderando também o ranking de queimadas em áreas protegidas. Entre 2022 e 2023 reduziu 71% o desmatamento. Ela é a área protegida mais pressionada pelo desmatamento de acordo com a Imazon.

*Por Hellen Monteiro, da Rede Amazônica AC

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