Guaraná Andrade figura como parte do patrimônio industrial e cultural de Manaus, sendo constantemente relembrado em publicações e pesquisas. Foto: Reprodução/Manaus de Antigamente
Entre as bebidas industrializadas, os refrigerantes ganham destaque por sua variedade. Muitas marcas surgem e desaparecem ao longo do tempo e, entre elas, existem algumas que mexem com a memória afetiva das pessoas, como o Guaraná Andrade. E ele ocupa um lugar relevante na história industrial de Manaus (AM).
A bebida surgiu no início do século XX, quando a cidade vivia uma fase de expansão urbana e comercial, e se tornou um dos primeiros refrigerantes regionais à base de guaraná. Pesquisas da Embrapa afirmam que a produção do Guaraná Andrade em Manaus teve início em 1907.
“No início do século 20, em 1905, a elaboração de método de processamento do fruto para produção de extrato de guaraná, por um médico do Rio de Janeiro, possibilitou o uso como ingrediente na indústria de refrigerantes. A primeira fábrica de refrigerante de guaraná no Brasil foi estabelecida em Manaus, a partir de 1907, com o Guaraná Andrade que existiu até a década de 1970”, detalha a pesquisa.
📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp
A fábrica que produzia o Guaraná Andrade estava situada originalmente na Rua Dr. Leovigildo Coelho e era propriedade dos irmãos portugueses António Ribeiro d’Andrade e Alberto Ribeiro d’Andrade, que chegaram à cidade no final do século XIX. O empreendimento evoluiu com maquinário movido a combustível inglês e tratamento da água para a produção, conforme registros históricos.
Entre os feitos da marca, consta o envio de seus produtos a exposições internacionais, como as de Bruxelas, na Bélgica (1910), e Turim, na Itália (1911), o que indica que o Guaraná Andrade alcançou reconhecimento além do mercado local. A produção, no entanto, funcionou até aproximadamente o final dos anos 1970.
Hoje, o Guaraná Andrade figura como parte do patrimônio industrial e cultural de Manaus, sendo constantemente relembrado em publicações e pesquisas que abordam a história das bebidas regionais.
Leia também: Refrescante: refrigerantes feitos na Amazônia que você talvez não conheça
A inovação industrial do Guaraná Andrade em Manaus
Durante a virada do século XIX para o XX, Manaus vivia um ciclo de prosperidade relativo à borracha, o que gerou investimentos em infraestrutura urbana e indústrias. Nesse contexto, a produção de refrigerantes regionais se inseriu como uma atividade complementar ao mercado local.
E a fábrica da marca Guaraná Andrade teve o papel pioneiro. Além da modernização dos processos de fabricação — como o uso de água filtrada ou destilada — e da busca por qualidade, a marca aproveitou a matéria-prima regional: o guaraná, planta nativa da Amazônia, que tinha significado tanto cultural quanto econômico para o estado do Amazonas.
Leia também: Além do sabor: confira os impactos econômicos e culturais do guaraná
Esse pioneirismo ajudou a inserir o Estado do Amazonas no cenário industrial brasileiro de bebidas, ainda que o mercado nacional fosse dominado por grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro.
Visita de Álvaro Maia à fábrica do Guaraná Andrade

A visita do interventor Álvaro Maia à fábrica do Guaraná Andrade, em Manaus, ocorreu durante o período em que ele exercia a função de interventor do estado do Amazonas. Na ocasião, a direção da fábrica preparou uma recepção formal, com decoração especial, painéis e vitrôs que destacavam a importância do empreendimento para a economia local. O evento representou um momento simbólico de aproximação entre o poder público e a indústria regional.
Durante a visita, o sócio-químico da fábrica, senhor Francisco Cunha, realizou uma demonstração prática do preparo do refrigerante à base de guaraná, apresentando os processos de fabricação e explicando as etapas de produção ao interventor. Essa demonstração teve como objetivo evidenciar o nível de modernização e a qualidade técnica da produção do Guaraná Andrade, que já se destacava no mercado amazônico pela inovação e pelo uso de matéria-prima local.
Fotografias da época registram a solenidade organizada especialmente para receber Álvaro Maia, com a presença de funcionários e convidados. O encontro teve caráter institucional, funcionando também como uma espécie de inspeção e de reconhecimento público da importância da fábrica para o desenvolvimento industrial de Manaus.

A visita de Álvaro Maia à Guaraná Andrade consolidou a imagem da marca como símbolo de progresso e de valorização da produção amazonense. O evento reforçou a integração entre o governo e as iniciativas privadas locais, mostrando que o Guaraná Andrade não era apenas uma bebida popular, mas também um exemplo de empreendimento pioneiro que contribuiu para a formação da identidade econômica e cultural de Manaus no século XX.
Declínio e legado da marca

Com o passar dos anos, a produção do Guaraná Andrade em Manaus passou por mudanças e, eventualmente, foi encerrada. Fontes indicam que a fábrica funcionou até a década de 1970. Registros históricos apontam que a produção foi mantida até 1979.
O encerramento pode ser compreendido em um contexto mais amplo de consolidação industrial, fusões de empresas e competição acirrada no setor de refrigerantes, que beneficiou grandes marcas nacionais. A produção local de bebidas regionais em Manaus encontrou dificuldades de escala, logística e competitividade frente a marcas de fora.
Apesar do fim da produção, o Guaraná Andrade mantém presença simbólica entre os manauaras que se lembram da bebida e de sua relevância histórica. Propagandas antigas da marca, peças de arquivo e o registro em acervos digitais já fazem parte da memória coletiva da cidade.

Importância para a história regional
A marca Guaraná Andrade não é apenas uma bebida, mas um capítulo importante da história industrial de Manaus e da região amazônica. A própria plantação e o beneficiamento do guaraná estão intimamente ligados ao ambiente amazônico e à cultura indígena. O guaraná era consumido por povos indígenas antes da colonização e, a partir do século XX, passou a ser explorado comercialmente como insumo industrial.
Leia também: Saiba como o guaraná se tornou símbolo da cultura de Maués
Em Manaus, a presença da Guaraná Andrade revela que a cidade não era apenas portuária ou extrativista — também havia um ambiente de produção industrial, com fábricas, máquinas, distribuição, publicidade e participação em exposições internacionais. Esses elementos ajudam a compreender o desenvolvimento urbano e econômico da capital amazonense, contrastando com visões centradas apenas no ciclo da borracha.
