Belém sediou o primeiro hospital psiquiátrico da Região Norte no Ciclo da Borracha

A construção do patrimônio foi uma tentativa de isolar o problema de saúde pública, escondendo as pessoas diagnosticadas com doenças mentais.

Dentre tantos bairros que existem em Belém, o hoje bairro Marco pode ser considerado um dos principais por ter colaborado com o crescimento da capital paraense. A cidade, que possui um vínculo com a realeza, recebeu o nome Marco após ter sido erguido um monumento alusivo à primeira légua patrimonial, doada por ordem real entre o século XIX e início do século XX.

Era na época do  ‘ciclo da borracha’ (1879 e 1912) e em Belém havia um grande tráfego de pessoas. Com a construção da estrada de ferro que passava entre Belém e Bragança, a cidade de Marco era conhecida como o ponto de entrada para acessar Belém. Inclusive foi idealizada a construção da prefeitura de Belém no local onde foi posta a escultura conhecida como Marco de Légua.

Atualmente, o monumento fica localizado em frente ao Centro de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade do Estado do Pará (CCBS/Uepa), na Avenida Almirante Barroso, que em 1898 era conhecida como Avenida Tito Franco. 

Um detalhe curioso em toda essa história é que o local também já funcionou como um hospital psiquiátrico.

Marco de Légua. Foto: Reprodução/ Belém Antiga

O bairro se mantém em um padrão socioeconômico de classe média e classe média alta. Mas, anos atrás, Marco também era conhecido como um “depósito” de pessoas com transtornos mentais. 

Em 1892, foi construído o ‘Asilo dos Alienados’, onde hoje é o CCBS/Uepa. A construção desse patrimônio foi uma tentativa de isolar o problema de saúde pública, escondendo as pessoas diagnosticadas com doenças mentais. Segundo estudiosos, o ‘Asilo dos Alienados’ é um dos hospícios mais antigos do país e o primeiro a ser construído na Região Norte.

Diversas denúncias contra o local foram feitas, com relatos de casos de tortura e perseguição que aconteciam em segredo. Com o tempo, foi transformado em manicômio judicial. 

Gerando revolta entre os internados, como símbolo de resistência, em 1961 houve uma rebelião que ficou conhecida como ‘Revolta dos Loucos’, sem apoio da polícia local. 

Em 1982 um incêndio destruiu parte do prédio, e alguns anos depois seus portões foram definitivamente lacrados. A construção, referência e testemunho de anos de história de Belém foi demolida. 

Todo esse acontecimento histórico foi em frente ao Monumento do Marco da Légua, que posteriormente foi tombado pelo Departamento de Patrimônio do Estado do Pará.

Hospital Asilo dos Alienados. Foto: Reprodução/ Belém Antiga

Outro ponto importante para a história do bairro Marco é o Bosque Rodrigues Alves, idealizado pelo intendente Antônio Lemos, responsável por diversos projetos urbanísticos, inclusive a ‘Usina de Cremação’.

Impulsionado pelo projeto ‘Belém da Belle Époque’, em 1882 Lemos recriou o bosque francês Bois de Boulogne. Por isso lá há traços arquitetônicos de estética francesa. Inicialmente, se chamava Bosque Municipal do Marco da Légua. A inauguração oficial foi em 1905 e o nome atual é uma homenagem ao presidente Francisco de Paula Rodrigues Alves (1902 a 1906).

Em frente ao Bosque e próximo ao monumento, existe um casarão que foi construído a mais de 100 anos. O casarão pertenceu a Amyntas de Lemos, homem que ficou popularmente conhecido após ajudar a construir o Edifício Manoel Pinto e parte dos trilhos da estrada de Bragança. 

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