Escritor amazonense Milton Hatoum. Foto: Hamyle Nobre/Menina Miúda Produções Artísticas
O escritor amazonense Milton Hatoum foi eleito, no dia 14 de agosto, para a Academia Brasileira de Letras (ABL), assumindo a cadeira número 6, anteriormente ocupada pelo jornalista Cícero Sandroni (1935-2025). A eleição ocorreu cinco dias antes do aniversário de 73 anos do autor, considerado um dos mais importantes romancistas do país.
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Além de Hatoum, também concorreram à vaga Eduardo Baccarin-Costa, Cezar Augusto da Silva, Antônio Campos, Paulo Renato Ceratti e Angelos D’Arachosia. O amazonense foi o primeiro a oficializar sua candidatura enviando a carta de inscrição para a instituição.
Trajetória e obras marcantes
Nascido em Manaus, em 1952, filho de imigrantes libaneses, Milton Hatoum cresceu em um ambiente influenciado por narrativas familiares que marcaram profundamente sua literatura. Seu avô paterno chegou ao Brasil em 1904, passando por Rio Branco antes de retornar ao Líbano. Anos depois, seu pai, Hassan Hatoum, estabeleceu-se na Amazônia, onde se casou com Naha Assi Hatoum, também descendente de libaneses.

A infância e juventude de Hatoum foram vividas na capital amazonense, onde desenvolveu paixão pela leitura. Ainda adolescente, leu autores como Graciliano Ramos, Machado de Assis e Jorge Amado. Aos 15 anos, mudou-se para Brasília, publicando seu primeiro poema no Correio Braziliense em 1969. No ano seguinte, iniciou o curso de Arquitetura na Universidade de São Paulo (USP), mas também frequentou aulas de literatura e teoria literária.
Sua carreira como escritor consolidou-se com romances premiados, entre eles “Relato de um certo oriente” (1989), vencedor do Prêmio Jabuti, “Dois irmãos” (2000) e “Cinzas do norte” (2005). “Órfãos do Eldorado” (2008), “A noite da espera” (2017) e “Pontos de fuga” (2019) também compõem sua bibliografia. Todos os romances foram publicados pela Companhia das Letras.
“Dois irmãos” foi adaptado para minissérie exibida na TV Globo e no Globoplay, com Cauã Reymond e Matheus Abreu interpretando os gêmeos protagonistas. Em 2024, “Relato de um certo oriente” ganhou adaptação para o cinema sob direção de Marcelo Gomes, com elenco de origem libanesa.
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Milton Hatoum na ABL e a renovação da instituição
Com a eleição de Milton Hatoum, a ABL segue um ano de intensa renovação. Em 2025, já foram realizadas cinco eleições para preenchimento de cadeiras. Em julho, a mineira Ana Maria Gonçalves tornou-se a primeira mulher negra a ingressar na Academia. No início de agosto, a jornalista Míriam Leitão tomou posse, destacando em seu discurso a importância da representatividade feminina e da diversidade cultural na literatura.
A cadeira número 6, que agora será ocupada por Hatoum, já teve nomes como o diplomata José Carlos de Macedo Soares e o escritor Pedro Nava. Cícero Sandroni, último ocupante, faleceu em junho de 2025.
O escritor amazonense assume a posição com uma trajetória marcada por múltiplos prêmios e reconhecimento internacional. Além de seus romances, Hatoum também publicou coletâneas de contos e crônicas, como “Cidade ilhada” (2009) e “Sete crônicas” (2023). Sua produção literária é caracterizada por temas como conflitos familiares, identidade cultural, imigração e o cotidiano amazônico.
A eleição de Hatoum também reforça a presença da literatura da região Norte na ABL, uma instituição historicamente centrada no eixo Rio-São Paulo. Atualmente, o escritor vive em São Paulo, mas mantém vínculo constante com o Amazonas, cenário e inspiração de grande parte de suas obras. Inclusive, recentemente em uma entrevista a TV Cultura em 2024 falou sobre como aborda a Amazônia em suas obras.
O ano de 2025 marca ainda a posse de outros nomes como José Roberto de Castro Neves e Paulo Henriques Britto. Entre os atuais imortais, estão autores e personalidades como Fernanda Montenegro, Gilberto Gil, Lilia Schwarcz, Ruy Castro e Paulo Coelho.
A posse de Milton Hatoum será marcada por discurso em que o escritor deve destacar a importância da literatura como ferramenta de preservação da memória cultural e de reflexão sobre a sociedade brasileira.
