Foto: Reprodução/Youtube-Bob Barbosa
Quando se fala em artes plásticas na Amazônia, é impossível não associar o tema com o nome de um dos artistas mais completos da região: Laurimar Leal. Pintor, escultor, artesão, poeta, cantor e compositor, o artista plástico de 86 anos é considerado uma lenda viva no cenário artístico e cultural do Brasil e do exterior.
Com mais de sete décadas de vida dedicadas à arte, Laurimar Leal é autor de várias obras que retratam a história de Santarém (PA), cidade onde nasceu, bem como de inúmeras contribuições artísticas que traduziam a realidade amazônica, entre elas o Festival Folclórico de Parintins.
O artista multifacetado escolheu brincar de arte na infância e se tornou um ícone da cena cultural regional, nacional e internacional.
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Quem foi Laurimar?
Filho de Joaquim de Sousa Leal e Julieta Brígida dos Santos, Laurimar dos Santos Leal nasceu em 24 de julho de 1939. Foi criado pelas suas tias Raquel e Judith de Souza, que foram suas primeiras educadoras.
Desde a sua infância, Laurimar já demonstrava seu dom artístico com pinturas e artesanato de cerâmica. Apaixonado pelo natal, gostava de decorar a casa, montava árvore natalina e criava presépios.
E foi ainda criança, aos 9 anos, que realizou o seu primeiro trabalho artístico solicitado: um presépio com os reis magos para a Prefeitura Municipal de Santarém.
Na adolescência, Laurimar começou a se interessar pela pintura, escultura e restauro, atividades em que também mostrou habilidades como a criação de figurinos e adereços para o carnaval de Santarém.
Com um timbre apurado, ele se aventurou na música com a formação do grupo musical Os Brasas, em 1960, onde foi cantor e compositor.

O início da carreira
No ano seguinte, Laurimar desembarcou no Rio de Janeiro para frequentar a Escola de Belas Artes, onde lá aprimorou as suas técnicas na pintura ao longo de cinco anos. Em 1966, retornou à Santarém para formar, com Renato Sussuarana, a agremiação Ases do Samba, para criação de letras dos sambas enredos, alegorias e adereços. A atuação da dupla rendeu premiações da agremiação em diversos desfiles de carnaval na cidade.
Em 1978, Laurimar foi convidado para morar em Monte Alegre, município paraense, para realizar trabalhos de pintura, escultura e decoração para o carnaval da cidade, além de ser o responsável por restaurar a Praça da Igreja de Santa Luzia. Ficou lá por dois anos, até retornar à Santarém.
No início dos anos 1980, Leal foi contratado pela Companhia de Fiação e Tecelagem de Juta (TECEJUTA) para administrar um espaço com suas próprias obras. A oportunidade foi considerada uma verdadeira vitrine para Laurimar, que passou a ser admirado por todos pela sua produção artística de expressão e reconhecido por turistas do Brasil e do mundo.
Prova disso foi a visita, em 1989, do renomado paisagista e artista plástico brasileiro Roberto Burle Marx, que vivia no Rio de Janeiro e foi até Santarém para apreciar o trabalho de Laurimar Leal e conhecê-lo pessoalmente.
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Do Pará para o mundo
Após várias contribuições no meio artístico e cultural do Pará, Laurimar foi convidado, em 1995, pela instituição não-governamental Sol 3 para realizar um intercâmbio cultural em Paris. Em três meses na França, o artista paraense se dedicou à pintura de quadros sobre lendas amazônicas e foi bastante elogiado pelos críticos da arte.
Seu trabalho foi classificado como de estilo surrealista amazônico, em alusão ao movimento artístico e literário nascido em Paris, na década de 1920, e que estimulava a criação livre e objetivava os elementos do mundo real com realidades inanimadas, através da imaginação do artista.
Últimos trabalhos
De volta à Santarém, Laurimar recebeu a missão de ser o diretor do Centro Cultural João Fona, onde ficou por muitos anos, ora administrando à convite da Prefeiura de Santarém, ora mantendo suas produções artísticas regionais como pinturas de representações indígenas e dos povos originários que habitaram a Amazônia.
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Em 2005, Laurimar começou a perder a visão em decorrência de glaucoma e passou a enxergar vultos. Mesmo assim, continuou a pintar quadros até perder completamente a capacidade de enxergar.
Hoje, com 86 anos, Laurimar é aposentado e vive como auxílio de uma pensão cedida pela Prefeitura de Santarém, numa prova de reconhecimento, valorização e cuidado com uma das principais figuras do meio cultural e artístico da região Amazônica.
Homenagem
O artista plástico recebeu algumas homenagens nos últimos anos. Uma delas foi o lançamento do documentário ‘Laurimar e outras lendas’, produzido em 2010 pelos autores Miguel Ângelo, Chico Caprário e Bob Barbosa.
Outra homenagem foi a criação do Museu Virtual da Amazônia Laurimar Leal (MUVALL), inaugurado em 2023 no Instituto Cultural Boanerges Sena, em Santarém.
O espaço tem o intuito de divulgar o trabalho do artista e suas obras podem ser acessadas mediante a compra de um ingresso virtual (preço sob consulta), para manutenção da plataforma virtual. Uma justa e honrosa homenagem em vida do artista plástico mais completo da região amazônica
*Com informações do artigo ‘O baú do Laurimar: documentos biográficos e narrativas da cultura em Santarém/PA’, de Luciana Gonçalves de Carvalho, Osinaldo Raphael Lima dos Santos Filho e Elber Norton Souza dos Santos; e do MUVALL
