Foto: Divulgação/Equipe ‘A Ancestral’
O Arquipélago do Bailique se tornou o palco de uma grande produção cinematográfica durante 13 dias. A minissérie ‘A ancestral’ é produzida no local e conta uma história de ficção científica sobre uma missão de uma astronauta, inserindo no enredo os problemas atuais enfrentados pela mudança climática no interior do Amapá.
O projeto é um dos contemplados pela Lei Paulo Gustavo. As gravações foram finalizadas no dia 18 de dezembro em uma parte do Bioparque da Amazônia, em Macapá.
‘A ancestral’
A história se passa cerca de 40 anos no futuro, com duas histórias paralelas que se encontram no Bailique, retratando as mudanças no clima enfrentadas atualmente já completamente avançadas.
“A gente fala de uma realidade alternativa retratando a vida dos últimos moradores do Arquipélago do Bailique. Num mundo onde as mudanças climáticas são muito extremas, a água está completamente salgada, a fauna praticamente se foi, eles não tem caça, não tem insetos e a vida fica muito difícil”, disse Célio Cavalcante, diretor da série.
Em outro momento, a história da exploradora de Marte colide com as dificuldades enfrentadas pelos habitantes do interior do Amapá.
“Ao mesmo tempo, está acontecendo a exploração espacial chinesa, quando a China está explorando Marte. Nessas duas histórias que aparentemente não têm nada a ver, que são contemporâneas nessa realidade alternativa, se cruzam no Bailique”, explicou o diretor.
A produção da série contou também com o apoio das comunidades tradicionais do Bailique que cederam espaços e as próprias casas como cenário.
“Nós procuramos alguns recortes, escolhemos casas específicas, paisagens específicas, fazendo o uso do fenômeno das terras caídas para retratar esse mundo de condições extremas. Os cenários, nós não construímos. Eles estão lá, representando a realidade daquelas pessoas de como elas vivem hoje e como vivem em um lugar muito frágil, onde essas mudanças climáticas se evidenciam de forma mais rápida”, complementou o diretor.
O presidente da Associação das Comunidades Tradicionais do Bailique, Geová Alves, disse que a produção é uma forma de registro aos autuais problemas enfrentados pelos moradores, dando uma maior visibilidade à problemática.
“Essa série para a gente tem uma importância muito grande por conta do contexto em que ela tá se inserindo, por ser no Bailique, por mostrar a nossa realidade, nosso modo de vida e também os nossos problemas. Então pra gente foi um prazer muito grande formalizar essa parceria e poder contribuir de alguma forma com esse projeto”, disse.
Além disso, a produção movimentou completamente o local onde foi filmada, nas vilas Macedônia e Progresso, com transporte, alimentação, hospedagem, infraestrutura, comércio local, entre outras necessidades da equipe.
O elenco conta com uma equipe de atores de dentro e fora do Amapá. O Yoran Blaschkauer, é um dos atores que integram o elenco e conta que as experiências no Bailique são únicas.
“Vim especialmente pela primeira vez aqui em Macapá, tá sendo lindo, uma experiência inesquecível, uma equipe maravilhosa. Meu personagem tem o nome de ‘Gringo’, eu sou um norte-americano e biólogo que já esta aqui nessas terras fazendo pesquisa há um bom tempo e tenho essa relação um pouco mais íntima com os nativos daqui e tive a oportunidade de conhecer o Bailique que é apaixonante, com pessoas maravilhosas”, disse.
Outra integrante que deu a vida a uma personagem nativa do Bailique foi a artista Ana Caroline. Ela contou que nos bastidores a admiração ao local gravação ao grande, ainda por se tratar de problemas reais contados de forma ‘descontraída’.
“Meu personagem é um personagem ‘real’, é uma pessoa que é do Bailique, que é essa mulher incrível, uma ativista do Bailique, que atua há muito tempo. Esta sendo uma experiência muito boa, interessante e desafiadora, é uma ficção que trabalha dentro de uma realidade”, contou.
Após o fim da fase das gravações, a minissérie segue para a fase pós-produção e em breve estará disponível em plataformas de streaming. A previsão para o lançamento da obra é dentro de 6 meses, no Bailique e em Macapá.
Problemas além da ficção científica
A obra é um retrato sobre um possível futuro em que as consequências da mudança climática já estão completamente avançadas. O fato é que atualmente, em 2024, as consequências da salinização do Rio Amazonas continuam avançando, o que leva a uma reflexão em que o diretor de ‘A ancestral’ passa aos telespectadores, levantando uma reflexão sobre o presente e um futuro distante, no entanto, possível.
O Arquipélago do Bailique enfrenta uma situação de emergência climática reconhecida nacionalmente no ano de 2023 em que a água potável se encontra completamente indevida para o consumo. Máquinas que ajudam no processo de ‘dessalinização’ estão sendo enviadas para as comunidades. A ajuda busca tratar ao menos 18 mil litros de água por dia.
A mudança se dá por conta dos fenômenos La Niña e El Niño, que causam alterações anormais nos oceanos Pacífico e Atlântico, o que acaba influenciando diretamente nas recentes catástrofes que acontecem no Arquipélago.
Ainda como parte destas consequências, o local enfrentou a seca do Canal do Livramento, na Foz do Rio Amazonas, um dos principais, que é o responsável pela conexão entre 56 comunidades existentes no conjunto de ilhas. O canal ficou intrafegável com as consequências ainda mais agravadas devido ao forte período de estiagem.
Sinopse
Em um futuro não muito distante, acompanhamos a descoberta de restos humanos em Marte, que datam de mais de 10 mil anos atrás. Uma descoberta que traz diversas perguntas, para uma sociedade que não está pronta para absorver tal informação. Enquanto aqui na Terra, no arquipélago do Bailique, Dayane, sua familia e outros moradores, se preparam para ir embora para a capital, Macapá.
São os últimos moradores desse povoado isolado e alheio as notícias, que sofrem com a subida extrema do nível dos mares e salinização do rio Amazonas. Não bastasse isso, enfrentam conflitos locais com um fazendeiro ambicioso que os impede de ter energia elétrica e os proíbe de pescar no rio que os alimentou por gerações. Uma história de resiliência, a luta pela sobrevivência em um momento extremo da humanidade.
*Por Isadora Pereira, da Rede Amazônica AP