Brasil pode ter filme dirigido por um cineasta indígena pela primeira vez no Oscar

O documentário ‘Mãri hi – A Árvore do Sonho’ foi selecionado para a pré-lista do IDA Documentary Awards. Premiação é considerada a porta de entrada para o Oscar.

O documentário ‘Mãri hi – A Árvore do Sonho’ pode ser o primeiro filme dirigido por um cineasta indígena a representar o Brasil no Oscar. O curta do diretor Yanomami Morzaniel Ɨramari venceu o ‘É Tudo Verdade’, festival classificatório reconhecido pelo Oscar, e disputa uma indicação à maior premiação do cinema na categoria de curta-documentário.

O filme estreou internacionalmente no Sheffield Doc Fest no Reino Unido e conquistou diversos prêmios nacionais como ‘Melhor Fotografia’ e ‘Especial do Júri’, no 51º Festival de Gramado 2023 (Brasil). Foi exibido na ‘Mostra Cinema de Inclusão’ do 80º Festival de Veneza, no ‘Festival Internacional de Cine de Valdivia’ (Chile), e classificado para a restrita pré-lista da ‘International Documentary Association (IDA) Awards’.

O cineasta Morzaniel Iramari Yanomami, da região do Demini, na Rio+20. Foto: Claudio Tavares/ISA

Único representante brasileiro na lista do IDA Awards, Mãri hi convida a uma imersão na poética e nos ensinamentos dos povos da floresta pelas palavras do grande xamã Yanomami, Davi Kopenawa. O filme foi realizado na casa coletiva de Watorikɨ, na região do Demini, na Terra Indígena Yanomami (TIY), situada entre os Estados de Roraima e Amazonas.

A obra é uma produção Aruac Filmes em coprodução com a Hutukara Associação Yanomami e produção associada da Gata Maior Filmes, e integra o projeto “A Queda do Céu”, que conta com a produção de um longa-metragem livremente inspirado na obra homônima de Davi Kopenawa e Bruce Albert.

“O filme vai ajudar a fazer com que não-indígenas conheçam o povo Yanomami, conheçam as nossas imagens e comecem a pensar junto com os Yanomami para defender a terra e melhorar a saúde do nosso povo. Espero que todos possam defender o povo Yanomami, nos ajudar a viver em paz, livres de invasores e com boa saúde”,

afirma Ɨramari.

“Mãri hi” também será exibido com outras produções brasileiras que lutam por uma indicação ao Oscar, como ‘Retratos Fantasmas’, de Kleber Mendonça Filho (‘O Som ao Redor’, ‘Aquarius’, ‘Bacurau’), ‘Incompatível com a Vida’, de Eliza Capai, e ‘Big Bang’, de Carlos Segundo, nos cinemas da Academia em Los Angeles durante o 15th Hollywood Brazilian Film Festival, que ocorre entre 6 e 11 de novembro.

Morzaniel Ɨramari 

Morzaniel Ɨramari Yanomami nasceu na década de 1980 na comunidade Watorikɨ, na região do Demini. Ele trabalhou como Coordenador de Comunicação na Hutukara Associação Yanomami e foi formado em 2010 no projeto Pontos de Cultura Indígena – Vídeo nas Aldeias.

O interesse por registrar a história do seu povo iniciou quando diversos jornalistas e cinegrafistas estiveram na comunidade Watorikɨ para entrevistar o xamã Davi Kopenawa. À época, em 1995, a demarcação da Terra Indígena Yanomami havia sido oficializada há três anos.

Além de cineasta, ele trabalha como intérprete e tradutor. Atualmente, Morzaniel viaja o Brasil e o mundo para exibir as suas produções sobre a história e cultura do povo Yanomami. 

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