Iphan apresenta plano de salvaguarda do Ritual Yaokwa ao povo Enawenê Nawê em Mato Grosso

A proteção desse bem cultural imaterial indígena contribui para a preservação de seus costumes e tradições.

Foto: Reprodução/Iphan

Uma das principais responsabilidades do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é promover a continuidade, a valorização e a transmissão de manifestações culturais às futuras gerações. Entre os dias 1º e 5 de dezembro, a equipe do Iphan em Mato Grosso realizou uma série de palestras e oficinas voltadas para o povo Enawenê Nawê, em Juína (MT), para apresentar o Plano de Salvaguarda do Ritual Yaokwa, principal cerimônia da etnia.

Durante esses cinco dias, lideranças indígenas e parceiros da salvaguarda participaram de oficinas que abordaram ações destinadas a difundir os conhecimentos associados a esse costume. Em 2011, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) incluiu o Ritual Yaokwa na Lista do Patrimônio Cultural Imaterial que Requer Medidas Urgentes de Salvaguarda, destacando sua importância e a necessidade de proteção.

Coordenado pela equipe técnica do Iphan-MT, o Plano de Salvaguarda foi elaborado em 2023 de forma colaborativa, envolvendo tanto técnicos do Instituto quanto membros da comunidade indígena, que contribuíram com suas demandas e perspectivas para o fortalecimento do ritual.

Entre os temas debatidos durante as oficinas, destacou-se a proposta de transferência do ritual da Lista de Salvaguarda Urgente — voltada a grupos que ainda enfrentam desafios na mobilização para preservar o bem cultural — para a Lista Representativa da Unesco.

Para o cacique Kolareene Enawene “a mudança de lista é mais uma proteção que vai mostrar para o mundo inteiro o ritual da cultura do povo Enawênê Nawê”. Durante as oficinas, foi apresentado o formulário de candidatura do Ritual Yaokwa referente à mudança da Lista de Salvaguarda Urgente para a Lista Representativa.

O ritual

Com duração de sete meses, o Ritual Yaokwa define o princípio do calendário anual Enawênê, quando os homens saem para a realização da maior de suas pescas – a pesca coletiva de barragem. O ritual estende-se durante o período da seca, época marcada pelas interações com os temidos seres naturais do patamar subterrâneo, os Yakairiti. Na perspectiva nativa, estes seres estão condenados a viver com uma fome insaciável e precisam dos Enawênê Nawê para satisfazer seu desejo voraz por sal vegetal, peixe e outros alimentos derivados do milho e da mandioca.

O Ritual Yaokwa inicia-se em janeiro, com a colheita da mandioca e a coleta das matérias-primas, casca de árvore e cipó, para a construção do Mafa – corpo central das armadilhas de pesca que deve ser acoplado às barragens a serem construídas nos rios. Neste período, realizam-se as primeiras oferendas de alimentos, cantos e danças aos Yakairiti.

O ritual é reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil desde 2010 e foi revalidado pelo Conselho Consultivo do Iphan em novembro de 2024. A revalidação está relacionada a bens imateriais que já são reconhecidos pelo Iphan e tem o objetivo de avaliar a atual situação desses bens, levantar informações, averiguar a efetividade das ações de salvaguarda, verificar mudanças nos sentidos e significados atribuídos ao bem, entre outras questões.

*Com informações do IPHAN

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