Escola Saldanha Marinho: prédio secular em Manaus permanece em transformação

O que começou com o objetivo de educar, segue após mais de um século. O prédio, cuja história teve início como escola, agora segue sendo transformado em um local onde a cultura terá mais espaço no Centro de Manaus.

Foto: Alailson Santos

O Centro Histórico de Manaus (AM) conta com muitos prédios seculares que guardam a memória da construção da cidade. Um deles é o da Escola Estadual Saldanha Marinho, cuja história começa em 2 de janeiro de 1901 com a instalação da então ‘Escola Modelo’, criada para implantar um novo conceito de ensino primário na capital amazonense.

Esse estabelecimento de ensino foi fundado durante o governo de Silvério Nery e logo se tornou conhecido como ‘Escola Modelo’ da rua Saldanha Marinho. A instituição funcionou por pouco tempo, somente até 1904, quando foi extinta.

No último ano de atividade, dividiu suas instalações com a Escola Normal, atual Instituto de Educação do Amazonas (IEA), que permaneceu no local até 1907.

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Pouco depois, em 1908, a instituição voltou a abrir suas portas, já sob o nome de Grupo Escolar Saldanha Marinho, retomando suas atividades no mesmo endereço.

Primeiras décadas de funcionamento

O local ganhou os holofotes mais uma vez em 2025, reforçando a importância de sua história. O Grupo Escolar Saldanha Marinho foi dirigido inicialmente pela professora Júlia Bittencourt. Entre os anos de 1910 e 1913, o prédio também recebeu a Escola Universitária Livre de Manáos. Nesse período, as aulas das duas instituições eram realizadas em horários diferentes, de forma a possibilitar a utilização compartilhada do espaço.

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O prédio passou por diversas reformas ao longo do tempo, sendo praticamente reconstruído em 1957. Foi nesse ano que adquiriu grande parte das características arquitetônicas que mantém até os dias de hoje.

Três décadas mais tarde, em 1988, o edifício localizado na rua Saldanha Marinho, nº 717, recebeu o título de Monumento Histórico do Estado, conforme o Decreto nº 11.191, de 14 de junho daquele ano.

O tombamento do prédio da Escola Saldanha Marinho garantiu a preservação de uma parte relevante da história da educação no Amazonas. O reconhecimento oficial reforçou a importância da instituição, que por décadas atendeu alunos da região central de Manaus e se tornou referência no ensino primário.

Em fevereiro de 1998, já no governo de Gilberto Mestrinho, a escola foi reformada novamente. O prédio passou a contar com seis salas de aula, organizadas em apenas um pavimento, e oferecia exclusivamente o Ensino Fundamental.

Escola Saldanha Marinho em dia de aula no início do século XX. Foto: Reprodução/Centro Cultural dos Povos da Amazônia (CCPA)

Durante mais de um século, o espaço acompanhou diferentes fases da cidade, desde o ciclo da borracha até os períodos de modernização urbana. Sua arquitetura, marcada por reformas e adaptações, mantém elementos originais que remetem ao início do século XX.

Apesar de seu papel histórico e educacional, o Grupo Escolar foi desativado em 2017. A partir de setembro de 2021, a responsabilidade pelo prédio deixou de ser da Secretaria de Educação (Seduc) e passou para a Secretaria de Administração (Sead).

Transformação em núcleo do Hemoam

Em outubro de 2021, a Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM) divulgou que o prédio da escola passaria para a Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam). Em janeiro de 2024, foi anunciado que o prédio seria adaptado para sediar uma nova unidade da Fundação.

De acordo com informações divulgadas à época, o espaço receberia o nome de ‘Hemoam Saldanha Marinho’. O local passaria a funcionar como um núcleo descentralizado de coleta de sangue, além de oferecer serviços de coleta para exames laboratoriais. A expectativa inicial era que o espaço fosse entregue ainda no primeiro trimestre de 2024.

Foto: Alex Pazuello

Casarão de Ideias

No entanto, em fevereiro de 2025, o Centro Cultural Casarão de Ideias (CCCI) anunciou o restauro e reforma do local. A ação foi concretizada por meio de um convênio com a Secretaria de Administração (Sead) do Amazonas.

Segundo o diretor do Casarão de Ideias, João Fernandes, a proposta da instituição, de caráter privado, já era um desejo antigo e concretizá-lo se tornou parte da comemoração de 15 anos de existência do CCCI.

O diretor explicou que o interesse pelo prédio vinha desde 2021, quando o espaço ainda estava cedido ao Hemoam, mas sem avanços no projeto de utilização.

“O Casarão já tinha interesse desde 2021 e, naquela época, o prédio estava cedido para uma ação que seria do Hemoam. Só que, nesses casos de concessão do poder público, a instituição beneficiada precisa apresentar um planejamento de ações em até dois anos — as etapas, o andamento da obra, tudo. O Hemoam não cumpriu esse prazo. Como já tínhamos uma carta de intenção, o prédio voltou a ser nos oferecido e reafirmamos nosso interesse. Qualquer instituição da sociedade organizada pode pleitear uma edificação do poder público que esteja sem utilização”, explicou Fernandes ao Portal Amazônia.

Foto: Alailson Santos

Fernandes conta que, ao receber o prédio, a equipe do Casarão encontrou uma estrutura bastante deteriorada. “O prédio estava bem danificado. Foram mais de dez anos desocupado, e nesse período houve roubos de materiais. Mexeram no telhado, e com as chuvas todo o assoalho e o piso ficaram danificados. Como se trata de um prédio histórico, parte das grades, adornos, portas e fios também foram levados. Então, quando nos foi repassado, a situação era bem difícil nesse sentido”, disse.

Sobre o andamento da obra, Fernandes informou que não há um mês definido para a conclusão, mas confirmou que a inauguração está prevista para ocorrer já em 2026.

“A obra já está bem avançada, mas ainda não temos um mês certo. O que podemos afirmar é que 2026 será o ano de inauguração do espaço. Durante a reforma, descobrimos modificações feitas ao longo da história do prédio e estamos devolvendo alguns aspectos originais, como o tamanho das janelas. Também mantivemos partes estruturais de madeira e telha para que as pessoas possam ver. Fizemos janelas de tempo no piso, mostrando como a estrutura era em outros momentos. Tudo isso está sendo feito com cuidado”, completou o diretor do Casarão de Ideias.

O Portal Amazônia também procurou o Governo do Amazonas em busca de um posicionamento atualizado sobre a situação do prédio e aguarda retorno.

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