Foto: Divulgação
De São Gabriel da Cachoeira, no coração do Rio Negro, no Amazonas, o artista Paulo Desana costuma colocar as raízes ribeirinhas e indígenas nas suas obras. Esse é o caso do projeto ‘Banho de Rio‘, que utiliza a arte de Paulo para revelar a vida cotidiana das comunidades amazônicas.
A exposição é um mergulho visual nas memórias e experiências que Paulo vivenciou em suas viagens pelas margens dos rios de sua terra natal. ‘Banho de Rio’ apresenta fotografias que capturam momentos de pura conexão com a natureza, especialmente nas cenas em que crianças brincam e se divertem nas águas dos rios, refletindo um modo de vida profundamente ligado à floresta e aos ciclos naturais.
A inspiração do fotógrafo surgiu de suas próprias memórias de infância, quando, assim como as crianças que ele fotografa, corria descalço pela margem do rio, cavava o barro de tabatinga e deslizava até as águas. “As crianças indígenas, com seus sorrisos largos e olhos brilhantes, correm descalças pela margem, deixando leves pegadas na terra úmida”, descreve o artista em um dos textos que acompanha a exposição. Cada fotografia é uma tentativa de eternizar esses momentos de simplicidade e alegria, revelando a harmonia entre o ser humano e a natureza.
Nas imagens, é possível sentir a pureza dos risos ecoando pela mata, as canoas atravessando o rio, e o encantamento com a água que parece envolver as crianças em um abraço familiar. “No rio, encontram não apenas diversão, mas também uma sensação de pertencimento e liberdade que só aquele ambiente pode proporcionar”, afirma Paulo.
Desana revela que um dos maiores desafios ao realizar esse trabalho foi capturar a essência do momento sem interromper a espontaneidade das crianças. “O desafio é sempre que eles não percebam, para que elas fiquem à vontade, brincando, correndo, rindo, se divertindo”, comenta o fotógrafo. Esse esforço de invisibilidade busca preservar a naturalidade das interações, permitindo que a intimidade e a conexão com o rio se revelem de forma autêntica nas fotografias.
Além de retratar as crianças, Paulo também captura a rotina das mulheres, que, enquanto lavam roupas nas pedras, observam seus filhos e sobrinhos brincarem nas águas. Esses momentos simples do cotidiano ribeirinho são apresentados na exposição com uma sensibilidade que remete à própria infância do artista, evocando uma saudade dos tempos em que ele próprio fazia parte dessas cenas.
‘Banho de Rio’ propõe uma reflexão sobre a relação entre o ser humano e o meio ambiente, sobre como a infância nas comunidades ribeirinhas é moldada pelo contato com a natureza, e como esses momentos são fundamentais para a construção de identidades e memórias. Paulo Desana busca, por meio de sua arte, resgatar essas vivências e eternizar a infância que o rio, em sua memória, guarda com carinho.
Com uma abordagem delicada e nostálgica, a exposição desperta questionamentos sobre a preservação dessas comunidades e dos ecossistemas que as sustentam. Paulo Desana nos lembra da importância de preservar não apenas o rio, mas também as memórias e tradições que ele carrega ao longo de suas águas.
Onde conferir a exposição?
As obras de Paulo Desana estão expostas na Galeria do Largo de São Sebastião, localizada na Rua 10 de Julho – Centro de Manaus (AM). A galeria funciona de quarta-feira a domingo, das 15h às 20h.
*Com informações da SEC-AM