Peças são feitas de forma manual com galhos e ouriços de castanhas. Francisca, seu marido e os outros seis filhos são os únicos habitantes da comunidade, que só pode ser acessada por barco.
Viver da floresta Amazônica sem derrubar nenhuma árvore é o que faz uma família de artesãos que mora dentro da Reserva Extrativista (Resex) Lago do Cuniã, na região do Baixo Madeira em Porto Velho.
Juntos, eles transformam restos de árvores e frutos em peças exclusivas de madeira. E a inspiração? É a própria natureza.
De acordo com a artesã Francisca Pinho, a inspiração para transformar restos de matérias-primas em arte surgiu de uma maneira simples. Enquanto ela e o marido trabalhavam no quintal de casa, a filha mais velha cuidava dos irmãos.
A jovem aproveitava esse tempo para pegar galhos e fiapos de madeira e moldá-los em formas de animais. Esse gesto despertou na família, a inspiração para começar a customizar estátuas de madeira.
“Qualquer tipo de pedaço de madeira e de ouriço de castanha, por exemplo, a gente pega para moldar e surge uma arara, um jacaré, um papagaio. A ideia vem da nossa mente mesmo e todo mundo ajuda”,
explica a artesã.
A confecção das peças é totalmente manual e requer apenas utensílios simples: uma faca, cola, tinta e o principal: os pedaços e galhos de madeira que caem pelo quintal.
Além disso, os ouriços, após a extração das castanhas, também são reaproveitados e se transformaram em kits de cozinha.
Embora todos na família tenham habilidade na confecção das peças, o processo de customização é demorado, pois não dependem exclusivamente do artesanato.
Na local, dedicam-se também ao plantio, colheita de frutos, produção de farinha e doces, como pé de moleque.
As estátuas geralmente são feitas por encomenda e os clientes são os próprios moradores das outras comunidades. Jacarés, pirarucu e papagaios são os queridinhos. Além disso, na residência da família, há uma lojinha com peças disponíveis a pronta entrega.
Há mais de 20 anos, a família vive praticamente “isolada” na comunidade de pupunhas, dentro da Reserva Extrativista. Francisca, seu marido e os outros seis filhos são os únicos habitantes da comunidade, que só pode ser acessada por barco.
Apesar das dificuldades em percorrer mais de 50 quilômetros até Porto Velho para exames e consultas médicas, a artesã expressa seu amor por viver no local, pela tranquilidade e paz que sente e não pensa em mudar para a cidade.